O mais belo nascer do sol
O MAIS BELO NASCER DO SOL
E mais uma vez ela estava lá, sentada na areia fria e dourada da praia, assistindo o sol escondendo-se perto das águas do mar que estavam calmas. Tão serenas quanto a jovem. Era incrível como todo fim de tarde ela era encontrada naquele mesmo lugar, seus orbes azuis miravam a cena profundamente, era como se sua vida depende-se daquilo.
Já fazia alguns meses que ela começara a agir de forma estranha. Estava distante, já não sorria como antes, seus amigos estavam preocupados, mas sabiam que nada do que eles fizessem fariam com que ela recuperasse o brilho no olhar.
A brisa soprava insistente e teimava em brincar com os longos fios dourados da menina que parecia não se importar. Fazia algum tempo que nada mais importava, ela não mais vivia... Apenas sobrevivia.
Esperara naquele mesmo local as quatro estações:
Esperou durante o outono, assistira também, de longe, as folhas secas caírem das árvores, ela sentia-se tão fraca como elas, sua esperança secava aos poucos, mas ela esperaria ali, como tinha prometido.
Esperou durante o frio insuportável do inverno, sua pele alva era castigada pelos ventos cortantes, mas aquilo não importava. Ela seria fiel e continuaria ali, assistindo aos mais belos pores-do-sol.
Esperou durante a bela primavera, observara os pássaros voarem aos pares e as árvores voltarem a florescer. Sentiu um pequeno fio de esperança brotar em seu coração e decidiu ser forte novamente.
Agora, esperava durante o verão, sentia suas energias sendo drenadas pelo próprio sol o qual ela tanto observava, estava muito exausta, sentia que não conseguiria suportar aquilo por muito tempo, mas enquanto ela conseguisse, ficaria ali.
Em um desses finais de tarde, recebeu a visita de alguns amigos. Ela sabia que aqueles eram verdadeiros amigos, por que foi apenas aquele grupo reduzido de quatro pessoas que continuaram a procurá-la e insistiam em falar-lhe, mesmo que sua voz já não mais saísse de seus lábios.
“Volte para casa”. Era o que eles sempre diziam. “Vai ficar doente se continuar assim”
Ela agradecia a eles com o olhar e voltava na companhia daquelas pessoas para a sua confortável casa, onde encontrava seus pais olhando-a com um misto de dor e culpa. Culpa por terem que assistir a pobre garota definhando e não poderem fazer nada. Eles fizeram tudo o que estava ao alcance deles. Chamaram os mais talentosos profissionais, mas ninguém conseguia tirar uma palavra da jovem.
No outro final de tarde, na mesma praia, encontrava-se a mesma jovem, o mesmo olhar perdido, o mesmo desespero, era lastimável ver uma figura tão bonita naquele estado lamentável.
Alguns dias depois, como era de se esperar, o frágil organismo daquele ser, já não conseguia mais suportar, e enquanto seus olhos observavam o mesmo sol, eles teimaram em se fechar.
Quando acordou, viu-se em um ambiente calmo, tudo branco, por alguns instantes imaginou-se no céu, mas ao ver a face de sua mãe deitada ao lado de seu leito, descobriu-se em um hospital.
Ficou com raiva de si mesma, como pode deixar de esperá-lo? E se ele retorna-se justamente naquela tarde a qual ela não estaria lá esperando por ele? Levantou-se e tentou sair daquele quarto, mas foi impedida pela sua mãe. O olhar de súplica a convenceu a ficar por aquela noite, mas amanhã ela voltaria para a praia.
No dia seguinte, a garota não deixou que ninguém a impedisse de estar ali, junto a areia da praia e ao som do mar. Por que era tão difícil para eles entenderem que ela iria esperá-lo eternamente?
