TECOS DA VIDA - 2º CAPÍTULO "O DIAGNÓSTICO"
O Doutor Dorival, enfim começou; após ter saído do êxtase de ver o seu ventilador voltar ao normal, a ouvir-me.
Vez em quando, interrompia o meu relato, para fazer alguma indagação, escrever alguma coisa num pequeno caderno, em seguida voltava a prestar atenção no que eu falava.
Falei muito de mim, de como conheci Helena e do meu estado emocional nos últimos meses.
O meu analista deixou de lado as indagações pontuais e as anotações pertinentes naquele caderno, e o que era praticamente um monólogo tornou-se um dialogo aberto.
- Eu não quero ser só um grande amor na vida da Helena, Doutor!
- E o que você quer ser afinal, meu jovem?
- Um homem de verdade para ela.
- Mas já na o é? Vocês já não transaram?
O rosto de Helena perdeu para a cor vermelha, o tom moreno da sua pele dourada.
Eu olhei para ela com uma pergunta expressa nos meus olhos “O que eu respondo?”.
A resposta veio a galope e conclusiva.
- Mas é claro que vocês já transaram... Helena, as suas mãos sobre a sua barriga, colocadas de forma tão delicada, protetora, me mostra isso claramente.
Eu não entendi o que o Doutor Dorival quis dizer, mas Helena com certeza sim, pois ficou ainda mais vermelha.
E ele não parou aí...
- Bom Celso...
Chegara a hora dele colocar diante de nós o seu diagnóstico.
Eu estava com as minhas mãos perdidas entre as mãos de Helena e os meus olhos fixos nos olhos do meu algoz. Naquele momento era assim que eu o via.
-...Vou tomar como base do meu parecer, o fato de você vir tentando nos últimos meses encontrar um bom emprego, e sempre na hora do teste de qualificação, você ficar agitado, com sudorese e assim não conseguir sucesso e a vaga lhe escapar das mãos.
Interrompi-o para perguntar:
- Por que isto acontece Doutor?
- Celso, a verdade é que você está forçando a sua saída da adolescência em beneficio de alguém que já está na fase adulta. Obviamente esse alguém, precisa ter ao seu lado, um homem que responda de imediato às suas necessidades enquanto pessoa e enquanto mulher.
Enquanto mulher, eu já percebi que você atendeu aos anseios de Helena, mas enquanto pessoa não! Embora ela não te cobre isso, pois sabe que você é um Ser, construindo o seu futuro, sem condições de construir o dela. Estou Certo dona Helena?
Helena concordou. Acenando positivamente a cabeça, que de tão baixa deu-me a impressão dela querer esconder-se.
Eu voltei a perguntar:
- O senhor quer dizer que eu devo...
Minha pergunta foi atropelada pela pronta resposta do Doutor Dorival:
- Sim, você deve nesse momento, pensar, para o seu bem, que embora muito bonito, o seu amor, ou melhor, o amor de vocês, está prejudicando um ao outro e sem dúvida nenhuma, digo, prejudicando muito mais a você!
Eu olhei para Helena e não vi o seu rosto, meus olhos estavam marejados.
Foi ela que perguntou:
- O que devemos fazer Doutor?
Enquanto o ventilador ia e vinha espargindo tecks pela sala, ele respondeu:
-Helena você já é uma mulher formada e a vida não pode mais ser uma aventura romântica para você. A sua realidade é outra e o seu tempo, corre contra você.
Você tem idéia do peso de cada fracasso que o Celso acumular nesse processo de auto-afirmação perante você? Helena não vacilou:
- Tenho!
-Pois bem; manter esse relacionamento vai ser prejudicial demais à vida dele e sabemos que já mudou a sua.
Eu respirei fundo e o interrompi...
- Então a solução é a nossa separação?
- Neste momento meu rapaz, você precisa pensar somente em você, não tenha medo de ser egoísta. Quando você conseguir resolver os seus problemas ai sim estará na hora e você terá condições de resolver os problemas dos outros. E o seu problema agora é se preparar naturalmente, sem violação da sua fase adolescente; o seu Ser, para entrar na etapa adulta da sua vida.
-Sem Helena doutor?
-Sim, sem o que a Helena representa, ou seja, sem esse sentimento que você está vivendo agora; é necessário!
Eu e Helena nos levantamos e tomamos a direção da porta do consultório. O doutor Dorival não tinha mais nada para nos dizer, já tinha até fechado o seu caderno.
Caminhamos rumo à saída do Instituto. Andamos em silêncio até a entrada do edifício onde Helena morava, alguns quarteirões depois.
Eu estava me sentindo mal e me limitei a ficar ouvindo as palavras de Helena.
- “Celso, não temos outra opção. Sabemos disso, agora sabemos muito mais e precisamos encarar esta verdade. Eu não posso atrapalhar o seu futuro e preciso cuidar do meu. Eu vou torcer por você sempre. Eu nunca vou te esquecer e vou levar você comigo. Olha, a melhor coisa do mundo que você poderia me dar, você me deu e eu sou grata a você por isto.
“Não precisamos dizer adeus um para o outro, mas precisamos seguir com nossas vidas.”
Lentamente ela foi soltando suas mãos das minhas. Eu fiquei ali parado em frente à porta de acesso ao hall, a vendo seguir pelo corredor até chegar ao elevador, entrar nele e sumir...da minha vista.
Eu fiquei dois dias sem sair de casa, acamado por uma febre temporã. Quando pude sair, corri ao edifício de Helena. O porteiro depois de me dizer que ela não morava mais ali, havia se mudado no sábado pela manhã, entregou-me um papel com um bilhete, nele escrito.
“Celso, estou indo embora. Seja feliz, meus lindos olhos verdes. Eu estou feliz, acredite! Levo você comigo, para sempre!”
Eu quis voltar para a cama e morrer febril! Coloquei aquele bilhete na boca, mastiguei-o com raiva e o engoli a seco.
Eu precisava também, levar algo dela comigo. Mesmo que não fosse...para sempre!
FIM