mudança de ares

Mudança de ares

Não me lembro à data exata, só que o Brasil já tinha sido consagrado tri campeão de futebol lá no México. Já Nessa época, eu ouvia as rusgas da minha mãe com meu pai, eles tinham suas brigas longe de mim e da mana, para não refletirem na gente. Ele era engenheiro de obras e gostava dessa vida, em vez de ficar preso num escritório, que achava sem vida e sem o calor humano. Ele também sempre adorou esportes e já tinha sido jogador de vôlei há tempos quando esse esporte não tinha a dimensão que tem hoje.

Meu pai foi convidado, nessa época, para chefiar uma obra em Além Paraíba, no interior de Minas numa cidade da zona da mata, embora que já tinha visão de cidade grande embora ainda pequena. Nós, lá em casa, já estávamos acostumados com essa vida que meu pai levava, de andarilho e, quase sempre o acompanhávamos. Ficou acertado que chegaríamos a Alem Paraíba no começo do outro ano, pois aquele já estava nas últimas folhas calendário. Meu pai, no apagar daquele ano, tinha em mãos a chave da casa onde iríamos residir. Sabíamos pouco, só que era uma casa central na cidade. A minha ida com meu pai, mãe e irmã se deu no começo de janeiro para a nossa residência. Era uma casa comum com um terreno enorme em volta.

O começo foi difícil como em todo lugar, mas com o passar do tempo nos adequamos à nova realidade.

Nessa época deveria ter uns quinze anos e freqüentava a 1º científico no meu tempo, coisa que hoje não saberia dizer qual seria e a minha irmã cursava o primário. As nossas matrículas foram feitas num colégio perto de casa, cuja proprietária era esposa do dono da firma que meu pai trabalhava coisa que é comum numa cidade do tamanho de Além Paraíba.

A vida no interior é boa coisa e ali não era diferente. Antes de começar o ano letivo D. Sonia sabendo que meu pai jogava vôlei, convidou-o para treinar as meninas da escola porque teria campeonato entre as cidades naquele ano. Mesmo não estando às mil maravilhas com minha mãe ele resolveu encarar esse novo desafio.

Ele achou a idéia interessante e até comentou que estava precisando de uma atividade que gostasse de fazer e aquilo era ideal, pois reuniria o útil ao agradável. Desde esse dia o velho não falava de outra coisa e se podia ver um brilho diferente em seus olhos.

Aproveitei o resto das férias para conhecer a cidade e o que ela aproveitava de bom para me divertir. Primeiramente destaco as belas cachoeiras que fazem um cenário ímpar. Adorava a cada manhã dar um passeio a cavalo por todo o município e aproveitava cada instante daquele mundo encantado, cheguei ao novo recanto das famílias de Além Paraíba. Lá é uma paisagem linda, ao redor do salão dançante, deu para percebesse que os passos tipo dois para lá, dois para cá, eram trocados com facilidade.

O telhado era uma coisa inovadora para a época. Pareciam persianas verticais que se abriam e o vento fluía livremente para dentro e eram fechadas ao toque dos primeiros pingos de chuva.

Um dia antes do início das aulas D.Sônia ligou para meu pai acertando com ele a hora do encontro dela com ele e as meninas com quais iria trabalhar. Começa o ano letivo. Caras novas, colégio novo, professores novos com a mesma ansiedade de fazer mais um bom ano, com novas amizades. A turma não difere das dos outros anos até a ansiedade parece ser a mesma.

Na primeira noite que meu pai foi ao ginásio que pertence ao (IEAP) Instituto Educacional Além Paraíba para ser apresentado às suas pupilas, tive uma vontade de acompanhá-lo, eu mesmo não sei por quê. Era um total de dezoito moças de idades variadas que cursavam o ginásio e o normal. Elas, nesse primeiro dia, nem trocaram de roupas, foi mesmo uma apresentação ao novo técnico da equipe. D. Sônia disse quem era meu pai e o seu passado no vôlei chegando até a seleção e que tentaria nos ajudá-las no campeonato com sua experiência e conhecimento naquele esporte. Meu pai falou para as meninas que o primeiro contato seria com um médico e uma preparadora física, para que pudesse avaliar a real condição de cada uma. Nisso as meninas arregalaram os ouvidos e olhos e ouviram-se os comentários de algumas delas dizendo que nunca tinham feito isso na vida e que parecia ser uma boa idéia.