Os dias passaram e a espera também, e para a infelicidade da menina, ela não mais conseguia conter o seu corpo frágil. Fora novamente internada as pressas. Mas desta vez, em um quarto com uma linda vista para o pôr-do-sol. Sentia que não lhe restava muita vida, passou a semana recebendo visita de pessoas amigas que a olhavam com um olhar de pena que ela detestava.
Na calada da noite do que ela sentia ser o seu último dia, ela escapou e fora novamente para a praia. O mar movimentava-se sob a luz da lua cheia. Finalmente ele aparecera. Estava magnificamente bonito, vestido todo de branco. Seus olhos verdes fixaram-se na menina que caminhava em sua direção, em meio às ondas do mar.
“Prometi que te esperaria pela eternidade” Era a primeira vez em muito tempo que sua voz era ouvida.
“E eu prometi que viria te buscar” Ele estendeu a mão para ela que se encorajou a se aproximar mais.
Logo ele sentira o toque leve da amada, esperara tanto tempo para sentir aquela sensação novamente, ele sempre esteve ao lado dela, muitas vezes angustiado por ela não vê-lo, mas a maior parte do tempo estava triste porque sentia a profunda dor da pobre garota. Aquela dor causada por ele mesmo, por ter partido sem ela.
“Esperei tanto para estarmos juntos novamente!” Ela sorria, como nunca, seu olhar não era mais frio e sem vida como desde aquele mesmo final de tarde.
Uma lembrança triste de muito tempo atrás passava na mente da garota:
Sob o mais belo pôr-do-sol já assistido por aqueles dois apaixonados, promessas de amor eram feitas. Até que o dono de lindos cabelos castanhos levantou-se e dirigiu-se a amada:
“Esqueci um presente que queria dar para você lá em casa”
Ela apenas sorriu e passou a mão em seus cabelos.
“Sabe que não preciso de presentes, só que me prometa que sempre irá me amar”.
Dessa vez foi ele que sorriu e disse-lhe com muito carinho.
“Eu te amo mais do que qualquer outra coisa, e é por isso que preciso buscar esse presente!”
A garota apenas respondeu:
“Então vá buscar, eu te espero”.
“Promete?”
“Claro, eu te espero aqui pela eternidade se for preciso”.
“Não vai precisar esperar pela eternidade, porque eu virei te buscar!”
Os dois trocaram um caloroso abraço e o jovem seguiu seu caminho.
A menina esperou na praia horas e horas, mas ele não voltara, apesar da demora, ela seria fiel a sua promessa, o esperaria, porque ela sabia que ele iria voltar.
Após muito tempo, ela foi encontrada por seu pai. Ela sabia que ele queria falar-lhe e o que ouviria não seria nada bom, dava para ver o desespero no olhar dele.
“Querida, não sei como te dizer isso”.
A menina olhou-o com seriedade.
“Apenas diga”.
“Ele se foi”.
Lágrimas rolaram pela face da jovem, o coração dela estava tão apertado que não saberia se iria suportar, gritou bem alto:
“É impossível!” o olhar de pena do homem pesou sobre ela “Ele prometeu que voltaria, eu acredito nele!”.
O moço suspirou e continuou:
“Ele estava vindo para a praia quando dois sujeitos o abordaram, eles queriam aquela corrente que havia o nome de vocês gravados, mas ele se recusou, disse que podiam pegar tudo menos aquilo, mas os ladrões não estavam com muita paciência e...”.
“Eu prometi que ia esperá-lo e é isso que vou fazer!”.
“Mas filha...”.
Sem dizer mais nada a menina se afastou, o pai estava muito preocupado, mas sabia que ela precisava daquele tempo sozinha, retirou-se do local, conversaria com ela quando estivesse mais conformada.
Após muito tempo, aqueles dois seres apaixonados, finalmente estavam juntos, sorriam como antes.
“Já está na hora de irmos”.
A garota assentiu e juntos, aqueles dois espíritos iluminados e felizes se foram. Não antes de assistirem juntos, ao mais belo nascer do sol.