A Pedra e o Vento

Certo dia, o vento ventava na floresta muito verde.

Passou por entre folhas, galhos, e acima do rio, cortou os rostos descobertos de lenhadores, e entre as asas dos pássaros, brincou.

Naquele dia o vento estava feliz, por isso, ventava com muita força. Esbarrando nas montanhas, ele subiu o máximo que pôde. Rapidamente, subiu até seu lar, o céu, e cumprimentou todos os deuses que um dia se chamaram vento, daquela época mágica, quando os homens ainda o veneravam, e o chamavam por vários nomes. É, o vento estava feliz, e a brisa era seu sorriso.

Ventando novamente entre as árvores, ele correu para o infinito espaço. Chegando até a beira do precipício e tomando cuidado para não cair, o vento subiu novamente.

Nessa brincadeira de subir e descer, tornar-se quente e frio, o vento ouviu um choro. Vinha de um canto da floresta, um cantinho escuro, frio, desarrumado e coberto de visco. Aproximou-se o vento, lentamente, com medo talvez, mas curioso demais.

E, no canto escurinho, havia uma pedra.

Uma pedra que chorava.

-O que foi? –perguntou o vento à pedra.

-Ah, vento, você que corre, que brinca, nunca entenderá minha dor! Sou uma pedra, fincada no chão, presa ao mundo, sem chance de mudar! Quisera eu ser feita como você, de um leve material, para voar ao Paraíso dos Elíseos....

O vento diminuiu, brincou na lateral da pedra, e a observou muito atentamente. Era uma pedra pequena, bonita e graciosa, cheia de um brilho radiante. O vento pensou que aquela pedra deveria ser apreciada, não era feita para correr, mas para ser lapidada, à vontade de um artesão habilidoso, e ser transformada em estátua. É, o vento imaginou que aquela pedra, devia ser lapidada.

-Você me acompanharia? –perguntou o vento esticando as suaves mãos.

A pedra, hesitante, o acompanhou. Ela observou quando novamente o vento brincou entre as folhas, e seguiu, com seus olhos de pedra, o caminho ventoso.

Ao chegar no alto da montanha, o vento soprou para a pedra –Pronta?- e empurrou a pedra, com toda sua ventisse, que era muito, muito forte, capaz de derrubar pedras bem maiores que aquela. O vento soprou com todo ar de seu corpo, fez acrobacias entre as estrelas, e se colocou no lugar de deus. Faria sua obra em menos de sete dias.

Ao parar de soprar o vento viu que a pedra caiu.

Caiu da montanha, caiu lá do alto, em uma única queda forte, a pedra, que era dura como uma rocha, espatifou-se lá embaixo da montanha. Se espatifou em tantos pedaços tão pequenos, que se tornou poeira.

E a poeira levantou-se com o vento: correu entre as árvores, sujou os olhos do lenhador, atrapalhou o vôo dos pássaros.

E, por fim, subiu às estrelas.