Ela Partiu…
Não pela calada da noite, mas de madrugada para não o perturbar, para nesse gesto derradeiro de afecto não o magoar com os seus olhos marejados de dor, porque haveria sempre de o amar, mas o mesmo amor que os juntou não era suficiente agora para os manter juntos, e por isso deixou a casa, o quarto, de madrugada, deixando-o imerso em sonhos, sabendo que ao acordar o encheria de nada…
E assim, evanesceu-se sem dizer sequer uma palavra escrita ou oral, ignorando entre demasiadas lágrimas, ou preferindo esquecer, que era Ela que ele sempre amou, sempre amaria…
E não levou quase nada, a não ser a insustentável leveza de um amor, demasiado sobrecarregado de demais emoções, levando uma insustentável saudade, dolorosa solidão, dilacerando a sua alma e ferindo de morte o seu imenso coração, exausta pelas palavras, exaurida pelas intermináveis discussões dos tempos recentes, onde não pareciam dois amantes, mas antes adversários que esgrimavam até à exaustão física e mental argumentos frutos de uma falta de diálogo real, cada um renitente em deixar de lado as suas ocas razões.
Desapareceu entre as semi-trevas, arrastando o sol dele, as suas estrelas, e uma frase que ele jamais voltaria a usar, frase dos bons mas idos tempos: “De todas és a mais bela…”
E ele nunca saberia qual o seu destino duma espécie de perpétuo exílio, saberia apenas que ficou no lado dela da cama uma parte do seu amor que ela era incapaz de levar, saberia apenas que as noites a partir de então seriam eternamente gélidas, e os dias sem significado, saberia apenas que a haveria de amar para sempre, independentemente do lugar onde ela estivesse…
Ela partiu…