Restos de um Coração
Pensamentos que vagam distantes. Às vezes me surpreendem por seu conteúdo obscuro, conteúdo o qual me toma nas mãos e faz de mim mero espectador. O tempestuoso desejo de vingança sobre uma injustiça me assombra contra minha vontade.
Como que em um filme vejo seu sangue escorrendo pela podridão dos meus dentes até manchar o chão com o liquido rubro e já pegajoso. Mais do que vê-lo apenas, posso sentir a densidade do mesmo em meus pensamentos. Posso deliciar e saborear seu gosto por entre meus lábios. O cheiro é ainda mais marcante enquanto adentra a plenos pulmões.
Por poucos, porém significativos momentos essas sensações me proporcionam um prazer imensurável me levando ao êxtase, – no qual me sinto liberto de meu corpo, preso a este mundo apenas por um leve fio, que se rompe a qualquer gasto maior de energia. – Algo incomparável a quaisquer outros sentimentos humanos.
Logo o ápice dessa sensação se vai e volto a ter consciência daquilo que me invade e se projeta a frente de meus olhos. Passo a ter nojo de mim mesmo. De meus fatídicos pensamentos. Meus próprios demônios.
Meus pensamentos pairam sobre mim como urubus a espera da carniça, prontos para me atacarem e dilaceram das víceras um coração que apesar de ainda bater não possui outra função. Morreu, entretanto ainda vive... Vive sem a costumeira e esperançosa alegria de outrora. Serve apenas para bombear o viçoso sangue por entre minhas veias, - o que ainda faz involuntariamente, porque se dependesse de minha consciência não mais faria.
Esqueceria de fazê-lo pelo simples fato de não ter importância se ainda bate. O seu servir não é esse, e ele se foi. Mesmo assim ainda é uma morte que pode ser revogada com apenas poucas palavras... Porque o amor nunca se vai... E o mesmo pode se medir em três palavras, pelas quais espero ouvir de seus lábios mais uma única vez. Isso porque te amo. E sinto que estou preso a esse amor enquanto esse maldito órgão que bate incansavelmente dentro de mim estiver alojado em meu peito...