Espelho ao vazio
Tinha um rapaz uma irmã gémea à que muito se assemelhava. Era gente nova, ela mais ele, de grande formosura.
Mas um dia morreu a rapariga, e o irmão, que tanto a queria, sumiu-se numa dor tão funda que parecia não ter fim. Até que certa tarde, sentado numa rocha a deixar ir os olhos pela beira de um rio, afigurou-se ver num destelho da superfície, no brilho fluente, o rosto da sua irmã. Tentado pela visão, achegou-se com muito receio à beira. No espelho da água tremeluziam os rasgos daquela que tanto quisera.
Assim foi como, a partir de aquele tempo, procurou em rios e regatos, charcos ou mananciais, aquela imagem que o confortava.
Nunca mais volveu ver o próprio rosto.