sem título

//não há amor eterno,

nem dor que dure para sempre,

nem amor que seja eterno.

nem você.//

Suspeito que sofrerei; não por você ou por outra qualquer, mas pelos caminhos eternos da distância. Sofrerei sabendo que faltaram tuas palavras, e esse silêncio - que cresce como câncer dentro de mim - não me permite o ontem e o hoje sem que nuvens de chumbo encubram o amanhã. Sofrerei, é fato, em um canto escuro e úmido, entre pensamentos amorfos e chuva fria. No canto que nem mesmo será meu.

Meu canto é de dor, de fé perdida, de incertezas e mentiras. É um canto ao barqueiro, cujo óbolo não posso pagar. E os violinos e violoncelos – desafinados – marcam minha trilha sonora de despedida; vidro arrastando no vidro, a faca arranhando o prato.

Sentir dor, mesmo com o corpo repleto de morfina, reflete certa mortalidade, a observância do mundano e o sofrimento desse mundo. Minha dor sem cortes, minha dor sem sorte, minha dor é minha e somente minha. Minha dor espera as folhas rubras caírem na negra noite de outono.

Escondo-me na escuridão sem um sorriso no rosto, escondo em minhas mãos os pedaços rasgados de uma foto velha, onde o verde desbotado me leva em um caminho sem volta. Morre a esperança e eu continuo. Morre a esperança e meu sorriso continua. Morre a esperança, morre depressiva. Nem mesmo ela sorri na escuridão, nem ela sorri para mim.