Foi marcada para três dias à frente, a nova reunião com as meninas, para começarem a fazer os exames. Ele conseguiu com o Dr. Milton Alvarenga, um médico amigo, que fosse até Além Paraíba, para que fossem feitos os exames nas meninas e ver com quais poderia contar de fato.

Depois de feitos os exames o amigo Milton Alvarenga lhe sugeriu dispensar uma atleta, após algumas explicações médicas e meu pai não fez nada de imediato e observou com outros olhos aquela moça. Praticamente quando o Dr. Milton Alvarenga se afasta entra em cena uma amiga a Maria de Lourdes, preparadora física, essa sim, iria ajudá-lo no trabalho com as meninas, acompanhando o dia a dia e a necessidade de cada uma. Com seu jeito comunicativo de ser logo conquistou a simpatia de todas. Um pouco mais à frente comentou que teríamos uma garota que não suportaria o ritmo de treinamento e era outra jovem além a que o Dr. Milton teria dito, e outro impasse foi criado. Resolveu procurar a D. Sônia e lhe expor a situação, e vendo se haveria uma brecha de inscrever outras atletas para a competição. D. Sônia vem com o regulamento disse que poderíamos alterar com problemas médicos sim e que teria de ser aluna do colégio.

Meu pai, desse momento adiante, ficou a pensar qual seria a melhor forma de resolver a questão. Mil pensamentos alojaram em sua cabeça. Resolveu conversar com o grupo e expor a situação, para ouvir as opiniões das atletas. Perguntou quem seria as outras duas jovens que poderiam entrar naquele grupo. E só se ouvia um zum zum zum da conversas delas e deixei que elas indicassem as meninas por não conhecer as moças do colégio. Néia faz a sua voz ser ouvida, diz que tinham duas alunas que encaixariam naquele grupo. Uma seria a Lena, que tinha saído da escola por causa de mudança com a família, mas já tinha regressado e estaria estudando no colégio de novo e a outra seria a Rose que tinha deixado o grupo por causa do outro treinador. Meu pai achou melhor ele mesmo convidar as duas meninas para retornarem ao elenco de vôlei.

Ele chegou na hora do jantar lá em casa feliz dizendo que havia conversado com as moças e que conseguiu delas o retorno à seleção colegial.

Voltei com meu pai para o ginásio e conheci as duas meninas do grupo. Por si só eram bem diferentes em tudo. Helena, com apelido de Lena é bem alta e tranqüila, enquanto a Rose deveria ter um metro e meio era um foguete típico de mulher baixa, em minha opinião. Depois do aquecimento da Maria de Lourdes, o velho as separou em três times e a vencedora de cada partida ficaria na quadra para ele analisar todas as atletas e montar duas equipes que participaria do torneio.

Achou interessante que as meninas, por se conhecerem a mais tempo, só se chamavam pelo apelido e até ele se adequar aos novos nomes demorou um pouco, fazendo às vezes confusão com isso. O começo da preparação foi difícil, mas aos poucos as meninas davam as respostas desejadas com um diferencial super positivo. Elas queriam ganhar, nisso a vontade ajuda demais e supre as deficiências de cada uma no grupo, e tornam a equipe bem coesa. Depois de certo tempo de treinamento o comandante sugeriu a D. Sônia que as meninas precisariam um jogo de verdade, para sentir o seu potencial. Meu pai sugere um jogo treino na capital, para que pudessem sentir o peso da camisa em cada uma. A diretora deu carta branca ao velho para que arranjasse esse amistoso. Isso foi fácil para meu pai, ele marcou um jogo treino contra o Minas Tênis, daí a duas semanas, em Belo Horizonte.

Ele Passou para suas comandadas o que foi resolvido e elas já faziam um barulho diferente, coisa normal de acontecer. Ele começou a esboçar as equipes que já tinha desenhado na sua mente. Ele buscou em cada atleta o que elas tinham de melhor. Boas partes dessas meninas vinham das salas 10 e 12. A grande pequena Rose seria a levantadora da equipe. As cortadas para a Maria Tereza e a Lerdinha que era uma loira catarinense, brincalhona gente boa, que apareceu aqui há algum tempo. Os bloqueios deste time teriam a Petita, Doce Magia e a outra levantadora seria a Aninha. Na outra equipe contava com Sofia, Solange, Malu, Neia, Lena, Nalú. Essa outra equipe seria comandada pela Maria de Lourdes. Na concepção do meu pai era um bom elenco, pois cada uma tinha sua peculiaridade. Com a experiência do velho esse time iria dar o que falar e não deu outra.

