Despedida Eterna

Eu o vi de costas. Sim, ele estava indo de uma vez por todas, e eu nunca havia dito uma palavra do que eu sentia de verdade. Eu havia jurado, um dia, um dia ele iria saber, mas, pelo jeito, não.

Uma lágrima caiu do meu olho direito. Talvez uma das últimas que eu derramaria por ele. Foram muitas, mas, sempre havia o sentimento de que não fora o bastante. Deus, como eu o amava, porque que ele tinha que ir... Assim?

A cada segundo ele ficava mais longe, e eu estava parada, apenas observando ele ir. Meu coração batia muito acelerado, e a sensação de quando eu havia o visto pela primeira vez voltara, depois de muito tempo. Eu achava que não o amava mais, mas, em algum lugar no fundo do meu amargo e rancoroso coração eu sabia que eu o amava mais do que todas as coisas juntas na minha vida.

O Sol do meio dia batia no meu rosto, e as vozes das pessoas se despedindo foram desaparecendo lentamente da minha atenção. As batidas do meu coração desaceleraram e ficaram mais fortes, e eu as sentia no peito, doendo. As lágrimas insistiam em cair dos meus olhos. A minha vida, a razão para acordar e enfrentar o dia estava, apenas... Indo embora, para sempre. Aquela música veio aos meus ouvidos, e eu comecei a cantá-la, baixinho, como se fosse algo para confortar-me por dentro, mesmo eu sabendo que nada poderia fazê-lo.

 

“Olhos fechados, pra te encontrar. Não estou ao seu lado, mas posso sonhar...”

 

Ele ia se afastando mais e mais, eu quase já não conseguia vê-lo. Meu coração parecia acompanhá-lo, querer deixar-me também. As lágrimas começaram a cair descontroladamente. Eu tentava respirar, mas parecia que as minhas narinas fechavam a entrada de ar. Eu comecei a entrar em desespero por dentro, eu gritava, mas meus gritos permaneciam presos na minha garganta.

 

“Aonde quer que eu vá, levo você no olhar... Aonde quer que eu vá, aonde quer que eu vá...”

 

O som da sua voz cantando aquela música veio ao meu ouvindo, todas as coisas que eu passei durante o ano viram em minhas lembranças. E, por mais que eu quisesse que aquilo me deixasse em paz, as lembranças não deixavam. Deus, odeio-me por, um dia, ter dito que eu não o amava mais, não era mais aficionada por tudo o que ele fazia, não era mais viciada no jeito estranho que ele dizia as coisas ou que as fazia. A verdade é que, apesar de existir um “talvez” em meu coração, eu ainda o amava mais do que minha vida, e poderia continuar fazendo isso. Era meu castigo por ter dito que eu gostava de outro. Castigo por ter mentido.

 

“Não sei bem certo, se é só ilusão, se é você já perto, se é intuição...”

 

Não sei muito bem por qual motivo, mas ele virou para trás. Tenho certeza que conseguiu me ver parada, imóvel. Ele ficou parado olhando pra mim. Como ele tinha feito das outras vezes. Eu não poderia ter deixado que você me conquistasse completamente, jamais poderia ter permitido, jamais.

O filme passou novamente pela minha mente. Desde o dia 19 de agosto de 2006 até o dia 5 de dezembro de 2007. Sim, eu o amei perdidamente todo esse tempo. Não havia qualquer coisa que passasse por minha mente, não havia qualquer sonho que ele não estivesse presente. A verdade é que eu vivia por ele.

 

“E aonde quer que eu vá levo você no olhar... Aonde quer que eu vá, aonde quer que eu vá”

 

Eu gritaria que o amava, mas a voz continuava presa na minha garganta, ela não saia. Era demais para mim, ele não podia ir embora, não agora. Nunca.

 

“Longe daqui, longe de tudo, meus sonhos vão te buscar. Volta pra mim, vem pro meu mundo, eu sempre vou te esperar...”

