Um romance qualquer (parte 13)
O tempo passara mais uma vez, faltava um dia para a cerimônia de casamento de Fabíola e Heitor. A moça estava com Luma no quarto experimentando o vestido pela última vez.
- Tem certeza de que vai fazer isso? Perguntou sua amiga.
- Absoluta, não adianta mais esperar que Mário volte da Itália para me libertar desse casamento. Eu dei a minha palavra ao Heitor e vou mostrar que eu a cumpro.
- Você é quem sabe – disse Luma.
O dia seguinte chegou, Fabíola estava maravilhosa, Heitor parecia um príncipe. A chácara escolhida para o evento era perfeita, os detalhes, preparados pela irmã do médico, estavam em perfeita harmonia com o ambiente. Todos os amigos da noiva estavam lá, Cristiano, a cunhada e a mãe também se fizeram presentes, mais para não deixar Fabíola sozinha neste momento do que para celebrar realmente. Enquanto ouvia as palavras do sacerdote, Fabíola pensou realmente em dizer não e até poderia ter dito depois, mas não teve coragem ao ver a expressão feliz de Heitor pela cerimônia.
Fabíola estava enfim casada, não com o homem que amava, mas casada. Como não podia deixar de faltar, ela ficou bêbada na festa, chamando toda a atenção para si, mas Heitor e o Senhor Lassale não se incomodaram nem um pouco com o showzinho, que só rendeu uma bruta ressaca para Fabíola, agora carregando o sobrenome Monteiro. Foi abrir os presentes de casamento apenas neste dia seguinte, em meio a pacotes abertos, jogos de lençóis importados e aparelhos de jantar refinadíssimos encontrou um modesto pacote, era presente de alguém conhecido, cujo nome começava com M. Fabíola não quis abri-lo, era muito doloroso naquele momento. Não que no pacote estivesse devidamente identificado o nome dele, ela apenas sabia de quem era. Mesmo ainda amando Mário, ela decidiu que iria tocar a vida, a relação com ele era uma incógnita, mas seu casamento era um fato consumado, portanto deveria viver para o concreto a partir de agora, a começar por sua lua-de-mel no Taiti. A viagem foi na noite daquele mesmo dia, a estadia foi perfeita, os serviços do hotel eram muito bem feitos, tirando uma pequena confusão entre Fabíola e uma camareira, suspeita de estar roubando peças dela. Os jantares eram perfeitamente exóticos. Aconteceu algo que Fabíola não imaginaria com Heitor, ela se divertiu, e, estava se divertindo, o médico era um excelente companheiro, e nesses momentos, ela não pensou em Mário, nem um pouco.
Tóquio, apartamento novo de Cristiano, jantar com o sócio.
- Como assim – gritou Cristiano, assustado – você quer sair da sociedade?
- Isto mesmo.
- Que motivo você teria? Estamos indo tão bem.
- Ora rapaz. Você não precisa mais de mim para tocar o negócio, ganhou o suficiente para se virar sozinho. Você ainda tem muitos frutos para colher, eu apenas te dei uma ajuda inicial.
- Não é bem o que eu queria, mas você tem o direito de sair. Passe aqui em casa daqui a uma semana, pagarei os seus haveres e vou fazer um novo contrato.
- Eu não quero nada.
- Como?
- Não quero receber nada.
- Mas vai, pelo menos seus direitos você irá receber.
- Tudo bem, eu passo na semana que vem aqui, mas saiba que eu não preciso de nada do que você vai me dar.
- É, eu já sei. Você já é rico e blá blá blá. Cansei de ouvir o discurso.
Cristiano assinou um cheque na hora como adiantamento para seu sócio.
- Tome, este é um agradecimento, por tudo que você fez por mim – disse Cristiano.
- Imagine, pra mim foi uma honra te ajudar a crescer.
Uma hora depois ele foi embora. Cristiano não podia deixar de estranhar o jeito do sócio, era um homem muitíssimo fechado, falava pouco, mas era incrivelmente generoso e deu uma grande força para o rapaz conquistar o que lhe era merecido. Sabia apenas isso dele, o sócio não falava de família, isso se tinha alguma. Agora tinha que pensar no futuro da empresa. O que faria? Tocaria sozinho o negócio? Ou tentaria arranjar um novo sócio? Chegou a pensar em seu amigo Mariano Vivaldi, mas desconsiderou, ele estava muito bem lá no Banco Vivaldi. Diferente de Cristiano, Mariano gostava realmente de trabalhar na área. E o que faria com o dinheiro ganho? Gastaria? Aplicaria na bolsa? Daria um pouco para sua irmã? Eram tantas questões que Cristiano resolveu se deitar e dormir. Estava sozinho no novo lar, a noiva viajava a trabalho.
Todos aparentemente muito bem, casados, ricos, mas havia uma pessoa que não tinha nada disso, estava sofrendo sozinho num escritório na Itália. Além da pesada carga de trabalho, Mário não suportava a ausência de Fabíola em sua vida. Tinha pedido que ela não fosse se despedir no aeroporto na esperança que a moça ignorasse e fosse assim mesmo. Pensou várias vezes no aeroporto em desistir da oportunidade, pelo seu amor, mas a magia não aconteceu. Fabíola não foi pedir que ele ficasse, foi a vez dele se perguntar: ela não o amava mais? O erro que ele cometeu abalou tanto o sentimento dela?
- Você vem com a gente Mário? Perguntou Filipo, um novo companheiro de trabalho.
- Vão na frente, encontro vocês no restaurante.
Lá foi Mário para um jantar com os colegas do trabalho, eles faziam isso uma vez por semana, nas reuniões conversavam sobre tudo que gostavam: política, artes, esportes e logicamente, arquitetura. Mário os encontrou lá, mas durante o jantar ficou distante da conversa, acordou quando ouviu seu nome sendo chamado:
- Você concorda Mário? Perguntou Filipo.
- Como? Concordar? Sobre o quê?
- Assistir Milan x Internazionale. Quer ir conosco?
- Claro, não perco este clássico por nada.
- Combinado então.
Mário voltou a ficar distante, apenas ele e a taça de vinho em sua mão.
Um mês se passou, Fabíola ficava o dia inteiro em casa, não estava trabalhando, o que era horrível para ela, pois os serviçais não a deixavam fazer nada, tomavam conta de tudo. Esta falta do que fazer fazia mal à moça recém casada, pois não conseguia lidar com o tédio em dose exagerada, às vezes chegava a baixar uma depressão sobre ela. Fabíola estava em frente ao seu notebook, mexendo na internet, viu que tinha um novo e-mail na caixa de entrada e clicou nele curiosa, pois não se lembrava deste endereço de e-mail na lista de contatos. A mensagem dizia: Estou com saudades de você. Como anda a sua vida? O remetente estava identificado apenas como M.
Não demorou muito para Fabíola reconhecê-lo e disse: Estou casada, esperei que você desistisse e viesse me buscar para fugirmos juntos, mas não aconteceu. Identificou-se como F.
Mário respondeu que esperava que ela fosse até o aeroporto pedir que ele ficasse, mas também não aconteceu, mas entendeu que ela tomara uma atitude para seguir com a vida depois da decepção que lhe causara. Ele havia feito o mesmo. Mas se restava alguma dúvida ainda, ele afirmou que havia feito a pior burrada de sua vida, perdera a mulher que amava não para Heitor, mas para si mesmo.
Dia a dia, a única coisa que não deixava Fabíola enlouquecer era a troca de mensagens com Mário.