15

Já faz mais de um ano que eu a conheci.

Foi numa noite de vento, no dia 15 de maio, ela fora com algumas amigas assistir a um espetáculo, e por desejo do destino eu sentei do seu lado. Talvez o desejo não tenha sido exatamente do destino, e sim de Taís, minha colega de sala de aula, que ao me avistar, chamou-me para sentar perto dela e de suas amigas, que eu completamente desconhecia.

Sentei ao lado de uma menina tímida, de cabelos negros e lábios detalhadamente esculpidos pelo Criador até atingir a perfeição. Ela sorriu ao me dizer oi, e então abaixou a cabeça com timidez, retribui-lhe com uma saudação jovial qualquer e passamos a assistir o espetáculo, que nada tinha de grandioso, pois consistia num show de rock de uma banda local sobre um palco minúsculo.

Durante o show fiz alguns comentários engraçados à menina ao meu lado, falhei-lhe sobre o tamanho diminuto do palco, a falta de afinação da voz do cantor, e a provável idade septuagenária do tecladista (que várias vezes confundi-me e chamei de baixista). Todas as vezes em que expressei algum comentário, fiz durante a execução de alguma música, portanto fui “forçado” a ficar mais próximo da menina, falei-lhe ao pé do ouvido, e desfrutei daquele momento para sentir o aroma delicioso que os fios negros dela produziam. Para mim era como se aquela garota transpirasse paixão.

Eu estava tão cego de amor que nem percebi que a menina passara o show inteiro falando comigo, mas apenas respondendo aos meus comentários, e sem dirigir-me um novo assunto ou olhar algum.

Quando o show acabou, despedi-me de Taís e de todas as suas amigas, inclusive aquela menina, cuja identidade irei preservar. Fora doloroso dizer tchau para ela, talvez eu nunca mais a visse depois daquela noite, e eu era tímido demais para pedir a ela seu telefone ou msn, imagine então para pedir um beijo, o que meu íntimo mais desejava. No abraço de despedida que dei nela, inspirei o ar e fiquei sem respirar o máximo de tempo possível, era minha infantil tentativa de guardar o aroma dela em minha memória.

Passaram os dias, as semanas, e cerca de dois meses depois, Taís convidou-me para ir a sua casa, onde estariam também algumas de suas amigas. Foi no dia 15 de julho que eu entrei na casa de minha colega e saudei todos os presentes. Diante dos desconhecidos tentei dissimular minha radiante alegria em encontrar a menina do cabelo escuro, mantive-me insensível, limitando nossa troca de cumprimentos a monossílabos.

A tarde passou, e por todo tempo fiquei próximo da menina, não tanto quanto meu coração gostaria, é verdade, mas era o suficiente para vislumbrar sua beleza delicada e sutil. Num momento de sorte, vi uma oportunidade, Taís chamara todos os convidados para o pátio de sua casa, e quando a menina dos fios negros fez menção de mover-se, segurei-a pelo braço, o mais delicado que pude.

- Você tem um minuto? – perguntei, com nervosismo.

- Sim – respondeu a menina, um pouco assustada pelo modo como eu falara com ela.

Estávamos a sós, eu e ela, aquele era o momento perfeito para que eu revelasse o que sentia, mas não só meu pudor me impedia de falar-lhe, como seus lábios me hipnotizavam, clamando por um beijo. Fechei meus olhos e avancei para o beijo, imaginando que a menina faria o mesmo, e o resultado foi desastroso.

Tal qual um toureiro que puxa sua capa e deixa o touro passar, a garota desviou para o lado e choquei-me com uma parede fria. Minha dor física fora intensa, mas mais cruel fora a dor que senti ao abrir meus olhos e não vê-la novamente, a menina ficara horrorizada com minha estupidez e partira.

Hoje, mais de um ano depois, compreendo o que aconteceu. Eu conheci a menina num dia quinze e a perdi em outro dia quinze, fatos de uma época em que eu tinha quinze anos, e, para finalizar, depois de alguns cálculos descobri que aquela fora minha décima-quinta decepção amorosa. A culpa é toda do número 15.

Nunca mais voltei a ver a menina do belo cabelo negro, e confesso que já esqueci o aroma dos fios dela, mas o que eu senti por aquela menina, carrego sempre comigo, gravado em minha alma.

Obs.: O eu-lírico também nasceu num dia 15.

K R Hoehr
Enviado por K R Hoehr em 17/05/2009
Código do texto: T1599000