Um conto, uma promessa , um sonho... você!

Um beijo, um compromisso – um pacto de sangue. Acredite, nada que tenha trazido-o até então o havia preparado para este momento. Foi o primeiro beijo então. Não havia mais jeito de dissimular, à flor da pele se encontrava desde a noite anterior, quando tocou a pedra mais alta – mas não a teve.

A teve sim entre os braços, entre sorrisos e danças descompassadas. Até mesmo ensaiaram um andar unido pelo mesmo passo, o qual não foi fruto de qualquer acaso, surgiu sincronizado e tão sem embaraço, ao passo que não desejavam mais andar em vão.

Ele a seguiu com os olhos, procurou mil maneiras de se aproximar – até o funk ele dançou. Mas naquela noite cada um ficou em seu quadrado. Não foi de faltar o querer, sabe Deus quanto ele desejou lhe alcançar os lábios e em silêncio mostra-la que, por ela, não se ateria ao plano das promessas; plano algum seguiria sem a presença dela; promessa viva em seu coração era unicamente ela.

Então, de várias formas – e de uma forma única - ela era vida, era bem-vinda e valeria viver seus dias ao lado dela, como seu mais sincero acalanto de amor. Para certas coisas não há receita, não há medida e nem é direito alguém recusar o que tanto se esforçaram para merecer.

O sol se pôs novamente e ele vestiu-se meio que com descaso, como quem não deseja impressionar. Receoso de que ela não aparecesse, de que tudo não passasse de um blefe, estava exposto e vulnerável, pois havia jogado todas as suas cartas à mesa. Estava cansado de mal-me-quer. O olhar entregava a intenção, as palavras já não careciam de significação, não era momento de viver em vão.

Apreciava bastante sua amizade – o suficiente para chorar por sua ausência, para acreditar que razão alguma justificaria sua distância, para varar a madrugada por preocupação com sua saúde -, contudo queria mais, pois pecado era lhe deixar de molho.

Sentado, onde permaneceu enquanto tocava o violão, foi impossível evitar o sorriso ao vê-la aproximar-se, como um sonho bom. Como quem não quer nada, confiante e plena de si mesma, ela sempre soube do seu valor. Era incontestável a paz que seu sorriso provocava nele. Ele não se sentiu mais sozinho. Ele descobriu uma razão de ser: queria ser o teu sorrir.

Não era tempo de ter medo, a jogatina havia encontrado seu fim. As tantas cartas que sobravam nas mesas – da doceria, do restaurante de sushi, de batata, da pizzaria, da tia do suco – agora tratavam de amor, alcançando a estrela mais alta, vivendo a poesia que antes só habitava o sonhar. Não há lágrima nem tristeza que domine suas almas, e dor alguma consegue vencer a alegria de estar em par, o prazer de se ver refletido em outros olhos. Olhar onde se perde, onde se encontra – que é labirinto e é perdição.

Pelas causas corretas, pelos crimes perfeitos. A certeza do amor foi fruto do primeiro beijo, e o compromisso acompanhou a sincera história de amor.

Tornou-se então escudo, espada e espelho - do que somos nós, do que sonhamos para nós. Tornou-se amor. E descobrimos juntos a melhor razão de ser e de estar; a vontade de ser mais e o prazer de encontrar a paz num entrelaçar de mãos, fitando o mar, com um passatempo qualquer a adivinhar, desenhando nuvens num céu a nos desafiar.

Aprendemos também a caminhar sem medo de fraquejar, pois no olhar do outro podemos sempre encontrar a pureza de intenção mais sincera a nos acompanhar: a certeza de, nesses tempos tão modernos, onde as pessoas padecem de afeição, onde o tempo passa tão depressa, e a maldade corrói com pressa - nenhum de nós mais vive em vão, pois fitando os outros lábios, certamente confiarei - nunca mais careceremos de solidão.

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 14/02/2009
Reeditado em 16/12/2009
Código do texto: T1438395
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.