FERIDA

Era mais um final de semana. Como outro qualquer. Meus amigos, sentados na mesa de bar, riam das confusões e colas nas provas da escola. Como todo adolescente faz. Eu me sentia muito feliz. Aliás, amigos são sempre bons, nos momentos certos. Nós, ao redor da cerveja e conversas, esquecemos-nos um pouco da rotina escolar e relaxamos. Para, na segunda, voltar aos estudos. E ouvir aquelas chatas aulas de Matemática e contar para as amigas os romances vividos nas noites anteriores. Como sempre é. Mas desta vez não foi assim. Distraída, não percebi quando você chegou na mesa do bar. Eras lindo, confesso-te. Mas não te conhecia. Não me lembro se havia te visto nos passeios à praia, nas festas ou em outro lugar. Nem mesmo na escola, pela manhã. Talvez estudasse em outro colégio. Então, como poderia conhecer tão bem meus amigos que estudam comigo? Também não me toquei nisso. Você era o melhor amigo do crânio da sala. Dava para perceber pelo jeito que vocês se cumprimentaram. Achei que fosse só mais um integrante, que acabava de entrarpara o clube dos que só querem curtir a vida numa boa. Mas não foi assim. Você olhou para mim com aqueles olhos verdes e sorriu. Um sorriso brilhante como a mais intensa estrela do céu. Puxou uma cadeira e sentou ao meu lado com um papo super legal. Era só mais um ficante dos muitos que já tive, sem nenhum compromisso. Você não parava de me olhar. Tocava em meu rosto com uma mão doce e macia. Sussurrava em meu ouvido. Eu, chega pela escuridão da noite e alucinada pela bebida no copo, não pensei em nada e fiquei contigo. Sabia que não era nada sério. Apenas mais um. Você me beijou e na ilusão do álcool, beijei-te também. Para mim, outro romance qualquer. Mas não foi assim. Lá no fundo da minha cabeça havia um neurônio, dentre os vários desconectados, que recebeu a mensagem e enviou paratods as partes do meu corpo. E o receptor que mais decodificou essa mensagem foi justo o meu coração. Abri, então, os olhos e vi dois outros, verdes como as águas calmas de um frio lago em tardes de outono. Avistei uma boca que convidava aos mais preciosos desejos da carne humana. Vi alguém que é destinado para encontrar outro alguém e, juntos, formarem um só ser. Alguém que nasce no mundo com a missão de te encontrar. Eu vi meu grande amor.

Foi esquisito sentir aquela "coisa" que nunca tive. É algo estranho. As mãos ficam frias e suadas, o coração dispara, as pernas tremem, os olhos enchem-se de lágrimas. è como uma onda que se forma em alto-mar e vai ganhando volume e rapidez, até chegar à praia, onde quegra e arrebenta os pedregais ao longo da areia. É como um vulcão adormecido, que dorme resignadamente, e quando menos se espera, vem de dentro uma força imensa que explode na ilha, lançando fogo e brasas no céu azul. Era assim que me sentia. Como nuca me senti antes. Um novo ser. Com a capacidade de ter sensações e compreender nas coisas simples e que pareciam tão insignificantes o verdadeiro sentido do amor. Passei a te amar. Vivi para ti. Sonhei com você Meu desejo de te ter era o que me alimentava a vontade de te amar. A tau imagem era a mais bela obra de arte que o ser humano, em sua essência, já produziu. Um trabalho escupido com perfeição. Anjo divino, divino amor, amor meu.

O paraíso, ao seu lado, habitei. O meu amor por você era o mais forte e maior que existia. E eu via em seus olhos que também me amava. Seus lábios diziam a todo momento: "Te amo como nunca amei ninguém". Aqueles palavras eram suave melodia que me levava pelo ar, flutuando em ocenos intermináveis. Eu era sua e sabia que era. Daria a minha vida para não te perder. Entre viver e ter de te ver partir, escolheria, sem pensar, em entregar-te minha vida, para que aquele sorriso não deixasse de enfeitar cada dia de nossas vidas. Renunciaria a mim mesma, porém , o meu amor por você compensaria a falta que me trarias.

