Um romance qualquer (parte 12)

O tempo ia passando cada vez mais rápido e Fabíola não tinha o menor interesse pelos detalhes do casamento, esse evento com certeza não seria como era pra ser com Mário. Com o ex-noivo seria um casamento de verdade, a união deles através do amor. Ela nem sabia exatamente que motivo a tinha levado a casar com o médico, se seria apenas para sair da casa do pai ou se realmente era para provocar Mário.

Fabíola estava descansando em seu quarto quando chegou uma carta ao seu quarto trazida por Carlo. O remetente da carta era seu ex-noivo, o conteúdo era um pedido de um encontro no restaurante tailandês onde jantaram com Cristiano e Yoko. A moça pensou em não ir, mas acabou aceitando, sabia que este encontro devia ser muito importante para ele e não iria cometer tão grande desfeita.

Na noite do encontro Fabíola colocou a mesma roupa do jantar com o irmão e a cunhada em Paris. Chegou ao restaurante e lá estava Mário, pontual como sempre, o mesmo homem que a deixou apaixonada, nada mudou nele. Mário afastou a cadeira para Fabíola sentar e deu-lhe um beijinho no rosto.

- Como você está Fabíola?

- Noiva – respondeu a moça.

- Eu já sei, Carlo me contou a respeito.

- Esteve na minha casa?

- Eu entreguei a carta pessoalmente nas mãos dele. Mas quero saber como você está e não seu estado civil.

- Estou melhor agora, parei de chorar por sua causa.

- É ótimo saber que você está bem, o que eu fiz em Paris não significa que eu não me preocupe com você.

- O que você quer afinal Mário? Veio pedir desculpas? Quer reconciliar? Voltar a ser meu noivo? Está pensando em aparecer na cerimônia e me levar embora? Qual sua intenção com o encontro?

- Só vim avisar que estou indo embora.

- Do restaurante? Nem jantamos ainda.

- Do Brasil.

- Como assim?

- Eu consegui um emprego num grande escritório em Milão, fico mais um tempo no Brasil, arrumo as coisas e parto para a Itália em um mês e meio.

Fabíola ficou sem reação.

- Não se preocupe, não vou atrapalhar seu casamento, nem estarei aqui quando acontecer.

- É bom saber que você se arranjou – disse Fabíola. E o seu sócio?

- Ele vai continuar com o escritório, está arrumando outro para o meu lugar.

- Como ele reagiu a isso?

- Ele não ficou radiante, já que mal tínhamos começado, mas sabia que é uma chance única.

Fabíola fingia uma expressão alegre no rosto. Queria que aquilo que ouvira fosse tudo uma brincadeira da parte de Mário.

O rapaz a deixou em casa após o encontro, ele já havia comprado um carro, nada muito sofisticado, mas era seu.

- Só quero pedir uma coisa a você – Disse Mário.

- Peça.

- Não vá se despedir de mim no aeroporto, viva sua vida, esqueça o cara que te fez sofrer.

Fabíola não sabia o que falar, achava que ele ia pedir justamente o contrário, para dar um último beijo ou coisa parecida. Calada, apenas gesticulou positivamente com a cabeça. Foi para a sua cama sem digerir direito as palavras de Mário. Ainda não havia caído a ficha.

Senhor Lassale chegou de viagem. Carlo ajudou-o a carregar suas coisas até o quarto.

- Então Carlo. O que aconteceu por aqui enquanto eu estive fora?

- A sua filha terminou o noivado com Mário, algum tempo depois assumiu outro com o Dr. Heitor Monteiro.

- É mesmo? Interessante saber isso – disse o banqueiro com um sorriso de satisfação.

- O Senhor Vivaldi, dono do banco que tem o mesmo nome, ligou atrás de você, está interessado em fazer negócio.

- Havia me esquecido de que ele iria me ligar, provavelmente não sabia que eu estava fora.

Carlo saiu de seu quarto para deixá-lo descansar. Gilberto sentou em sua cama com uma alegria que não podia medir. Como sua filha dizia: ele havia marcado um ponto.