A chegada do time à capital mineira se deu numa sexta feira, para os jogos que seriam no sábado. O velho conseguiu acomodações para as meninas junto a Confederação Mineira de Vôlei sem custo para o colégio. Está na hora do primeiro encontro real e meu pai me disse que havia um receio, mas não era o medo de enfrentar uma equipe diferente. O jogo foi muito disputado ponto a ponto, mas conseguimos uma vitória de três a dois, meu pai também me contou que ficou satisfeito com as respostas das meninas e que deveria fazer pequenos acertos para ficarem no ponto ideal. Quanto ao outro jogo foi à mesma coisa, mas por descuidos perderam a partida. Os dois times da escola amadureceram juntos e já estaria pronto para os grandes duelos que viriam. Fora todos esses problemas meu pai convivia com atritos diretos com minha mãe.

Começa o campeonato e as duas equipes de Além Paraíba seguem na frente. Houve só um tropeço de um dos times e que fez com que ele disputasse o terceiro lugar. A equipe que meu pai acompanhou ficou com o título tão esperado e desejado por todos.

À volta para Alem Paraíba foi uma alegria só dentro do ônibus cedido pela prefeitura para acompanhar as atletas a cada jogo que fizessem. O senhor Francisco Horta, prefeito, nos aguardava na prefeitura para que pudesse condecorar cada atleta depois da conquista do torneio. Em seguida iríamos pro colégio onde já estava marcada uma festa para todos.

Ficaríamos em Além Paraíba até o final do ano, pois o serviço do meu pai seria só de um ano. Nós lá de casa amamos aquela terra e sua gente e tínhamos que voltar às nossas bases de origem.

Chegou à casa feliz da vida com um trabalho recompensado e levou uma bordoada da minha mãe, dizendo que queria a separação, pois já tinha chegado ao final da estrada com ele. Os seus olhos se encheram de lágrimas na mesma hora, ele é do tipo que sofre calado prefere não argumentar no momento. Ficou acertado que a ajudaria quando fosse preciso e retirou-se da sala de cabeça baixa

A minha idade avançou e sentia muito falta do velho, por saber que ele estaria ali perto quando precisasse. E a separação dele com minha mãe tornou nossos encontros escassos. Tive de mudar com minha mãe e irmã várias vezes por diversos motivos e estas mudanças fizeram com que amadurecesse rápido. Meus envolvimentos com mulheres foram poucos de grande duração. Eu e a mana sentimos realmente quando tio Leandro nos comunicou o falecimento do pai por enfarto. O velho já havia contratado uma empresa para que o cremasse e até já teria acertado. Ficava admirado, aquele era o estilo dele viver.

Eu já passava da idade de casar como todo homem. Imaginei que iria ser difícil me enfocarem, mas estava errado, foi com menos de trinta anos que me casei. Tudo na vida tem um tempo de existir e comigo não foi diferente. Nisso veio a separação e a vida para mim resumia-se em trabalhar o maior número de horas possível para que a solidão não me engolisse e foi assim até os 51 anos quando me aposentei.

Voltei a morar em Além Paraíba e abri uma papelaria coisa que sempre gostei. Lá teria um pouco de tudo para atender as necessidades do dia a dia de uma casa ou escritório.

O trabalho exige muito de mim. Quando tinha tempo entrava na internet, em salas de bate papo, só para passar o tempo. E foi numa sala dessas que por um acaso li o nome Lerdinha, coisa que me chamou a atenção. Comecei a prestar atenção nas coisas que ela escrevia. Deu para sentir que era uma pessoa bem alegre parecendo a Lerdinha que conheci quando morei em Além Paraíba, aquela do time de vôlei. Eu sempre fui tímido com, mas nessa hora a curiosidade pulava da minha boca. Então resolvi perguntar a pessoa se morou em Minas Gerais. Ela disse que sim e por quê? Contei-lhe a história e o motivo da minha dúvida. Lerdinha ouvia a explicação sem dizer nada e isso me deixava aflito demais. Já quase no final da resposta que dava pude sentir o seu grito quando digitava Sérgio, que é meu nome, parecendo estar até feliz depois de tanto tempo afastado. Depois desse instante ela se abre e a conversa se desenrola facilmente, falamos um pouco de tudo e que morava no sul do Brasil e que tinha dois filhos e uma neta. Ela perguntou se casei? Disse que era separado há um bom tempo. Nisso ela comenta ser natural hoje em dia e que muitas das meninas que participaram daquele campeonato tinham tido o mesmo destino igual ao meu e que algumas se casaram de novo. Indaguei se tinha o e-mail delas, pois me deu vontade de estar com elas de novo. Dos e-mails que a Lerdinha me passou conversei com todas elas, deixando a Rose por último, por morar em Além Paraíba, coisa que não sabia.

