Eu e o Menino
Foi por alguma razão desconhecida, talvez o desejo intenso de fazer isso, que ele conseguiu voltar ao seu passado, à época de sua infância, quando seus desejos ainda eram seus sonhos e quando realiza-los não era sua preocupação.
Viu-se de longe pequenino e achou graça, o Menino que agora era Homem havia mudado muito, antes era gordinho e corado, e agora era um magro que selecionava cuidadosamente o que comer, não por saúde, mas por refino.
A outra diferença é que o Menino tinha amigos, conversava e sorria, coisa que o Homem já não lembrava e ficou se lembrando da época que ele via pessoalmente e tentando adivinhar qual seria o próximo passo de sua infância. Acertou quase tudo.
Depois de algum tempo observando, o Menino deixou seus amigos e foi embora para casa, quando foi abordado:
— Olá, eu sou você no tempo que você se tornar eu.
O Menino não entendeu e só acenou a cabeça concordando, pois não diria a um estranho que não o havia entendido. Algo que também havia mudado era a maneira de pensar. O Homem agora era um filósofo, selecionava o que diria de forma cautelosa. O Menino era simples, falava como os jovens da sua idade, não era nenhum vencedor em nada, nem especialmente ruim em alguma coisa.
— Desculpa, quero dizer que eu sou você no futuro. Vim do seu futuro. Sou o Homem que o você, Menino, irá se tornar. — explicou-se, sorrindo da sua cara nova e espantada.
— Mentira. Pois qual é o meu nome?
— É Menino. E será Homem quando chegar a ser eu.
O Menino ficou espantado, mas ao mesmo tempo animado com aquela idéia de que ele estava falando com alguém do futuro e que ele seria como aquele homem era.
— Se quiser outra prova, digo que você é apaixonado pela Menina. Como eu saberia disso se ninguém mais sabe?
As palavras não foram mais necessárias para se ter certeza. Ele agora só queria conhecer o Homem e saber o que iria acontecer, esqueceu da diversão, dos amigos e, pela primeira vez, pensou no futuro...
— Então quer dizer que daqui alguns anos eu irei conseguir a Menina? Conte-me novamente.
O Homem novamente contou tudo, da Menina, da forma como eles irão se reencontrar no futuro, das brigas, dos problemas de relacionamento, das dificuldades, dos tormentos, das decisões, dos sonhos irrealizáveis e dos sonhos que se realizavam e tornavam-se feridas humilhantes, da mágoa, da dor de querer ir embora lutando com a vontade incontrolável de ficar para sempre. O Menino ficou triste, pois não havia nada de bom naquilo, sonhara com a Menina perfeita, que ambos seriam exatamente iguais e todos seus sonhos e fantasias seriam, misteriosamente, os mesmos. Eles se completariam, em absoluto, em suas igualdades. Mas, agora, descobria que ela nunca se tornaria perfeita se ele não fizesse algo. Que, provavelmente, nem mesmo eles terminariam juntos suas vidas tão certas de assim morrerem.
— Mas, por que veio me contar tudo isso? Agora vou deixar de gostar dela. Estou com medo de perder o carinho que já sinto sem tê-la se passar a tê-la.
O Homem não havia pensado muito nos porquês de sua viagem, queria mesmo ver e relembrar da sua infância, talvez para descobrir a fonte de sua vida.
— Não quero que deixe de amá-la, pois é a coisa mais especial que já aconteceu em nossa vida. Mas ela se torna imperfeita, ela quebra o seu sonho a partir do momento que você a deixa tomar de conta dele. Enquanto o sonho é só seu, ele é perfeito, a Menina é a Menina dos seus sonhos, é sua fantasia. Mas, depois que você deixa ela invadi-lo, ela não poderá mentir para você e mostrará realidade dela dentro do seu sonho. E o real vence o seu amor por ela, o enfraquece.
— Ela te nos ama? — perguntou o Menino depois de um tempo pensando nas últimas palavras do Homem.
— Você quer isso?
— Claro!
— Então não pense e nem me pergunte se ela te nos ama. Faça isso.
O Menino já não estava empolgado com toda aquela aventura futurística, queria voltar, não gostou de pensar no futuro, ainda mais de forma real. Seu futuro era pensar que nas férias iria a praia ou próxima segunda conseguiria levar uma flor à Menina e pedí-la em namoro.
— Eu sou apenas uma criança de 11 anos, não sei o que fazer.
Ficaram sem dizer nada por um instante e o Menino começou a chorar. Desde que chegara ali, no fundo, o Homem queria encontrar as falhas que o tornaram aquela pessoa sem graça, sem vida, sem idéias. Mas agora sentiu compaixão de si mesmo. Viu-se e viu que ainda era uma criança como ele mesmo a sua frente. E que nunca havia crescido justamente por nunca saber o que fazer, por se deixar se perder e não vê o Menino toda vez, acompanhando seu crescimento, ele se abandonou e nunca foi atrás de si mesmo. Perseguiu seus sonhos, eu os realizei, imaginou Homem, olhando para o Menino que chorava sem vergonha, mas voltei para o passado para saber que os sonhos que vivi queriam ser destruídos.
Despediu-se e desejou que tudo fosse esquecido quando o Menino acordasse, e teve certeza que seu desejo seria realizado. Ele sempre esquecia as coisas importantes da sua vida...