Fabíola estava inconformada com o pedido de Mário, não conseguia entender o sentido daquilo. Ele não a amava mais? Pelo que falara ao deixá-la em casa fazia entender que sim, mas Fabíola não queria pensar mais nisso. Foi tomar um banho para sair com seu amigo Tiago, mas inevitavelmente pensou em tudo o que aconteceu. Era pra ser tudo perfeito, estava dando seu sangue para fazer a festa dar certo, conversou com Heloísa, amiga de Luma, que havia tido um casamento perfeito com Henrique Vivaldi há alguns anos atrás. De banho tomado ouviu o som do carro de Tiago no portão da mansão. Os dois foram a um café perto da casa dela, a pé mesmo. Fabíola não agüentou e contou ao amigo tudo o que havia acontecido, disse o que estava sentindo e todo o seu medo. O amigo a interrompeu:

- Fabíola, você é tão inteligente, mas agora está sendo tão bobinha. Claro que ele ainda te ama, está apenas se afastando por não querer correr o risco de te fazer sofrer novamente.

- Você acha isso mesmo?

- Tenho certeza. Se ele não te amasse nem ligaria pra você, não ia querer saber como você está. Eu sei que ele passava em frente à sua casa todas as noites.

- Não sei o que pensar neste momento.

- Não pense nada agora, apenas saiba que ele te ama.

O tempo passou voando, chegou o dia da viagem de Mário. Fabíola pensou em despedir-se dele lá, mas achou melhor não, ele poderia não querer vê-la mesmo. Na verdade ela esperou que Mário desistisse de tudo para ficar com ela no Brasil, o que não aconteceu, ele não largou a oportunidade e nem apareceu num cavalo branco para levar a princesa Fabíola. Ela teve que se conformar com isso, o amor de sua vida fora embora e não voltaria tão cedo. Neste momento ela se arrependeu profundamente de ter tirado a aliança, tudo por causa de uma pequena traição que não poderia abalar realmente o amor dos dois, Fabíola compreendia isto agora. Em pouco mais de um mês casaria com Heitor, não iria desmanchar o compromisso, dera a sua palavra ao médico e, mesmo Fabíola sendo um pouco doida, cumprir o que promete é algo de muito valor para ela. Casaria com Heitor amando Mário. Ela chorou até não poder mais, quando finalmente parou pegou remédio para dormir e encheu um copo de uísque, misturou as drogas e capotou em sua cama, depois acordou em outra, de hospital. Abriu os olhos e a primeira pessoa que viu foi o noivo:

- Como você está? Perguntou Heitor.

- Depende. Que lugar é este? Como eu vim parar aqui?

- Você misturou remédio com álcool. Teria se matado esta noite se não fosse Carlo.

- Sempre o Carlo salvando minha vida. Onde está ele?

- Está cuidado da casa agora, mas ficou com você neste quarto a madrugada inteira.

- O que fizeram comigo? Fabíola estava com forte incômodo no estômago e na garganta.

- Tivemos que fazer uma lavagem estomacal.

- Vocês poderiam me deixar sozinha um pouco? Pediu a moça ao noivo e aos enfermeiros presentes no quarto.

- Não sei se é uma boa idéia – respondeu Heitor.

- Eu não vou fazer nada que possa custar a minha vida, fique tranqüilo.

Heitor e os enfermeiros deixaram o local. Fabíola não lembrava o que aconteceu durante a madrugada, mas jamais esqueceria o que a levou a fazer aquilo, ou melhor, quem.

Gilberto Lassale estava em reunião com o Senhor Vivaldi, mesmo sabendo disso, Carlo ligou para ele avisando o que acontecera. Pela primeira vez ele sentiu algo que há muitos anos não tinha por algum ente da família: preocupação.

No hospital Fabíola não parava de pensar em Mário, em sua despedida, agora havia compreendido que ele foi embora pra não voltar mais. A moça tinha vontade de socar a si mesma pelo que fizera com ele.

Farah
Enviado por Farah em 02/02/2009
Código do texto: T1419022
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