A Promessa
A Promessa
Eram seis horas da tarde,a chuva forte caía fazendo com que as ruas estreitas do vilarejo ficassem inundadas,o céu tornara-se escuro , um vento forte soprava batendo janelas dos casarios,derrubando árvores ,desfolhando jardins,uma tarde de inverno nada propícia para um passeio.Luísa estava sentada no velho sofá da sala,havia acabado de chegar do escritório,seus pés estavam encharcados , do seu cabelo loiro cacheado escorria água,umedecendo a gola do blusão.Estava imóvel,com a mente longe,não percebia a poça que se formara no chão onde pisava.Da cozinha sentia-se um cheiro de carne assada,uma cantoria leve vinha do fundo dela,a dona da pensão estava preparando o jantar que seria servido as dezenove horas em ponto.Miguel entrou sacudindo-se todo e colocando o guarda-chuva no suporte,um ar úmido é gelido penetrou na sala,fazendo com que Luisa estremecesse .
_Olá Luísa!Pelo visto conseguiste escapar da tormenta.Falou o rapaz ajeitando o cabelo molhado.
_Sim,saí mais cedo,consegui acabar o relatório antes.Comentou ela olhando a poça sob seus pés.
Uma voz forte veio da cozinha comentando sobre as ruas alagadas.Era a dona da pensão.
Os dois moços desviaram os olhos em direção a janela e perceberam que aquela tormenta duraria um pouco mais,logo a pensão estaria lotada e sem luz ,pois a cada tempestade era comum a falta de energia.Luísa levantou-se e subiu em direção ao seu quarto iria tomar um banho e descer para o jantar.Miguel acendeu um cigarro e começou a especular uns jornais em cima da mesinha de canto.Era um rapaz de seus vinte e sete anos,alto,magro ,mas não bonito,possuía uma cicatriz no lado direito do rosto em forma de círculo,um tombo quando criança, que tornava sua aparência mais madura.Possuía um humor terno sendo gentil com as mulheres do vilarejo e irônico com os homens do local.Ele e Luísa eram colegas de escritório.Ele a tratava como uma velha amiga,preocupava-se com a moça,quase um anjo da guarda.
Dona Adelaide ,a dona da pensão entrou na peça com um vozeirão ,comentando sobre o tempo,trazia consigo uma caçarola,um saboroso perfume inundou a sala.Miguel dirigiu-se a lareira e a preparou,aos poucos os hóspedes foram descendo e dirigindo-se a varanda onde uma enorme e larga mesa os aguardava,com uma linda toalha de linho branco bordada com pequenas flores azuis e sobre ela pratos de porcelana pintados a mão alinhados juntamente com talheres reluzentes,Dona Adelaide era caprichosa em sua pensão.
Luísa agora seca e com um vestido limpo descia as escadas,quando a porta de entrada abriu-se e dela dois rapazes entraram falando em voz alta e gesticulando alegres,usavam capaz cinzas e carregavam seus chapéus protegidos da tormenta. Os olhos de Luísa voltaram-se em direção ao mais alto deles,e com um sorriso simpático foi retribuída o que fez com que corasse.Ao sentar-se no lugar de sempre percebeu que Miguel estava ocupando o lugar perto da janela entre uma senhora de meia idade e uma moça de uns vinte poucos anos que sorria a cada vez que o rapaz dizia um gracejo.
_Posso ocupar esta cadeira?Luísa virou-se ,era o rapaz alto bonito que havia lhe sorrido._Pode,claro!Sorriu, apontando-lhe o lugar.Todos iniciaram o jantar e entre comentários do dia e o tempo iam fazendo sua refeição de uma forma agradável como se a tormenta não estivesse ocorrendo,nem a ameaça da falta de luz os preocupassem.Luísa discretamente observava seu companheiro ,notara que não era casado e possuía um olhar cativante,percebera também que a cada vez que ela falava ele a observava aprovadamente.Miguel havia comentado algo engraçado e todos puseram a rir-se ,Ao final do jantar Dona Adelaide fora buscar os lampiões caso a luz apagasse.Luísa sentou-se na poltrona perto do rádio,o bonito rapaz seguiu-lhe oferecendo-lhe um cigarro ,comentou sobre quanto tempo ele ficaria ali.Os dois jovens conversavam animadamente.Miguel levara a moça para o sofá e tentava disputar sua atenção ,pois ela estava acompanhada da senhora de meia idade que os olhava atenta.A noite seguia seu ritmo calmo,a tormenta havia parado ,alguém ligou o rádio e depois de muita tentativas ,uma música surgiu.Alguns moradores subiram aos seus quartos.Luísa levantou-se ,o rapaz a convidou para dançar, ela aceitou e ao tocarem-se algo aconteceu,Luísa sentiu seu corpo estremecer,não ouvia mais a música apenas seu coração a bater ,suas mãos umedeceram e não conseguia fixar o olhar no rapaz,Luísa estava fascinada,observava cada movimento de seus lábios e a forma como sua cabeça inclinava quando pronunciava algo.O casal foi acompanhado de Miguel e a jovem sempre sobre o olhar atento da velha senhora.Dançaram mais duas músicas e alguém tropeçou em algo fazendo com que o rádio ficasse silencioso.Ouviu-se um estalido e a luz apagou-se. Um som abafado ecoou e alguém acendeu os lampiões.Aos poucos a luz amarelada foi surgindo na sala.Miguel chegou-se mais perto da moça,esta desvencilhou-se e foi sentar perto da senhora._Melhor subirmos Irene!Ordenou a velha senhora.Luísa recostou-se no sofá acompanhada do rapaz,ainda perturbada ,olhou o relógio resolveu que ficaria mais uns minutos._Amanhã partirei a dez e meia.Gostaria de voltar e que pudéssemos conversarmos mais,o que achas ?Perguntou o jovem bonito.Miguel olhou-a sério.Ela abriu os olhos e respondeu numa voz suave, Com certeza! Quando você voltar poderemos conversar e até caminhar pelo vilarejo,você não teve tempo de conhecê-lo não é?O jovem sorriu e lhe pegou a mão ,Luísa suava..desviando disse que já era tarde ,amanhã teria que levantar-se cedo.Despediu-se e subiu ao quarto.Miguel subiu também,passando por ela e piscando os olhos...aos poucos a sala foi se esvaziando.A pensão logo iria dormir.