No sábado subseqüente liguei para Rose, ela demorou um tempo para se lembrar de mim, pois a sua vida não era fácil como me disse. Contou-me que estava separada, no seu casamento e que não foi pra frente porque existia uma diferença de idade grande dela pro marido. Em função disso o ciúme do Aderbal era grande, complicando o relacionamento. Ficamos de nos encontrar para trocarmos idéias, achei ótimo nosso papo. Pedi a Rose para me pegar em casa por volta das 20h: 30min, pois não tenho carro e detesto dirigir. Foi pontual. Resolvemos ir para o Kiskina Bar, pois lá se ouve uma bela música acompanhada de uma boa comida mineira.

Passamos bons momentos ali e a saudade veio à tona com aquilo que vivemos em Além Paraíba, mas desconfiamos que a velhice já estivesse batendo em nossa porta, pois já não tínhamos o mesmo entusiasmo de antes. Éramos do tipo mais caseiro. Combinei com a morena Rose que nos encontraríamos a cada mês, sempre na primeira quarta-feira, no que ela concordou plenamente. A noite foi divina, mas tudo que é bom também acaba e Rose me deixou em casa.

Sentia-me cansado do trabalho e havia tempo que não tirava umas férias para dar uma boa relaxada, pois o que fazia não permitia isto, mas a necessidade de uma folga se fazia presente fiz contato com meu médico no qual reprova o meu modo de vida. Ele é uma pessoa que adora viajar, mas está meio parado em função do nascimento da sua primeira neta. Miltom me dá uma idéia para viajar pelo nordeste por gostar tudo de lá. Respeitei a opinião dele, mas fiquei na minha, só tendo a certeza que uma viagem seria ótimo. As pulgas coçavam atrás da minha orelha, com esta nova situação encontrada, mas sempre fui curioso e uma delas diz respeito a lugares que não conheço. Depois de papear com amigos eles me deram a idéia de conhecer uma praia chamada Riviera de São Lourenço, próximo a BerTioga, a 125 km da capital paulista, na estrada Rio Santos. EU nunca tinha ouvido falar em tal recanto e recaiu aí o meu desejo, pois pensei que conhecia as praias da região sudeste e percebi que o Brasil é grande demais e belo.

Voltando telefonei para uma agência de viagem procurando saber se teria um avião direto até lá, pois soube ter aeroporto, mas não tem vôo direto do Rio de Janeiro até a Riviera e este acesso teria feito de avião até São Paulo e lá pegar um ônibus que levaria a praia. Fiquei pensando em todas as hipóteses que tinha na mão.

Em seguida telefonei para outra agência que trabalho com ela há tempos e questionei com a senhora Vânia tudo que havia conversado com as outras pessoas e se ela me dava uma informação sobre a tal praia mencionada. Nos seus argumentos ela concordou plenamente com o meu descanso. Eu estava precisando de uma folga e sair um pouco da rotina. Nisto ela me deu uma dica de pegar um ônibus comum na rodoviária, cujo veículo seria noturno onde poderia pegar um carro leito tendo uma tranqüilidade maior se quisesse dormir um pouco e que a estrada para São Paulo estava boa e seriam gasto neste percurso umas seis horas de viagem. Já na rodoviária pegaria outro ônibus para Riviera, também falou que os ônibus são modernos e seria uma tranqüilidade para viajar.

Vânia me deu umas dicas de Riviera que achei interessante e que não esperava tanto. Pedi então para fazer minha reserva lá, pois a minha saúde vem em primeiro lugar e como não sou de gastar comigo resolvi desta vez ter o melhor, me dando este presente.

