Cartas de Amor no laço xadrez
Passou-se um bom tempo antes de eu ter coragem para mexer nos pertences do meu pai após a sua morte. Numa manhã de sábado entrei no quarto em que ele viveu com minha mãe por quase 60 anos, abri o velho guarda-roupa e lá estavam ainda algumas roupas, uma harmônica que há muito ele já não se arriscava a tocar, duas caixas envernizadas que ele mesmo fez quando ainda era um hábil marceneiro. Numa das caixas encontrei moedas antigas, muitas de réis, algumas de prata, moedas de 1942 até 1970, mas o que mais me chamou à atenção foram dois anéis de prata e um diploma que certificavam a doação de ouro contribuindo com a Revolução Paulista de 1932. Abri a outra caixa, nessa só havia papéis; certidão de casamento de meus pais e meus avós, meu diploma do curso primário que eu já havia dado como desaparecido, o convite de formatura da minha irmã e cartas. Havia dois maços de cartas perfeitamente presos por um laço de fita xadrez. Os envelopes de um dos maços pareciam bem mais antigos do que o do outro, desfiz o laço e apanhei um dos envelopes amarelados, no selo tinha estampado “Poste Italiane” o carimbo era de Rovigo – Veneto, era destinada ao meu avô. A remetente foi a minha avó, ao ler o texto com muita dificuldade (estava em italiano e a letra não era lá essas coisas) descobri que aquela era a carta que minha avó havia mandado para meu avô anunciando que chegaria no porto de Santos no “Vapor Cittá di Milano” em meados de dezembro de 1905,(descobri depois que o navio aportou no dia 15/12/1905) portanto, aquela carta tinha mais de um século. Passei boa parte do sábado tentando ler as declarações de amor entre meu avô, que já estava no Brasil desde 1903, e minha avó que ainda morava no norte da Itália. Passei para o outro maço, eram cartas trocadas entre meu pai e minha mãe. Lindas declarações de amor, de juras de amor. Num dos envelopes havia um papel celofane de bombom “Sonho de Valsa” , a carta era de minha mãe agradecendo o porta joias que meu pai havia feito e dado de presente a ela em seu aniversário, (o porta joias estava cheio de bombons). Levei tudo aquilo para minha casa e juntei com os meus guardados, me arrependi por não ter tido com minhas lembranças o mesmo carinho que meu pai e meu avô tiveram com as suas. Hoje quase ninguém escreve cartas. Nós usamos telefone, fax, e principalmente e-mails para nos comunicar. Claro que esses novos meios de comunicação são mais rápidos e eficientes, mas eles perdem em glamour, além disso, não se pode prender e-mails com um laço de fita xadrez!
Passou-se um bom tempo antes de eu ter coragem para mexer nos pertences do meu pai após a sua morte. Numa manhã de sábado entrei no quarto em que ele viveu com minha mãe por quase 60 anos, abri o velho guarda-roupa e lá estavam ainda algumas roupas, uma harmônica que há muito ele já não se arriscava a tocar, duas caixas envernizadas que ele mesmo fez quando ainda era um hábil marceneiro. Numa das caixas encontrei moedas antigas, muitas de réis, algumas de prata, moedas de 1942 até 1970, mas o que mais me chamou à atenção foram dois anéis de prata e um diploma que certificavam a doação de ouro contribuindo com a Revolução Paulista de 1932. Abri a outra caixa, nessa só havia papéis; certidão de casamento de meus pais e meus avós, meu diploma do curso primário que eu já havia dado como desaparecido, o convite de formatura da minha irmã e cartas. Havia dois maços de cartas perfeitamente presos por um laço de fita xadrez. Os envelopes de um dos maços pareciam bem mais antigos do que o do outro, desfiz o laço e apanhei um dos envelopes amarelados, no selo tinha estampado “Poste Italiane” o carimbo era de Rovigo – Veneto, era destinada ao meu avô. A remetente foi a minha avó, ao ler o texto com muita dificuldade (estava em italiano e a letra não era lá essas coisas) descobri que aquela era a carta que minha avó havia mandado para meu avô anunciando que chegaria no porto de Santos no “Vapor Cittá di Milano” em meados de dezembro de 1905,(descobri depois que o navio aportou no dia 15/12/1905) portanto, aquela carta tinha mais de um século. Passei boa parte do sábado tentando ler as declarações de amor entre meu avô, que já estava no Brasil desde 1903, e minha avó que ainda morava no norte da Itália. Passei para o outro maço, eram cartas trocadas entre meu pai e minha mãe. Lindas declarações de amor, de juras de amor. Num dos envelopes havia um papel celofane de bombom “Sonho de Valsa” , a carta era de minha mãe agradecendo o porta joias que meu pai havia feito e dado de presente a ela em seu aniversário, (o porta joias estava cheio de bombons). Levei tudo aquilo para minha casa e juntei com os meus guardados, me arrependi por não ter tido com minhas lembranças o mesmo carinho que meu pai e meu avô tiveram com as suas. Hoje quase ninguém escreve cartas. Nós usamos telefone, fax, e principalmente e-mails para nos comunicar. Claro que esses novos meios de comunicação são mais rápidos e eficientes, mas eles perdem em glamour, além disso, não se pode prender e-mails com um laço de fita xadrez!