Sorriso congelado
Ela gostara dele desde a primeira conversa. Ele era inteligente, culto, com uma voz máscula que parecia acariciá-la enquanto falava. Ela apaixonava-se com uma facilidade incrível e, claro, já estava apaixonada por ele.
Conversava consigo mesma sobre ele. Chamava-o de ‘e-love’. Coisas de gente louca. Pois não são loucos todos aqueles que escrevem?
Não dormia sem que o último pensamento do dia fosse ele. E ao acordar seu primeiro desejo era lê-lo Não importava que ele não soubesse do seu amor, que não fosse correspondida. Queria apenas, amá-lo.
Ele parecia conhecer dela até as entranhas. Achava incrível e apaixonante o que ele falava sobre seus textos. A cada comentário seu, ela tinha um prazer tão grande como se fosse um orgasmo. Com ele tinha realmente... Um orgasmo literário.
Sentia-se feliz, mas tinha medo de perdê-lo. Por isso morria de medo de dizer algo que o fizesse ir. Esses dias até perguntou, como quem não quer nada: ‘Ne me quit pás, oui?’... E ele respondera: ‘Jamais’.
Isso bastou para que ela se apaixonasse mais ainda. Pensava nos poucos dias que se conheciam, tentava relembrar tudo o que haviam conversado e contava as horas até o próximo encontro. Mas sentia medo, muito medo. Pois tudo o que tivera sempre se perdera, no tocante ao amor. Não queria como já disse, que ele sentisse o mesmo por ela, mas queria que ele nunca a esquecesse.
Tinham tido uma conversa não muito agradável, pelo para ela, no dia anterior. Tocava em pontos doloridos de sua vida e que queria, ao menos momentaneamente, esquecê-los. Ela até mandara-lhe um e-mail dizendo que se arrependia de ter lhe contado sobre sua vida. Fez isso com lágrimas nos olhos. Mal dormira a noite. Sonhara com ele. Procurou-o em sua cama e outro alguém a tomou. Amou, sentiu, delirou, suspirou, como se fosse para ele.
Ao acordar, levantou-se, um café bebeu.. E abriu sua caixa de e-mails. Um e-mail dele estava lá, com uma mensagem linda, a todos seus amigos, uma mensagem coletiva, nada pessoal. ‘Pelo menos, lembrou-se de mim’. Foi esse seu pensamento.
Mexendo em seu perfil viu que ele deixara, no dia anterior, uma mensagem: ‘DEAR LADY - YOUR SMILE DRIVE ME CRAZY’. Bastou isso para que se aquecesse. Sentiu um prazer que não havia sentido ainda. E uma paz plena e luminosa a tomou.
Amava, o coração pulava. Poderia morrer agora, que morreria achando que enfim, sua vida valera a pena. Não buscava reciprocidade, apenas queria amar amar amar.
Teve que sair para o trabalho.
E neste dia, seu sorriso não abandonou seu rosto, nem mesmo quando a acharam morta, no IML. Havia sido vítima de um carro desgovernado.
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