Com isto convidei Rose para ver se ela gostaria de viajar comigo para Riviera Francesa no litoral paulista ela adorou a idéia e perguntou-me quando deveríamos ir. Deixei claro que seria breve. Alguns dias depois já estava na praia, depois de termos feito as duas viagens super tranqüilas. Ficamos um tempo conhecendo o hotel onde estávamos ficamos maravilhados, coisa de primeiro mundo! Subimos para nosso apartamento para tirar uma soneca antes do almoço. A fome bateu ai descemos para procurar algo para comer no centro do lugar. Na parte de cima do restaurante onde estávamos se tinha uma visão de toda a praia. Era divina aquela paisagem! Conseguia nos transmitir uma paz enorme.

Cíntia uma jovem recepcionista do hotel começou a fazer uma pequena descrição da bela região que parecia até ser tirada da Internet de tão rica em detalhes. Tive uma aula completa sobre a Riviera e Bertioga, pois não conhecia por falta de tempo desta vida tresloucada que se vive hoje em dia.

Cíntia comenta também que a Riviera está situada no litoral norte de São Paulo, pertence ao município de Bertioga.

A Riviera santista tem um balneário paradisíaco, freqüentado por pessoas igualmente apaixonadas pelo lugar. A praia de São Lourenço comprova as ótimas condições de balneabilidade no trecho de 4,5 km de praia da Riviera.

Cíntia nos fala que haveria em uma das noites que estaríamos ali, um baile. Então nos convidou para irmos nesta festa com ela e aceitamos nós tivemos uma sorte danada estes dias que passamos em Riviera, pois conhecer uma pessoa excepcional como Cíntia e ainda ser convidado para uma festa que demonstrava parecia ser um festão, esperado por aqueles acima de 50 anos.

Aproveitamos para comprar umas roupas para ficarmos de acordo com que a Cíntia nos havia dito e poder estar junto dela na festança. Fomos ao shopping Riviera para comprarmos roupas adequadas para tal evento, as opções eram muitas e não tivemos nenhum problema.

A vontade de estar com Cíntia, a nova amiga, era grande. Ela pediu que ligasse no sábado, pois naqueles dois dias estaria ocupada. A semana custou a passar enfim O sábado se anuncia com uma manhã divina e com as horas promissoras. No céu só o astro rei se fazia presente, mas o calor não existiu durante todo o período. Tratamos de fazer a melhor para que pudéssemos fazer bonito naquela noite para Cíntia. Sabíamos que ia ser tudo novidade para nós, pois nunca tínhamos ido a uma festa deste gênero, só com pessoas de mais de 50 anos.

Cíntia, naquela noite estava impecável em todos os detalhes com um vestido de alça nas cores amarelo e preto, com um cabelo em coque onde realçava ainda mais seus traços belos. A maquiagem era discreta e sensual. Cíntia nos pegou por volta das vinte horas na porta do hotel, depois que entramos no seu automóvel ela tomou conta da conversa, mas não falava nada de sua vida pessoal, mas tinha uma cultura vasta sabia abordar qualquer assunto. Acho que isto hoje em dia é que falta nas pessoas, um conhecimento maior do que acontece.

Ela descreve tão bem o lugar e diz que é uma casa de baile nova que acaba de ser inaugurada em Riviera. Ficamos curiosos demais, devido a empolgação ao falar do lugar. Disse também que na inauguração do salão esteve lá, pois uma das poucas coisas do que gosta é de dançar e lá era esplêndido para isto. No decorrer do caminho creio que ela citou o nome do lugar, neste instante devia estar olhando outras paisagens e admirando tudo. A nossa ansiedade de conhecer aumenta a cada instante.

As estrelas enfeitavam o céu, a enorme lua era divinamente bela, neste momento que olhava para ver tais maravilhas a ouço dizer que estávamos nos aproximando e mesmo de longe as luzes do clube já eram bem fortes e cintilantes e convidativas para uma noite inesquecível.

Novamente diz o nome do clube que ficou guardado em nossa memória e que se chamava Reviver. Achei legal tal nome ideal para ser dado a um clube que agrupa pessoas que praticamente tem meio século de existência. Já na portaria comecei a contar com as vantagens que o clube oferecia como a elegância dos seus funcionários com as suas formas de tratar as pessoas dando a todas as orientações necessárias para o bom andamento do estacionamento. O pátio era todo gramado e na frente dos carros tinha um piso com blocos geométricos em cimento branco formando uma espécie de passarela para o salão realçando com a grama e, era muito bem iluminado e sinalizado. Do lado deste caminho encantado do lindo jardim muito bem cuidado que deixa o lugar perfumado das belas flores ali existentes.

