Lembro do cheiro da maresia e muito vagamente do meu companheiro de viagem.
A tarde findando lenta e o barquinho de madeira pintado em dois tons de verde com um motor barulhento. Íamos deslizando sob o céu azul e limpo. Como sempre, ri das piadas, escutei as mesmas histórias e o som da agua batendo no casco...era minha cançao companheira.
Noite caindo preguiçosa . Morna. Perfeita. As luzes da baía, casinhas vistas de longe... cada vez mais distante. O vento em meus cabelos e os respingos d'agua no rosto. Se eu fosse Iemanjá ou sereia saberia a direção e tomaria outros rumos.
Um abraço forte e o marinheiro me beijou. Tão doce , tocou meu rosto com carinho e rimos como crianças.
Deitados no fundo do barco, olhando as estrelas, sem hora para voltar , de mãos dadas, namorando a madrugada... Romances vem e vão. São como ondas, tormentas ou marolas miúdas quebrando na areia.É sempre assim...partem em meio aos acenos e promessas de regresso. Eu me despeço sabendo que é para sempre.
Mulher da noite não tem amor certo. É companhia por uma semana, um dia, horas ou minutos.
Rostos perdidos, idas e vindas, ciclos de luas e tabela de marés. Roda gigante, carrossel de existência nula....
Bebidas, risadas, perfume barato, um salto quebrado, jogo da vida, de sorte ou azar.