Um romance qualquer (parte 14)
Uma semana depois, após voltar de um jantar com um dos sócios de Heitor, Fabíola viu no computador que havia chegado um e-mail novo de M. O seu conteúdo a deixou com o coração na mão. Ele dizia que estava de visita pelo Brasil e queria vê-la, mandaria outro e-mail para combinar o local de encontro. Fabíola pensou por horas a fio e resolveu aceitar o convite de Mário, o encontro seria no mesmo restaurante tailandês, local da última conversa que tiveram.
Dois dias depois era o momento do reencontro, Fabíola sabia que nesta noite Heitor ficaria de plantão no hospital, então não tinha com o que se preocupar. Dentro do estabelecimento a Senhora Monteiro encontrou seu ex-noivo já sentado, pontual como sempre, apenas esperando-a.
- Fabíola Lassale – disse Mário – continua perfeita.
- Agora sou Lassale Monteiro – respondeu Fabíola.
- É mesmo, esqueci que você agora carrega um sobrenome de peso.
- Não exageraremos, nomes não significam muita coisa pra mim, você sabe disso.
- Claro, nunca me esqueci de você, lembro de tudo que diz ao seu respeito, sempre.
Fabíola ficou sem o que dizer, para disfarçar emendou com uma pergunta:
- Como está você em Milão?
- Muito bem, tenho um bom apartamento lá, trabalho num grande escritório, os colegas de trabalho são boa gente. Eu saio muito com eles para almoçar, ver os jogos do Milan, temos muitos gostos em comum.
- Que bom que você está bem, fico feliz por você.
- E você? Como está?
- Casada – Fabíola resumiu tudo o que queria dizer em uma palavra só.
- Está feliz?
- Talvez.
Os dois jantaram em silêncio. Na saída do restaurante Fabíola fez uma pergunta para Mário:
- A sua vida em Milão é tão boa quanto foi em Paris?
- Não e nunca será, nada vai se igualar ao que passei na França ao seu lado.
- Podemos reviver esses momentos agora mesmo – disse Fabíola, aproximando-se cada vez mais do ex-noivo e este se afastou um pouco dela. A moça ficou irritada e saiu rápido para o carro.
- O que aconteceu? Perguntou Mário.
- Qual é a sua? Pede pra eu te encontrar depois de meses passados, faz-me lembrar do nosso passado e me seduz num jantar como os de antigamente. O que você quer comigo afinal?
- O que eu quero não é mais possível.
- Por que?
- Você está casada.
Fabíola tirou a aliança do dedo e a guardou na bolsa e chegou com os lábios perto dos de Mário.
- Nesse momento não estou.
- O que você quer?
- Uma prova do seu amor.
Fabíola mal terminou a frase e já estava com a boca grudada na do arquiteto, não importa o lugar onde estivessem, era como se fosse Paris novamente. Dali foram para um motel.
Duas horas depois de uma cirurgia cansativa Heitor entra em sua sala e vê sobre a mesa um fino envelope, sem remetente, analisa seu conteúdo e nada fala, apenas pensa.
Poucas horas depois, no motel, após fazerem amor intensamente como nos velhos tempos, Fabíola e Mário assistiam a um filme na televisão e bebiam vinho. Mário interrompeu o filme ao falar com a moça:
- Arrisco a dizer que essa foi umas das nossas melhores até hoje.
- Pode até ser, deve ter sido por causa do grande intervalo desde a última vez – respondeu ela.
- É bem provável.
- Que horas são?
- Três e quinze da madrugada.
- Meu deus, eu preciso ir pra casa, minha ausência em casa não pode ser notada.
- Eu te levo pra casa – respondeu Mário.
- Melhor não, eu chamo o motorista do meu pai, não quero que você corra o risco de ser visto por Heitor.
- Está bem, despeço-me de você aqui.
- Como?
- Amanhã eu pego vôo de volta para Milão e não sei quando poderei voltar ao Brasil.
- Quando eu puder, fujo pra Itália, morar com você.
- Combinado então.
Fabíola não disse aquilo de brincadeira, estava disposta a fugir para Milão, viver ao lado de Mário novamente. A vida ao lado de Heitor estava impossível e insuportável, bem dizendo, ela não tinha uma vida com o marido, apenas estavam sob o mesmo teto. A despedida foi marcada por um beijo intensamente apaixonado, como nos tempos parisienses.
Ao chegar em casa, Fabíola notou que Heitor ainda não havia chegado e assim respirou aliviada.