Chegamos de São Paulo no horário previsto,ou seja: vinte horas e dez minutos, do dia, vinte e três de dezembro de 2005. O dia seguinte, lógicamente, seria véspera de Natal. Elizabeth estava eufórica, exultante,tremendamente feliz ,pois deu tudo certo na viagem e ela estava outra vez junto aos filhos e netos. Tirando o fato da ausência do filho, Michel, que completará dois anos de partida para o plano superior, o resto estava dentro do contexto em que se propôs viver, nesta eterna busca do aperfeiçoamento espiritual determinado por Deus. Enquanto preparava os salgadinhos, eu sai para prestar uma terrível missão: levar os meus sentimentos à um grande amigo que acabara de desencarnar. Ao voltar encontrei-a com os olhos brilhando , num misto de tristeza e alegria. Abraçou-me e com a voz tremula pela emoção,mostrou-me uma folha de caderno dobrada em várias partes,dizendo-me a seguir:
- Querido o nosso filho deixou esta carta para nós.
Sem entender direito pois estava abatido pela perda do amigo e fotógrafo, José Matos, perguntei:
- Quem!...do Toni!
- Não meu amor!...do Michel!...-respondeu.
Foi o suficiente para que eu desmoronasse e para que meus olhos ficassem cheios d’água . Peguei a carta e enquanto lia, ela me contava como a tinha recebido:
- Gildo, a meia hora atrás ,a Luane, nossa filha mais nova me pediu uns papéis de embrulho pois queria empacotar os presentes das crianças,e eu mostrei a porta do armário em que se encontravam. Ela ao retirá-los caiu aos meus pés um cartão do dia das mães,o qual eu não lembrava ter colocado ali, e dentro dele estava a carta.
Enquanto ouvia seu choro, eu ia lendo cada palavra com tanta avidez,que as soletrava, uma a uma, silaba por silaba, pois a carta era de despedida, sem data ,com pedido de perdão e com uma linda declaração de amor por nós,... seus pais.
Nunca tínhamos visto a tal carta ! Como foi parar ali ! Que motivo ou desígnios de Deus para que a encontrássemos naquele dia e naquela horaa!
Rezamos abraçados e agradecemos a Ele, por nos entregar aquela que sem nenhuma dúvida será ; “A Carta de despedida do Natal de nossas vidas”.
* Este é um conto verídico. Aconteceu comigo e minha alma gemea e companheira a mais de quarenta anos. Acredite se quiser. Você pode até desacreditar, mas certamente não irá mudar o fato e nem minha opinião.