O nosso amor era fortaleza inabalável, que jamais cairia em ruínas. Vivíamos um mundo onde tudo era fantasia. Mas não foi assim. Na sexta, após a prova de Biologia, sai da sala às pressas. Não via a hora de encontrar meu amor. Aquele que escolhi para viver o resto da minha feliz vida. Pequei meus livros e sai pelo corredor. O sol estava se pondo. Imaginei o que teria trazido para me dar desta vez. Com que roupa estava à minha espera, no portão da escola, sobre aquela moto onde passeamos pela avenida, tamanha duas horas da madrugada, depois daquele show maravilhoso. Já bem perto do portão, vi cair algo do meu caderno. Abaixei-me para pegá-lo. Era a nossa foto, que tiramos no dia do nosso encontro naquela mesa de bar. Estavas irresistível naquela jaqueta preta. O meu príncipe. Olhando a foto, recordei-me daquele beijo revelador, que me fez ver o outro lado da paixão e me tornou uma mulher, não mais uma boba menina.

Sai na calçada e não pude acreditar no que meus olhos viram. Era você, aquele da foto, de jaqueta preta, sentado na moto, com uma rosa na mão, esperando... Outra! Mais trágico ainda foi saber quem era a outra. Minha melhor amiga. Aquela que senta do meu lado. Que faz trabalhos comigo. Que dorme na minha casa quando vamos estudar até mais tarde para a prova do dia seguinte. Aquela que garda todas as minhas confidências e segredos. Justo ela. Eu suportaria qualquer uma, menos ela. Aliás, não suportaria que nenhuma roubasse o que é meu. Mas era ela. Eu vi e não pude acreditar. Você deu minha rosa para ela. Ofereceu meu lugar na moto para ela sentar. Abraçou-a com aquela jaqueta preta. Beijou-a na boca. E na minha frente. As légrimas já rolavam há muito tempo. Meu mundo desabou naquele instante. Dentro de mim parecia haver um vazio enorme. Ainda com a foto nas mãos, fui até vocês. Mal saia do lugar, com as pernas trêmulas e o coração palpitante. Olhei bem no fundo dos teus olhos e lhe disse: "Eu não acredito nisso. só posso estar sonhando. Melhor, tendo um pesadelo. Como pôde fazer isso comigo? Como pôde ser tão infantil, a ponto de me trocar por estar que se julga ser minha melhor amiga? Eu pensei que você me amava de verdade. Que quisesse viver para sempre ao meu lado. Eu confiava em você. Seria capaz até de te dar minha própria vida. E você me apunhala tão covardemente. O que viu nela? Será que ela é melhor do que eu para me descartar assim? Eu não te amei o suficiente? Não te dei mil provas do meu sentimento? Aquilo que mais importava para mim? Diga-me : 'Eu não te amei?'". E você voltou aqueles olhos, antes verdes e com doçura, agora cheios de desprezo, para mim e me disse: "Ahah! Achou mesmo que te amava? Idiota! Eu jamais disse que te amava. E se disse foi para você se iludir, para te enganar e fazer você ficar comigo. Apenas te usei. Nunca quis nada sério. Eu quero é curtir e vocês, mulheres, servem somente para isso: serem usadas e depois descartadas." E ela ainda teve a ousadia de me dizer: "É amiga... Não se pode ganhar todas e este, querida, agora é meu!"

Aquelas palavras já não eram mais suave canção. E sim barulho ruidoso. Se ainda restava uma última gota da essência daquele amor, ela secou depois daquelas palavras torturantes. Já não havia mais esperanças. O poço havia secado. O céu desmoronado. O amor acabado. Eu baixei minha cabeça e vi pela última vez aquela foto, eternizando um momento mágico e único, que tive o prazer de me iludir e a decepção de desmascarar. Entreguei-te a foto e sai andando pela rua, com meus livros, a caminho de casa.

Hoje relembro esse amor que um dia vivi. Pensei que fosse a coisa mais minda do mundo. um sonho eterno, cheio de fantasia a juras amorosas. Agora percebo o quanto fui ingênua em acreditar no meu coração. Um coração que bate dentro do meu peito e foi capaz de tapar meis olhos para a realidade exposta da minha frente.

Escrevo-te esta carta para te dizer que você seja muito feliz e que encontre alguém que possa te amar pelo menos uma gota do ocenao que te amei. Estou sentada naquela mesma mesa de bar, sozinha, tomando cerveja, esperando que o sol nasça, e uqe desta vez meu coração tenha te esquecido e que encontre alguèm, para assim poder sentir de novo essa COISA que chamam AMAR!!!

Saulo Sozza
Enviado por Saulo Sozza em 16/05/2009
Reeditado em 17/05/2009
Código do texto: T1597168
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