De manhã
“Então disse Deus: “Cubra-se a Terra de vegetação”. (...) E esse foi o terceiro dia.
Disse também Deus: (...) “E voem as aves sobre a Terra. (...) Esse foi o quinto dia.
(Gênesis 1:11-23)
Foi numa manhã ensolarada que eles se encontraram: um beija-flor, de peito estufado, colorido, garboso e cheio de si e um botão de rosa, prestes a desabrochar...
Ele, com um ar um tanto quanto imperial, algo que o fazia não ser mais um na multidão, algo que o tornava diferente e especial. Ela, meio que adormecida, fechada em seu próprio mundo, com medo dos outros, tímida, olhava somente para si.
Contudo, naquela manhã, em especial, se cruzaram, ou melhor, ele a viu e desejou estar a sós com ela. Pousou, por esse motivo, sobre aquela “quase-flor” e a beijou. Esteve com ela, sobre ela, instantes suficientes pra se sentir único no mundo, instável, perturbado e, além do mais, para fazê-la desabrochar.
Foi isso. Foi nessa manhã que ela desabrochou. Molhada pelo orvalho matutino, ela foi beijada de uma maneira que não tinha como não querer se abrir para o sol, para o ar, para a vida... E transformou-se em flor. Finalmente flor.
Depois disso ele nunca mais conseguiu espalhar pólen por outras flores, nunca mais foi o mesmo. Tocou e foi tocado. E ela? Sem aquele beijo, como seria flor? Sem aquele beijo, como ela desabrocharia?
Foi numa manhã em que tudo isso sucedeu e seja o que Deus quiser!!!
IZABEL MAIA.