Um romance qualquer (parte 16)

Cristiano assistia a televisão em seu apartamento, trocando de canais a todo segundo até achar algo que prendesse sua atenção, conseguiu. O noticiário do canal NHK transmitia as notícias do exterior, especialmente da Itália, onde um infeliz incidente acontecera em Milão durante um clássico no estádio San Siro por causa da briga entre os torcedores da Internazionale de Milão e do Milan. O rapaz ficou assustado e muito preocupado, lembrava de ter ouvido que Mário assistiria à partida, o âncora do jornal relatou que alguns torcedores pagantes estavam desaparecidos.

- Espero que Fabíola não tenha sabido disso – já era tarde demais pra se preocupar.

Tarde da noite, em seu escritório, o senhor Lassale recebe um telefonema, era seu sócio japonês, pedia que o banqueiro fosse ao encontro dele em Tóquio para conversar sobre algumas dificuldades que a construtora estava encontrando. O sócio brasileiro disse que viajaria assim que possível, telefonaria para avisar a data.

Fabíola estava em seu quarto, imaginando que Heitor voltaria apenas pela madrugada decidiu acender um baseado. Era a única maneira que encontrara para relaxar com toda essa loucura por causa de Mário. A moça estava tão à vontade que não trancou a porta do quarto, para seu arrependimento foi surpreendida por Heitor.

- O que é isso na sua mão? Está fumando maconha?

- É só pra relaxar, faço isso de vez em quando.

- Apague isso agora.

- Pra que tanto stress, é só um pouco de erva.

- Hoje é apenas um pouco de erva, amanhã um pouco de pó, depois só uma pedrinha, to vendo no que isso vai dar.

- Por que você é tão chato?

- Porque eu sou médico e já presenciei muitos pacientes em overdose, não é uma coisa bonita de ser vista.

- E o que você quer que eu faça, meu ex-noivo está desaparecido, tenho um marido que aparece em casa de vez em quando. Quer que eu aja como se estivesse tudo indo muito bem?

- O Mário desapareceu?

- Sim, desde o clássico em Milão ele não voltou mais para casa.

- Nossa.

- Pare de fingir que está preocupado – disse Fabíola, lançando um olhar de desprezo.

- Não é porque ele foi seu noivo que eu desejo sua morte.

Heitor saiu do quarto para o escritório, lá abriu uma garrafa de vinho tinto e ficou pensando no jeito como Fabíola o tratava. Sabia que não era o casamento que ela desejava, mas que de vez em quando podia ser menos sincera com ele.

Carlo bateu na porto do escritório antes, foi autorizado e entrou. O senhor Lassale estava olhando pela janela, observando o céu.

- Senhor – disse o mordomo.

- Ah, você trouxe meu uísque predileto, como é bom ter empregados que conhecem de cor nossas preferências.

- Acho que devia começar a se preocupar mais com sua filha, senhor.

- Ela não quer minha preocupação, quer me ver longe. Como sempre, estou fazendo o que ela deseja.

- Aconteceu algo muito sério senhor há poucos dias atrás.

- O que é?

- O senhor Mário desapareceu na Itália.

- Como assim?

- Parece que houve um incidente em uma partida de futebol, ele estava no estádio e sofreu as conseqüências.

- Ah, que triste – disse o banqueiro, sorrindo sarcasticamente.

- Imagino que deva estar muito chateado mesmo – disse Carlo, no mesmo tom.

- Carlo, por favor, arrume minhas malas, vou sair do país por alguns dias por causa dos negócios, se alguém ligar aqui, peça que me encontre no celular.

- Tudo bem senhor Lassale.

- Por favor, fique de olho na Fabíola.

- Com certeza, senhor.

Fabíola acordou, fez a higiene matinal e desceu pro café-da-manhã, Heitor ainda estava em casa.

- Estranho ver você em casa a essa hora.

- Eu resolvi não ir trabalhar pela manhã, quero te levar fazer uns exames.

- Como?

- Quero saber quanta droga você já consumiu desde que entrou aqui em casa.

- E depois?

- Se for necessário, fará um tratamento na ala especial do hospital.

- Como é?

- É isso que você ouviu.

- Ótimo, um marido igual ao meu pai, era tudo que eu precisava.

Fabíola pegou suas coisas e se preparou pra sair.

- Aonde você vai? Perguntou Heitor.

- Para qualquer lugar onde você não esteja.

- E os exames?

- Você achava mesmo que eu ia me submeter à sua vontade?

- Que temperamento – disse o marido.

Alguns dias se passaram, Mário acordou em um local absolutamente estranho, parecia um esconderijo e ladrões em algum beco milanês. Sentia uma dor de cabeça terrível, não sabia há quantos dias estava ali e muito menos a razão de estar naquele local tão obscuro e amedrontador. Deu uma volta pelo lugar, mas ninguém estava por ali além dele. A última coisa de que lembrava era a confusão no estádio e que conseguira fugir dela, mas esqueceu todo o resto. Onde estariam seus amigos? Será que procuraram por ele por todo esse tempo? Queria apenas uma boa explicação para a situação atual. Vasculhando pelo local encontrou um bilhete numa das cômodas, escrito assim:

Meu Caro Mário

Não se preocupe, não ficará trancado nesse lugar por muito tempo, espere só o meu recado e poderá sair.

Quem quer que fosse, sabia o seu nome, o que lhe dava medo.

- Que ótimo, estou preso nesta espelunca e alguém que me conhece está tirando um sarro da minha cara. O que mais falta acontecer?

Já havia passado cinco dias e ninguém tinha um sinal de Mário, seus colegas de trabalho não sabiam, o amigo que morava com ele também não. Fabíola ligava todos os dias pra Milão e se desesperava por ficar sem saber seu paradeiro, começou a pensar no pior. Pegou sua bolsa e saiu de casa.

Nesses dias todos que se passaram, Cristiano e o sócio preparavam detalhes do encontro entre filho e pai na loja. O filho queria mostrar que sobrevivia sem o dinheiro do banqueiro.

Heitor recebera uma ligação no meio do plantão médico, o telefonema vinha de um bar próximo à sua casa. Foi notificado que sua esposa se encontrava recolhida no estoque do estabelecimento, passando mal de tão embriagada, tinha em coma alcoólico. O médico mandou que uma ambulância fosse buscá-la no local, mas não foi junto buscar a esposa.

- Era só o que me faltava, além de não me amar, tem problemas sérios com álcool. Eu não mereço tanto – pensou o médico e empresário.

Farah
Enviado por Farah em 28/02/2009
Código do texto: T1462442
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