 

Quando esse trecho passou pela minha cabeça, as lágrimas caiam mais, muito mais. Era a única parte da música que não fazia sentido na história do meu amor por ele. Agora, ela fazia mais sentido do que todas as outras. Eu preferia conviver com a dor de um amor não correspondido a pouca distância à de um amor não correspondido à longa distância. Deus, por que eu o amo?!

Meu coração batia muito forte, doía muito. Ele continuava parado, e eu também. Eu tinha impressão de que eu o veria de novo. Depois percebi que sim, mas seria apenas em meus sonhos. Naqueles sonhos em que eu acordaria chorando de madrugada, pois ele não estava ao meu lado. Seria como a madrugada em que e sonhei com ele e acordei com essa música, ou seria como o dia em que parecia que ele tocava a música para mim, e não comigo.

“Não vá embora”. Era o movimento que meus lábios faziam, como um último sussurro da vida que restava em mim. Eu suplicava. As lágrimas não paravam de cair. E ele continuava me olhando, só do jeito que ele sabia me olhar. Como da primeira vez que ele me olhou.

 

“Não sei bem certo, se é só ilusão, se é você já perto, se é intuição...”

 

Meu amigo parou do meu lado e chama pelo meu nome. Eu não escutava. Estava hipnotizada, sob o feitiço dele novamente. Nada havia mudado, e eu só havia percebido agora, agora que ele estava indo embora.

A minha frase “É hora de dizer adeus” passava pela minha cabeça junto com milhares de outras coisas sobre ele. Meu coração batia mais forte ainda, e as lágrimas escorriam aos montes pelo rosto.

Eu ainda esperaria a eternidade para poder amá-lo de novo, mesmo que fosse por alguns segundos. Eu ainda esperaria pela eternidade para poder pensar por alguns minutos que eu poderia odiá-lo, e depois, amá-lo mais ainda. Eu esperaria uma vida inteira para dizer que o amava. Eu diria naquele momento. Se é que eu precisava dizer.

Meu amigo continuava desesperadamente chamar minha atenção. Mas, era culpa dele, só dele, era culpa dele eu ter achado que não amava mais o meu amor de verdade. Eu estive confusa demais o último mês, mas, enfim, no último segundo eu achei a resposta. Nada mudou.

Ele sorriu pra mim, como ele sempre fez, e me tranqüilizou, como nunca havia feito. Eu sabia que agora ele só existiria dentro de mim, mas, se fosse assim, pelo menos, uma parte de mim poderia ficar feliz.

Ele virou as costas e foi embora. Eu atendi o chamado do meu amigo, com milhares de coisas na cabeça.

Talvez eu nunca mais o visse, como ele mesmo disse. Talvez, ano que vem, o destino fosse bom comigo novamente e ele caísse de novo na minha sala. Sim, eu estava pronta para passar mais um ano inteiro sofrendo por não estar com ele. Mas, estar em sua presença já era o bastante para me fazer acordar todos os dias e dizer “Que linda manhã”

Eu te amo, e tenho quase certeza que esse amor que sinto não irá embora como você.

Aquele sorriso foi meu presente.

Continuei meu dia. Continuei minha vida. Não, eu nunca mais o vi. Apenas quando eu fechava os olhos e tinha uma ilusão. Eu o amei como eu nunca poderei amar outra pessoa. Mas eu sei, eu nunca teria ficado ao seu lado como eu vi várias outras ficarem.

 

“E Aonde quer que eu vá, levo você no olhar. Aonde quer que eu vá, aonde quer que eu vá... Lálalala, lalala... Lalalala, lalala... Aonde quer que eu vá... Lálalala, lalala, Lalalala, lalala... Lararara, lalalala, lalala Aonde quer eu vá...”

Débora Dias
Enviado por Débora Dias em 12/03/2009
Código do texto: T1483009
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