Luiza faz cinquenta anos- Giselle Sato



A data do aniversário estava chegando e ela evitava falar sobre o assunto. Todo ano era um problema, mas este ano em especial, o peso dos cinqüenta anos tomou um vulto imenso. A família pressionava aguardando a decisão.
A tortura começou com sugestões para o evento. Jantar em um restaurante da moda seria perfeito se  a maioria dos amigos não fossem  casais. Ela não era mais um par, o namorado de anos resolveu mudar de ares e começou um romance poucas semanas antes da grande data.
 O inconcebível ,  foi a moça ser sua sobrinha e afilhada. Os vinte e cinco anos de diferença também repercutiram.
Maria Luiza sentia-se uma idiota completa, metade da família apoiava a irmã e a outra instigava e sugeria vinganças. Seus pais sentiam-se embaraçados e não falavam nada. Aquele silêncio corroia as entranhas mais que a traição em si.
Tristeza , uma prima alertou que o romance vinha acontecendo há  um ano. Debaixo do seu nariz inocente e burro. Não imaginou que levando Alicinha para sair, alimentava uma cobra. A afilhada era a imagem da timidez e recato. Sem amigas, sempre escondida atrás de um livro e esquivando-se das pessoas.
Parecia loucura pensar em festejos depois da decepção, loucura que a maioria insistia achando que a postura superior era a melhor resposta.
Estava aborrecida com o destino, parecia que a nova idade era um fardo pesadíssimo quando na realidade, era somente um número . Algumas amigas alertavam que a solidão aumentava com a idade. Como se dependesse apenas dela encontrar um companheiro. Pior, onde ela havia falhado para ser trocada pela sobrinha?
Maria Luiza sempre quis ser independente,  e lutou para construir uma carreira sólida. Atualmente, desfrutava a merecida  tranqüilidade financeira.  Deitada no sofá, recordou uma antiga canção onde a estrofe principal, diz que é impossível ser feliz sozinho. Clima de novela mexicana, meu mundo caiu e atrás da porta.
Precisava tomar providências, sair do marasmo, dar a volta por cima. De repente imaginou-se no México... Cancun, excelente idéia para umas férias de emergência, mergulhos e tequila.
Paqueras, passeios  exóticos  e muito sol. Distância das picuinhas e ressentimentos. Quase podia sentir o sabor dos pratos apimentados e da cervejinha especial.
Idade é questão de bem estar físico e mental, sentia-se tão jovem e cheia de vida. Tinha tantas outras opções antes de transformar a existência em amargura.
Um mundo inteiro lá fora esperando para ser descoberto, com pessoas diferentes dispostas a oferecer, receber, trocar, aprender e ensinar. Vinte, trinta, quarenta,  cinqüenta e daqui a algum tempo sessenta anos não assustavam.
Confortável na poltrona da classe executiva, um luxo que nunca havia experimentado, massageava o ego recebendo atenções especiais e aproveitando as novidades. Nem percebeu que o aniversário acontecia naquele instante, indolor e com gosto de recomeço. 






Para Lú, alma e coração de menina.
Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 31/08/2008
Reeditado em 31/08/2009
Código do texto: T1155659
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