Na entrada do salão tinha duas lindas moças para recepcionar quem ali chegasse dar as boas vindas e mostrar todo o ambiente e seu funcionamento. Podemos notar que à parte de dentro da entrada tinha um corredor que dava acesso a outros ambientes do recinto e a educação e simpatia das moças nos encantava. Elas começaram com a sala de jogos. Lá tinha um bingo e todo dinheiro arrecadado ali era destinado às instituições de caridade do lugar. O segundo salão, visitado, era um enorme restaurante com mesas para quatro pessoas, num ambiente bem confortável e aconchegante. O terceiro era composto por um jardim de orquídeas com mesas para duas pessoas assentarem e trocarem palavras aconchegantes e na frente destas mesinhas existiam lampiões que davam uma penumbra. O quarto era onde ficavam os músicos com a grande pista de dança ao redor. Eles só tocavam músicas tranqüilas como boleros, tangos e as doces músicas brasileiras que fazem a gente sonhar mesmo acordado. A iluminação mudava com o ritmo da melodia tocada, era um espetáculo único!

No lugar era só novidade, começando pela beleza da praia com o clube situado em sua frente. É uma mistura o luxo com simplicidade. O arquiteto junto com a decoradora fez um bom trabalho, preocupando principalmente com os deficientes físicos.

Já estávamos assentados quando uma jovem senhora se aproximou, deu dois beijos em Cíntia. Concluímos que devia ser conhecida coisa até então não sabíamos o quem era logo após este toque Cíntia nos diz ser uma prima que não a via, Ela se mudou de Riviera já algum tempo e se chamava Pérola. Nesta hora fomos andar mais pelo clube e deixamos as duas ali trocando saudades de papos e das pessoas comuns às duas. Nesta andada pelo clube uma cena capturou a nossa atenção em particular. Um senhor que já não era mais um brotinho, muito bem vestido, de um belo sorriso numa cadeira de rodas circulando pelo salão de jogos, de repente, ele desaparece na pequena multidão formada ali e em seguida dá para notar a presença dele na mesa onde seriam cantados os números das pedrinhas do jogo. Ele possui uma voz diferenciada e agradável.

Eu estava engordando o tempo, mesmo aí resolvi jogar uma partida de bingo. O engraçado era o que se ganhava de prêmios. O maior prêmio era um jogo de jantar e o menor seria quatro pastéis no restaurante com um refrigerante. Jogamos algumas partidas e numa delas ganhamos os tais pastel. Dirigimos-nos ao restaurante para devorarmos nosso prêmio já no seu final vejo um toque no ombro de Rose. Senti e imaginei que fosse Cíntia, pois era a única que me conhecia ali, mas quase caí do banco naquela hora ali.

Quando Rose se vira, seus olhos fitam uma mulher, prestando mais atenção naquela senhora está vendo comenta que é D. Célia, companheira de longas jornadas diárias de serviço, na mesma empresa.

Depois deste instante de contemplação. Ela dá um abraço e um beijo carinhoso em Rose. A amizade das duas começou desde que Rose começou a trabalhar numa firma que ela já estava há um bom tempo. Essa amizade sempre foi grande algumas vezes Célia deixou escapulir fatos de sua vida pessoal, e Rose escutava e quando lhe pedia um comentário Rose passava a sua opinião. Ela já era separada há um bom tempo e tinha lindas filhas e eram inteligentes. Tomou conta das três sozinhas. Hoje uma já é formada em curso superior e as outras duas já estão acabando seus cursos. Ela com sua religiosidade e sua bondade contribuí para que a sua vida andasse em frente, apesar de estar só. No decorrer da conversa ela diz tinha ficado com algumas pessoas, mas nenhuma tinha conseguido conquistá-la realmente.

D.Célia aposentou há uns seis anos e eu troquei de empresa havia quase três anos. A amiga de Rose perguntou-lhe sobre a sua vida e meu amor disse o que acontecera no tempo que ficaram separados.

Ficamos impressionados de tanta coincidência que até resolvemos fazer uma fezinha naquele dia...

O papo transcorre lotado de lembranças, nesta hora a Rose convida para se assentar com a gente na mesa, juntamente com a Cíntia e a sua paquera de lá, e o Iam também. Pensei que Cíntia deveria estar preocupada, pois tinha saído há muito tempo, mas como viu chegando à mesa acompanhada de um casal pude perceber uma interrogação na sua cabeça, por não entender o que estava acontecendo. Quando chego à mesa pergunto por Pérola, ela me disse que ela já tinha ido já algum tempo e que estava preocupada comigo, pois não tinha falado nada simplesmente sai sorrateiramente. Neste instante apresentei o casal de amigos para ela.

