Cores de Outono

Azul-dourado. Era essa a melhor definição para o colorido daquele dia de outono.

O sol dourado e tímido sorria para o céu azulado que pareceu pintado à mão para combinar com a cor da camisa do protagonista.

Naquele dia que para ele nada tinha de especial – mesmo o sendo – resolvera mudar o percurso e o meio de chegar ao trabalho. Quis agradecer pela vida e deixar-se abraçar pelo céu e rumou ao seu local de trabalho caminhando.

Chegou sorridente, reluzente. Completava naquele dia quarenta anos e confirmava o velho dito popular que afirma que a vida lhe acabara de começar. Realmente sentia-se renascendo. Parecia reabsorver o frescor da juventude e o tempo comprovava-lhe sua generosidade.

O dia percorreu cheio de pequenas surpresas agradáveis promovidas por todos aqueles que o admiravam.

Sentia-se realizado e numa breve retrospectiva percebeu que o sucesso era tudo aquilo que estava vivendo.

O final do dia lhe reservara uma surpresa especial. Sabia-se admirado por muitos, mas saber-se-ia amado por aquela mulher com quem dividia a vida há anos, porém, sem que tivessem sequer se atentado para esse detalhe e ele, também descobriria o quanto a amava.

Ao voltar para casa, ele apenas pensava que aquele dia de aniversário seria como o de todos os outros anos: jantar em família, carinho dos filhos, um bolo como sobremesa e a continuidade do tempo com uma noite de sono restauradora.

Fora então surpreendido com uma carona inédita de volta para casa. Ouviu durante o caminho todas as palavras de admiração que desejara ter ouvido ao longo de sua vida toda e sentiu pela primeira vez a espinha gelar. Aquela que estava ao seu lado era uma conhecida estranha, com quem não conversava sobre suas emoções havia muito tempo.

Antes de adentrarem sua casa, ela o segurou pelas mãos firmemente e lhe disse que apesar de todos os anos de convivência, somente naquele dia ela sentira que a vida sem ele não teria o mesmo sentido.

Confessou-lhe todos os erros, todos os supostos acertos e o encorajou a fazer o mesmo, não porque lhe pedira, mas porque ele sentiu que era preciso.

Aquele dia ficou marcado para sempre, e no aniversário dele, ambos renasceram. Provaram que ainda havia apesar de tudo, amor suficiente para recomeçar.

Decidiram que o passado de ambos não exercia sobre eles nenhum poder, pois já não poderia ser modificado.

Aquele momento presente, de mútua compreensão foi um divisor de águas. A mudança de um é infalivelmente a mudança de dois.

No outono, as árvores perdem as folhas e parecem mortas com a chegada do inverno.

O verdadeiro amor é como uma árvore: se mantiver a raiz profundamente presa a terra de onde germinou a semente, não importa o tempo que dure o inverno e aos primeiros sinais de primavera, irá florescer ainda que contrarie todas as probabilidades.

Fernanda Vaitkevicius
Enviado por Fernanda Vaitkevicius em 30/04/2009
Código do texto: T1568726
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