Luísa adormeceu logo e ao amanhecer ,desceu para o café,o jovem bonito não havia descido,ela dirigiu-se ao escritório ,Miguel já estava lá,compenetrado ,não havia notado a sua chegada.O dia seguiu sua rotina.O vilarejo as poucos ia voltando a vida normal depois da tempestade a luz já havia voltado.No final da tarde,Luísa seguia o caminho da pensão,ele deveria já estar viajando,não havia dito quando voltaria ,nem tão pouco seu telefone havia deixado.A moça sentiu-se um pouco deprimida,caminhava devagar pela rua.Sabia que deveria esperar ,ele prometera voltar.Ao chegar na pensão ,Dona Adelaide entregou-lhe um bilhete, era dele,abriu e nele estava escrito uma data e horário,daqui a um mês ele retornaria,Luísa sentiu-se melhor,subiu correndo para o quarto e tomou um banho para o jantar.Os dias foram passando,o trabalho foi fazendo com que ela distraísse a espera.As vezes Miguel a levava na cachoeira e ali ficavam a planejar o futuro,ele queria muito voltar a capital ,ela queria voltar a sua cidade,pois adorava o mar,sentia saudades das caminhadas que ali fazia ouvindo o som das ondas,chegava a imaginar a presença dele ,juntos observando o por do Sol,.Num domingo ,estavam os dois sentados numa pedra quando um menino avisou que um hóspede havia chegado a pensão e procurava por eles.Luísa rapidamente levantou-se e apressadamente retornou a pensão,deveria ser ele,prometera e cumprira,mal cabia em si de felicidade,apaixonara-se por aquele homem com jeito cativante e voz suave.Tinha tantas coisas a dizer-lhe,planejara há dias,chegara até a fazer um diário,agora logo ela o teria para si.A pensão estava vazia,muitos hóspedes haviam retornado as suas cidades de origem,muitos trabalhavam no escritório e quando podiam retornavam para rever seus familiares,apenas Luísa e Miguel haviam ficado,ela para esperar o jovem bonito,ele por não ter ninguém a ver e também por que não queria deixa-la sozinha.Miguel gostava muito de Luísa e detestaria ver-lhe triste,percebera que a moça estava apaixonada pelo rapaz da noite da tormenta.
Quando abriu a porta da sala da pensão Luísa percebeu um chapéu no suporte ao lado da porta,um casaco também pendurado estava ali,seguiu seus olhos pela sala e ao fundo na poltrona ao lado da mesinha de canto estava um jovem sentado,fumando cachimbo e lendo um livro,Luísa as poucos foi em direção a ele,mal respirava,suas mãos suavam,um calor lhe vinha .O homem ergueu a cabeça e seus olhos escuros a fitaram ,analisando-a,sério levantou-se e numa voz baixa e controlada apresentou-se ,suas frases foram sendo pronunciadas delicadamente ,Luísa só conseguiu ouvir uma,sentou-se e lágrimas surgiram de seu olhos,um bilhete fora lhe entregue pelo rapaz,nele uma caligrafia bem feita comunicava que um acidente de carro havia ocorrido a uns dias atrás e por infelicidade o jovem que ela havia conhecido não conseguiu sobreviver aos ferimentos,deixando-lhe uma carta escrita na noite em que lhe conhecera na pensão,carta esta que iria lhe entregar na sua volta ao vilarejo.Luísa mal podia ler o escrito,uma dor forte latejou-lhe o peito,um vazio a consumiu,uma revolta e mágoa lhe invadiu.Aquele homem que conhecera naquela noite de tormenta,que lhe tornara feliz e cheia de esperança ,agora já não estaria mais com ela, somente uma carta havia lhe deixado,as promessas ali escritas tornaram-se dolorosas lembranças,o amor correspondido tornou-se um sonho interrompido.Luísa apaixonada,perdera a oportunidade de ser feliz numa curva de estrada.
Violetta