Tarde de Outono

Era outono. A tarde era alaranjada, o céu ganhava cor estranha, as folhas caíam exaustivamente das árvores, agora quase secas. O calor do dia lembrava o verão que padeceu, o frio das manhãs previa o inverno que estava por vir, arrasador.

Ele estava na praça, sentado no banco, lendo mais um péssimo livro de seu gosto. Vestia-se mal para a época, porém elegantemente à visão dos que dois séculos antes viveram. O sol se punha atrás das montanhas, já era quase noite e a pequenina e longínqua cidade se reunia na pequena praça. Haveria um evento importante naquela noite fria de outono. Uma cantora viria mostrar seus talentos vocais. Cantora do nascente "jazz brasileiro", a chamada bossa nova. Dizia que sua voz era capaz de encontrar os anjos que no céu moravam.

O cidadão do péssimo livro ainda estava sentado no mesmo banco quando o show começou. Nem deu atenção a mais bela voz que qualquer um daquela cidade já havia ouvido. Foi quando, chamado pelo nome, o homem voltou a atenção à moça de esplendorosa beleza. Ela, inesperadamente ofereceu a música a ele. Ela o olhava fundo nos olhos, com olhar de uma expressão sem igual. Ele viveu a música como jamais havia vivido a vida.

O show acabado, olhou para a feira de artesanato o homem. Foi lá que comprou a única lembrança da noite de outono, uma escultura.

Débora Dias
Enviado por Débora Dias em 02/05/2009
Reeditado em 02/05/2009
Código do texto: T1571251
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