Confissões de um ex-seminarista

Não sei se pobre ou rico de mim, entrei no seminário com 16 anos. Um moleque!

Perguntam-me se era vocação, homosexualismo, carência financeira e várias outras coisas.

Confesso que na maioria das vezes não sei responder; aliás uma coisa sei responder: _Sempre fui e sempre serei varão! (sem preconceitos).

Acredito que ingressei no seminário por aventura. Sempre fui curioso em busca do novo. Nunca tive medo. Sempre entrei em todos os palcos!

No seminário, as vezes, quando o padre formador dizia em suas longas e pesadas homilias que devíamos ter os olhos fitos no senhor, eu me encontrava com os olhos e coração fitos em um rabo-de-saia.

Era ela o meu primeiro e forte amor. Por sinal ela tinha o nome de uma flor: "Kendra" (flor de origem africana).

Não se podia ter celular naquele lugar mas, eu, movido pelo desejo ardente de ter contato com esta flor sul africana, dia e noite, comprara um aparelho simples (com dinheiro de meus padrinhos) para manter contato com a amada.

Mantinha meu "novo-velho" aparelho sempre no modo silencioso. Usava o sanitário todo o momento que sentia vibrar o celular em sinal de nova mensagem. Era ela!

Deixava a aula insuportável de latim do Padre Magalhães (um velho que viveu muitos anos na África e que era muito tradicionalista) e corria banheiro adentro com o coração acelerado e ansioso em saber o que ela, agora me escrevera. Como era bom tudo isto!

Hoje já não mais vivo no seminário. Mas aqui fora não encontrei, ainda, um amor que me fizera ser tão ligeiro e esperto como o da linda flor sul africana dos olhos azuis chamada Kendra. "...intho the heart..."

Samuel Humberto Rocha (sartre)
Enviado por Samuel Humberto Rocha (sartre) em 18/05/2009
Código do texto: T1600162