Uma Carta Nada Romântica

Susanne,

Desculpe, mas não agüento mais. Quero romper!

Sim, escrevo porque você não tem dignidade suficiente para poder me encarar. Como você pôde? Eu não fiz nada!

Mas não apenas por esse motivo óbvio, o qual não ouso citar, mas outros detalhes não estavam mais fazendo que nosso amor continuasse em uma crescente. Detalhes femininos? Não, não creio que seja. Talvez fosse mesmo a falta desses detalhes que muitas vezes finalizam o relacionamento que faltou ao nosso e que por isso não se manteve contínuo.

Quer exemplos? Citarei, com desprazer, porém para seu próprio bem e de meu ex-melhor amigo também, pois não desejo o mal e sim o bem para ambos.

Bom, o principal detalhe ausente no período em que estávamos unidos foi o carinho. Carinho de namorada para namorado. Carinho de cafuné, carinho de carícias, carinho de beijinhos românticos, carinhos íntimos, carinho em forma de elogios. Eu fazia minha parte. Você reclamava que eu era “lambão”, “bobão”, “careta”. Eu não me incomodava com isso, contanto que continuasse nosso amor. Mas isso foi piorando. Sim, exatamente! Piorando!

Chegou a um ponto, um dos últimos se não me engano, em que eu não mais a acariciava e você não sentia falta alguma. Você até não sorria mais enquanto eu sorria para você. Isso sim faz qualquer um se tocar e perceber que não é bem recebido onde está e com quem está. Você foi me afastando aos poucos! Eu ansiava, no princípio, estar contigo. No final, eu ansiava o contrário: terminar logo com essa mentira.

Nem mesmo me recordo do último momento bom que desfrutamos. Poderia ser quando fomos ao cinema pela primeira vez, e nos beijamos enquanto tocava ao fundo a nossa música? Ou quando assistimos ao pôr-do-sol sentados debaixo de uma árvore, você sorrindo e eu desfrutando do momento inesquecível? Ah, você não se recordará desses momentos. Seu coração frio e sua personalidade má não a deixarão recordar de momentos assim.

Não sei quando e como aconteceu, porém não pude deixar de notar, com o tempo, que sua atitude também se transformou. Primeira vez que notei foi quando você não quis mais festejar nosso relacionamento. Fazia dois anos e três meses que estávamos juntos, festejando todos os meses a data de início de namoro. Porém você fez-se de doente, enxaqueca, e não quis sair. Eu acreditei, seria a primeira vez que não celebraríamos, mas por boa causa. Porém você feriu a data proferindo palavras rudes quando propus festejar em outro dia. Foi o primeiro sinal.

Primeiro sinal de mais seis meses e sete dias me enganando. Pura mentira os primeiros meses desse semestre. Fingia me amar enquanto amava outro. Fingia gostar da minha presença enquanto gostaria da presença do outro. Única vez nesse semestre que ficou numa festa até depois das duas da madrugada foi quando ele estava na festa. Ficou no meu aniversário até mais tarde, só porque ele também estava lá. Inicialmente não notei. Quem notaria? “Mulher de amigo meu é homem”. Se for assim, esse meu amigo é gay!

Acima de tudo escrevo esse pedido formal de rompimento por minha dignidade e por respeito a você, mesmo não merecendo esse respeito meu. Chutaria sua bunda cheia de estrias se não fosse por consideração a seus pais, tão bons que não mereciam ter uma filha assim.

Sei que você não sofrerá com nada disso, nem piedade comigo terá. Mas fique sabendo que você sentirá por isso. Você sentirá o que estou sentindo depois que souber quem é seu novo parceiro. A vingança não será de minha parte, mas você perceberá quando ela bater na tua porta.

Sinceramente,

Seu Ex