Um romance qualquer (Parte 17)

Mário estava enlouquecendo naquele local estranho, o tal recado não chegava. A essa hora ele nem se preocupava mais com emprego, apartamento, amigos, queria apenas saber com quem estava lidando.

- Eu devo ter feito algo muito ruim pra merecer isto – disse Mário

- Fez sim, cruzou meu caminho – disse uma voz vinda de fora do abrigo.

- Quem está aí? Perguntou o arquiteto.

- Você deve imaginar quem eu sou, não é preciso pensar muito.

- O que você quer de mim?

- Quero que saia da vida da minha filha, ela é uma mulher casada agora.

- Eu já não tenho nada com ela.

- Mas vocês ainda se falam, quero que ela esqueça totalmente de você. Pegue esse dinheiro no envelope que vou te dar e suma da Itália.

Um envelope foi passado por baixo da porta do local, que ficava trancada, dentro do pacote havia um cheque no valor de três milhões de euros.

- Você acha realmente que pode me comprar, não é?

- Conheço sujeitinhos oportunistas como você.

- E agora? Como eu saio daqui?

- Tem uma janela aberta atrás de um armário, você pode usá-la.

Mário olhou em volta do local, havia pelo menos cinco armários que aparentavam ser bem pesados.

- Ah sim, será tão fácil – disse ele ironicamente.

Fabíola acordou em um leito de hospital, olhou em volta e enxergou seu fiel mordomo Carlo.

- O que é isto Carlo? Por que estou aqui.

- Você entrou em coma alcoólico no bar próximo de sua casa, Heitor mandou uma ambulância te buscar.

- Onde está meu marido?

- Teve que viajar para o interior resolver problemas com a clínica que possui lá.

- Eu quero voltar pra casa.

- Ainda não foi liberada pelo médico.

- Não importa, eu não vou ficar aqui. Eu tenho dinheiro, pago a conta e saímos daqui.

- Ora senhorita – Carlo ainda a chamava assim – seu marido é dono do hospital, sabe que não precisa desembolsar um centavo.

- Ah sim, estamos no hospital dele, deveria ter adivinhado. Só falta me dizer que ele é o médico responsável por mim.

- É...

- Eu vou mofar aqui – esbravejou Fabíola.

- Sabe a sorte que você teve de o funcionário do bar ter ligado justamente para o hospital do Dr. Heitor Monteiro?

- Sabe a sorte que eu tive de arranjar um marido controlador? Devolveu a pergunta em tom irônico.

Carlo ficou calado.

- Parece que eu casei com o meu pai – disse a moça, indignada.

Gilberto Lassale foi ao encontro do sócio no Japão, encontrou-o no lugar combinado e os dois seguiram juntos até a loja de Cristiano. Na entrada da loja Gilberto percebeu que seu filho tinha construído um grande negócio. Ambos seguiram para uma pequena sala de reuniões, o senhor Lassale sentou-se à mesa, o sócio colocou na mesa relatórios da empreiteira que possuíam na China. Gilberto foi chamado para discutir a possibilidade de aceitarem o convite do governo para construírem moradias populares, era uma boa chance de a empresa expandir seu horizonte de negócios. Após uma breve discussão Gilberto foi deixado sozinho na sala, o sócio buscar outros relatórios. Após dez minutos de espera o senhor Lassale estranhou, quando passaram vinte minutos ele se irritou, depois de ter passado mais de meia hora ele foi procurar o sócio, abriu a porta e encontrou alguém, o ambiente estava escuro, mas ao se aproximar o banqueiro reconheceu a pessoa.

- Boa noite, pai – disse Cristiano.

- Olá, filho. O que está fazendo na loja a essa hora da madrugada?

- Acertando umas contas. E você?

- Vim ter uma conversa com o seu sócio. Aliás, ele saiu há mais de meia hora e não voltou.

- Ele preferiu nos deixar a sós, queria me encontrar com você.

- Você armou o encontro então. Queria mostrar seu negócio? È uma excelente loja.

- É sim, passei madrugadas no estabelecimento para deixá-lo assim. Também possuo outra uma filial fora de Tóquio.

- Quem diria que você conseguiria montar um belo empreendimento como este.

- Seu dinheiro diria isto.

- Como?

- Ora, não se faça de bobo, pai. Eu sei que quem financiou tudo no começo foi você, através do seu intermediário.

- Ele te contou isso? Maldito, paguei bem a ele para não abrir a boca.

- Contou sim, mas só porque eu o pressionei.

- De onde você tirou suspeitas?

- Ele é um pouco descuidado, deixou cair isto aqui numa sala aqui da loja – Cristiano mostrou o cartão do Banco Lassale.

- Tudo bem, fui eu que injetei o dinheiro no começo do negócio, porque eu queria que você se desse bem.

- Você queria provar que eu ainda dependo do seu dinheiro. O grande problema é que você sempre me subestimou, achava que eu não poderia andar com minhas próprias pernas. Quebrou a cara quando eu saí de um cargo de diretoria do banco para começar do zero aqui no Japão, passou muita raiva por causa disso, de alguma maneira soube que eu tinha montado meu próprio negócio e quis me fazer depender de você de novo.

- E o que você quer de mim, Cristiano?

- Quero que assine aqui na linha pontilhada.

- Como é?

- É o documento que o torna proprietário dessa empresa, já que o dinheiro investido foi o seu, nada mais justo do que o negócio ser seu também.

- Isto aqui não é meu, não trabalhei por esta loja.

- Mas o capital é seu, assine logo.

- Eu não quero, quer dizer, não posso.

- Por que não? Vai ser ótimo, essa loja rende muito.

O banqueiro se viu tão pressionado que não teve outra alternativa.

- Agora eu levarei esse documento para o registro de empresas. Parabéns senhor Lassale, adquiriu mais um ótimo empreendimento – disse o filho, sarcasticamente, em seguida virou-se e saiu da loja.

- O que você vai fazer agora Cristiano? Perguntou o pai

- Vou me virar sozinho, arranjar um emprego ou começar outro negócio. Mas por favor, se eu souber de dinheiro seu entrando em outro empreendimento meu, eu transfiro o negócio para você novamente.

Cristiano entrou em seu carro e arrancou a toda velocidade. O banqueiro, irritadíssimo, deu um chute na caneta com a qual assinara o documento, fazendo-a ir muito longe. Gilberto Lassale estava enfurecido, finalmente se deu conta de que não possuía mais controle sobre seus filhos.

Farah
Enviado por Farah em 04/04/2009
Código do texto: T1521732
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