Um romance qualquer (parte 9)
Passados dois dias, Mário estava na mansão, cuidando de Fabíola.
- Vamos meu amor, coma mais, você precisa se alimentar.
- Não Mário, eu não agüento mais empurrar comida para o estômago sem vontade de comê-la. Quando bater a fome eu como.
- Tudo bem, vou deixar o prato na cozinha e já volto.
Naquele dia ela não conseguia olhar direito para Mário. Como poderia ele trair e sorrir para ela com a mesma cara? Estava difícil conter a raiva.
Ele voltou para o quarto:
- Quando vai voltar à chácara para continuar a montar a nossa festa? Já falou com seu irmão? Ele já pagou uma parte adiantada? A banda já ta contratada? Mário encheu Fabíola de perguntas, deixando-a estressada.
- Pára. Chega, não vai haver mais festa. Cansei de tudo.
- Como? Está dizendo que depois do trabalho que está tendo não quer uma festa de casamento comigo? Como assim meu amor?
- Não vai haver festa, não vamos casar, nunca mais quero te ver na minha frente.
- O que está dizendo? Como assim não quer me ver mais? Cansou de mim?
- Cansei de ter sido enganada o tempo todo por você. Eu me apaixonei de verdade por você, daria minha vida pra te salvar, cara. Eu me entreguei a você, confiei em ti verdadeiramente.
- Diga-me meu amor. Por que está gritando deste jeito comigo?
Fabíola levantou rapidamente da cama, ligou o DVD e a televisão na cena da relação amorosa entre ele e Julie.
- Parece uma explicação racional para a minha raiva – disse Fabíola – até que escolheu uma francesinha bonitinha para me fazer de trouxa.
Mário não sabia o que dizer.
- O que foi querido? Encheu a minha cabeça de perguntas e agora não tem palavras para explicar o que fez. Não precisa, é fácil, chama-se traição.
- Você vai... – o rapaz tentou começar a explicar.
- Pára. Melhor ficar calado, nem mil palavras podem dar uma boa justifica para a sua atitude. Como você teve coragem? A palavra amor significa algo pra você?
- ....
- Vai negar que fez esta sujeira comigo?
- Não. Eu assumo o que fiz. Fui um sacana com você e também fui fraco, não resisti à tentação.
- Quando eu ligava e você não atendia.
- Eu estava com ela, no meu quarto.
- De onde você a conhece?
- Da Sorbonne mesmo, ela fez um trabalho comigo. Você acha mesmo que eu não pensei em você um segundo sequer? Eu me senti o ser mais nojento da face da terra. Eu já disse, fui um fraco.
- Ah é? Vai ser fraco em outro lugar e trair outra mulher! Pois a mim você não vai mais machucar.
Fabíola fez o que cortou o coração dos dois e colocava fim ao laço: tirou a aliança de seu dedo e jogou-a aos pés de Mário.
- Pegue-a de volta, não preciso mais disto.
Mário recolheu o anel do chão e foi embora da mansão sem dizer qualquer palavra. Fabíola chorou pelo resto da tarde daquele dia.
Passaram dias e dias, Fabíola mal se alimentava e a única coisa que a sustentava era o próprio orgulho. Carlo estava cada vez mais preocupado com a moça, sabia de tudo o que acontecia naquela casa e obviamente tomou conhecimento do fim do noivado. Ela ficava trancada no quarto o dia todo, sem querer ver ninguém. Depois da briga foi imediatamente à chácara cancelar a festa e pagar o que já havia pronto, seu irmão lhe deixara dinheiro antes de voltar para o Japão. Fabíola apenas chorava todos os dias lembrando-se da dura rasteira que levara do seu amor, ela não havia sofrido decepção maior até hoje. Mário conseguiu abrir seu próprio escritório de arquitetura com um sócio, mas mal conseguia se concentrar, no seu serviço errava algumas coisas básicas, mas por sorte seu colega as consertava para ele. Após o serviço ia para casa, depois saía para passear, toda noite. O rapaz insultava a si mesmo todos os dias por ter sido fraco e não ter resistido à francesinha, tinha vergonha de se olhar no espelho. Sentia-se a cada dia o pior ser de todos, lembrou de uma vez acreditar que nunca iria falhar e causar decepção às pessoas que amava. Confiou demais em si mesmo, deu no que deu. Carlo não disse à Fabíola que o rapaz ficava parado em frente à mansão todas as noites.
Cristiano soube da situação da irmã por telefone, em seguida ligou para a mãe na Alemanha, ambos viajariam para o Brasil para cuidar de Fabíola.
Um dia depois os amigos foram visitá-la na mansão. Ficaram todos no quarto dela cuidando para que comesse direito e parasse um pouco de chorar. Assistiram a vários filmes com ela durante o dia todo, fizeram de tudo para ela se sentir melhor, tiveram um pouco de sucesso à noite quando ela aparentemente ficou bem. Quase todos haviam ido embora já, o único que restou foi Róbson que estava fumando na sacada do quarto . Fabíola foi até o amigo e notou que ele usava algo diferente de um cigarro comum.
- Está fumando maconha? Perguntou a amiga.
- Estou, desculpe ter mentido, eu sabia que você não ia deixar.
- Tudo bem, meu pai está viajando mesmo. E mesmo que Carlo soubesse, ele não me deduraria.
- Quer um pouco? Ofereceu Róbson.
- Nem pensar, apesar da louca que sou, não me envolvo com drogas.
- Só um pouco não vai te matar. Eu fumo quando não estou passando bem. Ver você sofrer assim não é bom pra mim. Eu sempre soube a hora de parar, espero que você também use com moderação.
Fabíola pegou um baseado que estava no bolso de Róbson e o acendeu, os dois ficaram uma hora fumando até o amigo ir embora.Uma hora e meia depois Carlo entrou no quarto de Fabíola para ver se ela estava dormindo, encontrou a moça esticada na cama e na mesinha de cabeceira um copo e uma garrafa de vodca na metade de seu conteúdo. O mordomo cheirou o copo pra certificar que ela bebera tudo aquilo, depois o levou para cozinha.