VOVÔ GILBERTO

Vovô Gilberto, “se te pego te rebento!”

Conheci Gilberto, no antigo Clube Dragagem, que ficava ali na esquina das ruas, Álvaro Chaves e Gal. Telles. Eu era um jovem de pouco mais de 20 anos ,ele beirava os cinqüenta. Fizemos uma bela amizade e por ser ele o treinador mantínhamos um grande e prazeroso convívio. Quando o Clube encerrou as atividades futebolísticas ,eu fui para a cidade do Rio Grande jogar no campeonato que lá era realizado e por esse motivo afastei-me dos companheiros do Dragagem Futebol Clube,e conseqüentemente ,do "Vovô Gilberto", como eu e muitos outros o chamavamos . Passados alguns anos voltei a reencontrá-lo no Clube Brilhante ,jogando sinuca pela equipe da Sociedade Libanesa . A alegria foi recíproca e comemoramos juntos no bar do clube . Um mês depois ,para minha surpresa, vou atender a porta de minha casa e um sorriso matreiro, junto a voz inconfundível de Gilberto é ouvida por mim:

-Magrão!...Eu vim aqui ,com a incumbência do meu presidente José Karini, para te convidar à fazer parte da nossa equipe, Libanesa, de sinuca e participar do próximo campeonato citadino, no mês que vem. E continuou - Queremos montar uma equipe de primeira, tu és meu amigo e jogas muito bem.

Eu!..surpreso e sem conseguir falar direito, convidei-o à entrar, chamei a Elizabeth e pedi-lhe que trouxesse um cafezinho para nós, enquanto seguíamos à alegre conversa. Fiquei sabendo,que o Barreto e o Capitão, tinham colocado a condição de que se eu fizesse, eles

também fariam parte da equipe (que acabou sendo a campeã do torneio) Mas o que me marcou muito ,foi a solidariedade e a parceria do Vovô Gilberto com aquela afirmativa:

- Se te pego, te rebento!...Querendo dizer que se o adversário facilitasse ele seria o vencedor.

Gilberto,foi uma pessoa tão marcante em minha vida ,que o guardo no coração num lugar especial . As vezes parece-me ouvir sua voz dizendo aquela sua frase debochada:

- Se te pego,te rebento!...

Morreu de felicidade , pois ao chegar em casa para o almoço,viu que o filho estava fazendo-lhe uma visita e foi abraçar o netinho, que dormia em seu quarto. A esposa, estranhando o silêncio e a demora foi procurá-lo encontrando-o abraçado ao neto,com sorriso “maroto”, de quem havia cumprido sua missão com pura alegria . Despediu-se do mundo material ; morreu feliz , junto a quem realmente lhe dava, com todas as pompas do mundo , o titulo de “Vovô”. Era época de Natal!!!

Texto publicado em dezembro de 2007 nos jornais locais Gildo Oliveira