Mais uma de amor.
(...)
Ela está nervosa.
Fita transpassada entre os cabelos curtos. Batom cor de rosa nos lábios. Ela colocou os brincos e o colar. De frente para o espelho sorria. Há muito tempo que não namoravam, e esse dia tinha que ser especial.
Ele também estava nervoso.
Ajeitava as mangas da blusa. Borrifou o polo blue – o perfume preferido dela. Penteou os poucos cabelos para o lado. Também ajeitou a gola. Será que ela o acharia bonito?
Claro que sim.
Ouvia flautim. Só o abajur estava aceso. Colocou uma perna em cima da cama e deslizou suavemente a meia-calça. Gostava de se sentir mulher, ou seja, desejada. Daqui a pouco estariam juntos, como antes.
E pra sempre.
Ele colocou o relógio. Os sapatos engraxados. E deu a última olhada no espelho. Ele queria fazer desse encontro o mais perfeito de todos. Mas como?
É tão simples.
Colocou o vestido. E também os anéis. Ah, os anéis... Muitos anéis. Perguntou-se se ele estaria cheirando a polo blue. Desligou o som. Antes de desligar o abajur, verificou-se no espelho. E sorriu.
Ele já a esperava na sala de estar.
Um de frente para o outro. Olharam-se. Analisaram-se. Sorriram-se. Frio na barriga; o coração mais forte batia. Vontade de abraçar e de beijar.
Mas estavam encabulados.
Juntos foram caminhando para o restaurante. As mãos se esbarravam. Silêncio quebrado apenas pelo assobio que ele dava. Na mesa onde eles sempre sentavam havia rosas.
Eram vermelhas.
Vermelho do amor. Vermelho da paixão. Vermelho do desejo. Vermelho da boca. Vermelho do morango. Vermelho do rubor. Vermelho do sangue. Vermelho do vestido dela. Vermelho das rosas vermelhas.
Preciso dizer mais alguma coisa?
O garçom trouxe o prosecco. Ele propôs um brinde. Ela aceitou. Antes eles ficaram parados, sorrindo e se admirando. Tinham certeza de que eram amados. Tinham certeza de que amavam.
Tim. Tim.
Brindaram o amor. Á alegria, ao carisma, ao sorriso e ao inusitado. Brindaram ao eterno namoro. À família. Aos filhos.
Eles brindaram aos cinqüenta anos de casados.
(...)