Luar

A Lua reinava alta no céu. Brilhava, Lua minguante, como a estrela mais brilhante do firmamento. Lembro-me, agora dos beijos desesperados de minha amada. Beijos dos lábios doces da virgem a qual, por aquela noite estrelada e fria, amei mais que minha vida.

Eu via o pôr- do- Sol daquele mesmo dia. Tinha uma garrafa do pior vinho em minhas mãos. Vinho com gosto de sangue. O poente do sol eu via da casa das almas e de seus corpos mortos. Meu lugar predileto. Cemitério gelado e silencioso, assim como minha alma queria ficar. Sentado sobre o túmulo de meu, recentemente falecido, amado irmão. Homem de muitas mulheres, morreu esfaqueado pelo marido de uma delas. Todos os fins de tarde, desde sua morte, eu adormecia sobre seu túmulo, esmilinguido em lágrimas de saudade.

Na tarde daquele pôr-do-sol, uma mulher de negro apareceu. O caminhar da moça com as mãos de cor mármore denunciava-me luto. Chegou ao túmulo de meu irmão, no qual eu estava sentado, ajoelhou-se e pôs-se em prantos. A fim se confortá-la, ajoelhe-me ao seu lado e conversei, consolei, fui seu melhor amigo. Seu rosto, coberto por um véu negro, era impossível de ser visto. Quando olhou para mim, roubou-me um beijo doce. Apesar da conversa, não perguntei por que, pelo meu irmão, se lamentava.

Quando saímos do cemitério, acompanhei-a até a casa dos tios dela, que viajavam. Convidou-me para entrar e, quando chegamos em seu quarto, vi seu rosto quase lívido pela primeira vez. A enchi de beijos enquanto fazíamos amor, um amor proibido de uma noite, amor que foi dado por uma mulher virgem e por um homem de pecados. Quando ela, nua deitada na cama, contava-me sua vida, e nós olhávamos a lua e as estrelas pelo vidro da janela, contou-me o segredo que não podia ter guardado. Aquele por quem lamentava na sepultura também era seu irmão.

Débora Dias
Enviado por Débora Dias em 06/05/2009
Reeditado em 06/05/2009
Código do texto: T1579007
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