A cozinha
Para Silvia Ortiz, querida amiga do Ponto de Encontro!
Folheava um livro distraidamente, via as letras, mas não lia. Estava pensando em ir para a cozinha, fazer algo. Fazia tempo que comprara a Máquina de Fazer Pão e apenas uma vez havia tentado fazer o pão seguindo a receita do Manual. Fora desastroso. Nem os cachorros quiseram comer. Agora a Máquina tinha virado enfeite na bancada da cozinha. Dois anos e ela estava lá, toda imponente. As amigas vinham visitá-la e viam a Máquina linda, branca e chamativa e elogiavam a amiga por ter objetos tão lindos e úteis na cozinha. Ela ria por dentro (cara de pau!). Não mentia, nem dizia ser exímia cozinheira, apenas sorria. Tinha uma queda por culinária, queda literalmente, porque vivia caindo na cozinha...
Deu um pulo da rede e resolveu olhar no Orkut, na comunidade que sempre ia, que tinha receitas fáceis, que qualquer ser humano poderia fazer. Hummmm, havia lá um novo post, intitulado ‘Bolo de cenoura’, leu a receita que parecia realmente ser fácil. Conseguiu até sentir o cheirinho de bolo no ar. Resolveu então fazê-lo.
Foi pra cozinha, que vivia intacta (pois nunca cozinhava, sempre pedia algo gostoso no restaurante de um conhecido. Principalmente quando o marido reclamava que não tinha nada de bom pra comer em casa). E ela , com aquela cara de menina sapeca, retrucava com um sorriso malicioso: ‘E eu? Num conta?’
Ele ria e dizia que ela seria a sobre(a)mesa.
Ela, encostada na bancada, pensava em separar os ingredientes. Lembrava das coisas boas que aconteceram naquela cozinha, mesmo que parecesse sempre tão fria e de fogo apagado. Mas pra que fogo no fogão, ou no forno? Já não tinha fogo suficiente? O marido e ela faiscavam ali. Isso já bastava.
Separou tudo o que precisava para o feitio do bolo. Pegou o liquidificador, colocou os ingredientes e deixou batendo, foi na copa buscar um pano de prato. Estava mexendo nas gavetas quando ouviu um estrondo seguido de silêncio. Entrou rapidamente na cozinha e viu que o liquidificador ( a única peça velha daquela cozinha nova) havia deixado de bater. Saia uma fumacinha tímida debaixo do copo. Olhou dentro, para ver se pelos menos daria para aproveitar a massa. Bem, uns pedaços de cenoura grandes boiavam na massa, mas experimentou e resolveu que assaria assim mesmo.
Ligou o forno, colocou a assadeira e tampou-a para que os pedaços de cenoura cozinhassem. Saiu e foi pra rede de novo.
A tarde estava convidativa para um cochilo, tempo fresco e o balouçar da rede fazia com que ela ressonasse, mas logo abria os olhos porque não queria esquecer do bolo no forno. Pegara no cochilo, mas nem chegou a dormir. Ouviu uma explosão. Levantou tão rápido que chegou a tropeçar nos chinelos. Quando chegou à porta da cozinha não acreditou no que viu. Sua cozinha estava completamente laranjada. Pedaços de bolo e cenoura pigavam do teto e estavam esparramados pelo chão. O forno explodira! Ao tampar a assadeira fez com que criasse uma pressão e sabe-se lá porque, explodiu! Começou a rir tanto... Tanto... Que até sentou no chão. Logo a porta do fundo foi aberta e seu marido entrava, olhando pasmo para toda aquela bagunça. Ao vê-la rindo como doida , o riso o contagiou também e mesmo sem entender o que havia acontecido a abraçou rindo, rindo...
Estavam alegres apesar do estado caótico do lugar. De repente ele a beijou. Enconstou-a no único canto limpo da cozinha e nesse dia fizeram amor laranjado. Nunca fora tão gostoso fazer um bolo de cenoura.
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Para o bolo é preciso ter como pré-requisito : 2 pessoas que se amem.
Bolo de Cenoura
3 cenouras médias
1 xícara de óleo
6 ovos
2 ½ xícaras de açúcar
½ colher de café de sal
Bata os ingredientes acima no liquidificador. Peneire numa vasilha, 3 xícaras de farinha de trigo especial e 1 colher de sopa de pó royal (fermento em pó químico). Adicione a mistura batida no liquidificador e misture bem. Asse em forno pré-aquecido e assadeira untada.
Cubra com chocolate derretido (400 gramas) e uma lata de creme de leite sem soro.
Bom apetite!
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