Amor que destrói
O frio me percorria as espinhas. O tremor era evidente. Meu medo me contaminava, estava angustiado, triste, sozinho. Tentei fugir, buscar outra solução, mas ninguém poderia me ajudar. Eu tinha de fazê-lo.
O chiado de meus pulmões encardia a minha triste amargura naquele momento. Uma lágrima escorreu por entre meus olhos e caiu caprichosamente em minha blusa, molhando-a.
Ouvi de alguém uma vez que o suicídio era o único meio de se chegar instantaneamente ao inferno. Que fosse. Antes o fogo eterno do que a plena amargura que é uma vida sem amor.
Pequenos flashbacks passaram pela minha mente. Todos os meus atos. Minhas vitórias. E as minhas mais marcantes perdas. Duas lágrimas escorreram mutuamente uma de cada lado de minhas faces. A maior das perdas, Jully e minha filha. Ela ao menos tinha vindo ao mundo. As duas morreram em trabalho de parto deixando-me só.
Entornei o copo rapidamente e pude sentir o liquido acido percorrer minha garganta arduamente. Meu coração deixou de bombear o sangue que me percorria as veias. Minha visão perdeu a cor, assim como minha vida perdera o sentido dias atrás. Caí ao chão, cego. Sozinho. Inconsolável.
Vi meu corpo caído ao chão e um aperto percorreu-me o peito. Vi uma criatura, usando vestes negras. A mesma caminhou em minha direção com a cabeça baixa e os olhos cemicerrados. Ela me pegou pelos pulsos e puxou-me. Um desejo insano de resistir me passou pela cabeça, mas era besteira.
Chegamos a um lugar escuro. O ultimo feixe de luz vinha do céu e podia enxergar duas ou três nuvens. “A partir daqui você segue sozinho”. Disse a rouca voz penetrando em meus ouvidos. Tive o irresistível e plausível desejo de olhar uma ultima vez para o mundo que fizera do meu amor a minha morte. Da minha felicidade o meu inferno.
Ao longe a vi. Ela estava repleta de brancas vestes que lhe afagavam aos pés. Do seu lado uma criança. Uma menina. Não deixei de notar em suas faces, que manchava os belos olhos devido a gotículas que escorriam dos mesmos. Ela estava mais bela do que nunca. Sua feição despertou em mim a ânsia agonizante de voltar a vida. Infelizmente para viver era tarde demais. Eu escolhera a morte. Era uma escolha sem volta. Relutei contra meus instintos de perseguir minha insana vontade e segui meu caminho deixando em seus olhos penetrar o mesmo sentimento do qual seria feita a minha eternidade. Saudade.