Passamos no Reviver uma noite agradável.

Por volta das zero hora os casais se despediram e foram buscar os seus rumos.

Cíntia nos deixou na porta do hotel, lhe agradecemos pelo passeio e companhia e foi depois disto para sua casa.

Nos dias seguintes, alternava em ficar com Cíntia ou com dona Célia em Bertioga.

Na sexta feira indagamos a dona Célia quando seria a sua volta para Rio de Janeiro, então ela me disse que gostaria de voltar no domingo. Nesta hora resolvemos voltar com ela para servir de companhia e termos com quem conversar durante a viagem.

No domingo à noite Cíntia nos leva para a rodoviária de Bertioga e pouco tempo depois dona Célia chega esbaforida, pois achava que estava atrasado, o seu relógio era que estava errado, daí toda confusão.

Voltamos tranqüilos e posso dizer que foram uns tempos maravilhosos que me fizeram ficar em paz com tudo e todos e que me deram ânimo para caminhar na nossa jornada.

De volta ao serviço minha vida retorna ao normal, vejo que necessitava desta folga estou me sentindo outro agora vejo que o descanso era necessário. Passou tipo uma semana, Rose entra em contato comigo sabendo se já tinha arranjado uma pessoa para colocar na loja para me ajudar, disse que ainda estava à procura de uma pessoa certa para informatizarmos a loja, pois tudo modifica e temos de estar atentos. Ela me comenta que sua irmã mais velha conhece uma jovem senhora e que deveria preencher meus requisitos. Pedi para Rose para ver se conseguiria falar com a tal moça e pedir para ela fosse à loja onde trocaria mos idéias.

Uns dois dias após este papo chega aloja uma senhora dizendo ser amiga da irmã da Rose a respeito do serviço. Logo de cara me simpatizei com o jeito dela. Era do tipo mais calada e pedi para que ela fizesse um apanhado de sua vida para que pudesse ver seu perfil de profissional.

Apresentou-se dizendo que se chamava Maria Salete dizendo que nasceu em Aurora e depois com 12 anos mudou-se Felizardo Vieira que são duas cidades do interior do Ceará e tendo uma infância tranqüila onde guardava as boas recordações desse tempo. Gostaria de ter feito um curso de psicologia, tendo mudado com 18 anos para São Paulo com uma irmã e uma amiga, pois a vida no interior é difícil em qualquer lugar.

Passada uma semana que estava em São Paulo conheceu um rapaz também nordestino da Paraíba com o qual se casou e viveram juntos quase 20 anos e que tiveram um casal de filhos. Hoje a moça já tem 20 anos e está com o casamento marcado e o rapaz já teria 16 anos.

Ela estaria separada há três anos e meio e que tinha sido mandada embora da empresa onde trabalhasse como vendedora por dois motivos a redução de custos e pela idade avança, como a empresa alegou. E que lá já era tudo informatizado. A sua vida foi toda estruturada no Ipiranga perto de São Caetano desde quando casou.

Comenta também estaria gozando um pouco de seguro desemprego, mas estaria louca já para arranjar uma colocação e que em Além Paraíba morava com amiga do Ceará.

Não sei por que meu santo bateu com o dela desde esse primeiro contato e que por coincidência tinha o mesmo nome de uma ex-namorada da minha adolescência que é Maria Salete,

A entrada de Salete na loja foi aos pouco mudando a cara da loja a tornando mais competitiva e já quase toda informatizada. Coisa que era o meu desejo no comércio atual. Íamos de vento em polpa na loja onde a presença de representantes de empresas com as quais trabalhávamos. Um deles me chamava mais a atenção de uns tempos para cá era o Sr Raimundo Eduardo representante da linha Soft de canetas e lápis que tem uma boa aceitação no mercado, com um preço de revenda.

Agora a loja está totalmente estruturada, e começo a respirar tranqüilo, sem aquele sufoco de outrora. Viajo sozinho novamente depois da separação com a Rose. Com o passar do tempo as viagens se multiplicavam, mas foi no último passeio que os acontecimentos me deixaram a pensar. Seria o fato do casamento da Salete com o Sr Eduardo Raimundo e sua volta para São Paulo que foi inevitável.

