O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo II
pala pra trás, como um garoto. Isabel odiava vê-lo vestido daquela maneira. As roupas antigas foram esquecidas no “closet” que os dois haviam compartilhado até a descoberta da traição. Ivan se transferira para a ala de hóspedes da mansão. Isabel sentia-se a última das mulheres. O corpo quase obeso, em nada a ajudava. Da bonita mulher que fora um dia, nada restara. As feições duras acentuavam-lhe ainda mais as rugas. Só o trabalho na faculdade, onde lecionava, lhe dava satisfação. Para piorar o seu estado de ânimo, Vani, a filha querida, bonita, estudiosa, equilibrada, perdera totalmente o juízo. “Conhecera”, numa sala de bate-papo da Internet, o rapaz espanhol com quem se casaria dentro de poucas horas.
Os colegas da Faculdade de Direito, em vão, tentaram convencê-la a esperar o final do curso. Ponderavam: “Só faltam seis meses para a nossa formatura, Vani! É o tempo que vocês terão para se conhecer melhor”. Os jovens da igreja presbiteriana, freqüentada por ela, fizeram apelo igual. A pedido de Isabel, o Pastor também a aconselhou. Falou da seriedade do matrimônio, das implicações, da responsabilidade, do amor não apenas físico. Mas ninguém foi capaz de demovê-la do casamento apressado. Ela não podia esperar mais, e Luciano também não.
O Coronel Ivan Noronha, enamoradíssimo, vivia sua fase do “laisser faire, laisser passer”* . Em nada colaborou para desestimular a filha. Pra ele só importava o amor em toda sua plenitude. Assim como não aceitava imposição ou palpite de ninguém, ele não gostaria de se opor ao momento de sonho e romantismo da filha.
Vestida com um roupão de piquê branco, Vani saiu do banheiro para o quarto. O cabeleireiro Marquinhos a esperava aos prantos. Uma sua assistente o seguia com um lencinho de cambraia na mão, secando-lhe o suor e as lágrimas. Calma, Vani sentou-se diante do enorme espelho de cristal e não disse uma palavra. Estava em outra dimensão.
Estressadíssimo, o cabeleireiro berrava com todos a sua volta:
– Meu Deus! É hoje que a minha fama vai pras cucuias. Metade dos meus neurônios se consumiu, estão em curto circuito. Não há profissional que resista a tamanho stressss!!!!! Vani, você conseguiu me desestruturar! – a voz esganiçada se ouvia no andar de baixo, para diversão dos cozinheiros e garçons, que se movimentavam entre a cozinha e o salão de festa.
No imenso jardim, idealizado por um paisagista famoso, mesas lindamente decoradas se espalhavam. Os músicos perfeitamente vestidos e afinados tocavam um repertório bastante eclético, indo do popular brasileiro a algumas peças espanholas e outras clássicas, tudo escolhido pelos noivos.
Vani foi cercada pela equipe de profissionais. Enquanto maquiadores e cabeleireiros cuidavam dela, seus pensamentos voltaram ao dia em que encontrou Luciano na sala de bate-papo. Foi no dia seis de janeiro. Quatro meses antes. No começo ele brincou e ela não gostou da brincadeira. Luciano pediu desculpas de maneira tão
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo II
pala pra trás, como um garoto. Isabel odiava vê-lo vestido daquela maneira. As roupas antigas foram esquecidas no “closet” que os dois haviam compartilhado até a descoberta da traição. Ivan se transferira para a ala de hóspedes da mansão. Isabel sentia-se a última das mulheres. O corpo quase obeso, em nada a ajudava. Da bonita mulher que fora um dia, nada restara. As feições duras acentuavam-lhe ainda mais as rugas. Só o trabalho na faculdade, onde lecionava, lhe dava satisfação. Para piorar o seu estado de ânimo, Vani, a filha querida, bonita, estudiosa, equilibrada, perdera totalmente o juízo. “Conhecera”, numa sala de bate-papo da Internet, o rapaz espanhol com quem se casaria dentro de poucas horas.
Os colegas da Faculdade de Direito, em vão, tentaram convencê-la a esperar o final do curso. Ponderavam: “Só faltam seis meses para a nossa formatura, Vani! É o tempo que vocês terão para se conhecer melhor”. Os jovens da igreja presbiteriana, freqüentada por ela, fizeram apelo igual. A pedido de Isabel, o Pastor também a aconselhou. Falou da seriedade do matrimônio, das implicações, da responsabilidade, do amor não apenas físico. Mas ninguém foi capaz de demovê-la do casamento apressado. Ela não podia esperar mais, e Luciano também não.
O Coronel Ivan Noronha, enamoradíssimo, vivia sua fase do “laisser faire, laisser passer”* . Em nada colaborou para desestimular a filha. Pra ele só importava o amor em toda sua plenitude. Assim como não aceitava imposição ou palpite de ninguém, ele não gostaria de se opor ao momento de sonho e romantismo da filha.
Vestida com um roupão de piquê branco, Vani saiu do banheiro para o quarto. O cabeleireiro Marquinhos a esperava aos prantos. Uma sua assistente o seguia com um lencinho de cambraia na mão, secando-lhe o suor e as lágrimas. Calma, Vani sentou-se diante do enorme espelho de cristal e não disse uma palavra. Estava em outra dimensão.
Estressadíssimo, o cabeleireiro berrava com todos a sua volta:
– Meu Deus! É hoje que a minha fama vai pras cucuias. Metade dos meus neurônios se consumiu, estão em curto circuito. Não há profissional que resista a tamanho stressss!!!!! Vani, você conseguiu me desestruturar! – a voz esganiçada se ouvia no andar de baixo, para diversão dos cozinheiros e garçons, que se movimentavam entre a cozinha e o salão de festa.
No imenso jardim, idealizado por um paisagista famoso, mesas lindamente decoradas se espalhavam. Os músicos perfeitamente vestidos e afinados tocavam um repertório bastante eclético, indo do popular brasileiro a algumas peças espanholas e outras clássicas, tudo escolhido pelos noivos.
Vani foi cercada pela equipe de profissionais. Enquanto maquiadores e cabeleireiros cuidavam dela, seus pensamentos voltaram ao dia em que encontrou Luciano na sala de bate-papo. Foi no dia seis de janeiro. Quatro meses antes. No começo ele brincou e ela não gostou da brincadeira. Luciano pediu desculpas de maneira tão