Os meus pensamentos não se encontravam de forma alguma tentando uma maneira de equacionar esta situação. Tive que tocar a loja sozinha até encontrar uma moça que pudesse colocar no lugar de Salete. Essa troca nunca chegou a acontecer de fato, pois as candidatas que ali apareceram não conseguiram me mostrar segurança então fiquei receoso e não optei por nenhuma delas. Pensei que já estaria velho e aposentado tendo uma vida tranqüila, então achei melhor fechar a loja e alugar o junto com a minha residência e voltaria para a capital. Cheguei a Belo Horizonte procurei minha irmã para expor para ela as coisas que tinha na cabeça. Nisso ela me convida para almoçar em sua casa, então lhe disse que na sexta-feira eu iria almoçar com ela.

Na sexta, por volta das 10h00minh chego à casa de Chica, minha irmã, apelido que dei para ela por se chamar Francisca, ainda pequena e ficou até hoje. Contei-lhe o que estava querendo fazer e ela muito equilibrada como sempre me fez pensar em várias situações que poderiam ocorrer com aquelas mudanças até radicais na minha vida em sua opinião. Ofereceu a sua casa onde seríamos uma família de novo. Essa idéia até mexeu comigo, mas sou do tipo que gosto mesmo é ter o meu espaço, pois a minha vida toda foi dessa forma, mas sempre segui sozinho nessa estrada. Gostei demais de rever minha irmã e tomar conhecimento que tudo que passa com ela e seu casal de filhos. Quando ela me contou que seu filho Felipe jogava nas categorias de base do nosso time do coração fiquei envaidecido e me fez recordar do meu velho que adorava esportes.

Já no inicio da noite volto para o hotel que estava hospedado e fiquei pensando tudo aquilo da conversa com a mana e pela minha visão acho ser a melhor escola a ser feita e se estivesse errado seria o primeiro a dizer que errei. No dia seguinte fui procurar pessoas amigas da minha época para colher informações de alguma casa de repouso, mas não sei por que não falava que era para mim não. Com o assar das pessoas comecei dizendo que era para mim mesmo o que causou certo tipo de interrogação na cabeça das pessoas. A maioria delas me disse que era preferível buscar esta informação com médicos que estariam mais gabaritados para me darem este tipo de opinião, então foi o que fiz. Entrei em contato com Dr. Alvarengão para saber dele se conhecia alguma casa de repouso onde pudesse ficar. Ele me recomendou uma casa que fica a uns 60 km da capital em direção a serra do Cipó e que se chamava Estância das Palmeiras onde em sua opinião ficaria tranqüilo, longe do sufoco da metrópole, de fácil acesso e com uma boa infra-estrutura já montada. Fiquei entusiasmado com as novidades. Então, fui fazer um estudo de campo.

Achei fantástico sentar com os velhinhos e ouvir as histórias deles... Riquíssimas!

Fui pra dar uma força pra eles e voltei renovado, pois eles que me deram forças com suas histórias de vida, eles teem sabedoria apesar da idade. Nem dá para imaginar tantas histórias tristes e alegres, mas a alegria ainda é visível no rostinho deles.

Quando estava lá vi uma senhora prometendo ir mais vezes para visitá-los e aproveitaria parar cortar os cabelos de todos. Me confidenciou que a gente acaba voltando para nossos problemas e esquecemos-nos de outros que tem dificuldades maiores. D. Maria Helena afirmou serem egoístas os seres humanos.

Uma das histórias tristes que me marcou foi a de uma senhora com um sorriso impressionante, mesmo assim me contou que estava ali há mais de 15 anos e o único filho não ia visitá-la isso me doeu. Fiquei a pensar numa situação iguale me apavorei. Ela deveria ter quase 90 anos bem magra, mas elegante e bem cheirosa.

Concluí que aquele lugar deveria passar o resto dos meus dias. Definido isso procurei a diretoria da Estância para saber se poderia construir uma suíte da mesma forma dos outros alojamentos, sendo que o custo da construção seria meu, pois sei das minhas necessidades e não gosto de atrapalhar ninguém e ainda daria uma contribuição mensal para a Estância. A minha oferta foi vista com bons olhos pela diretoria. Não demorou a minha suíte ficou pronta e agora era só esperar porque a morte é certa.

Escritordsonhos
Enviado por Escritordsonhos em 02/04/2009
Código do texto: T1519606