Você,talvez

JULHO.

-Você não faz a menor idéia de como está sendo difícil para mim estar aqui,Felipe.-Disse Ingrid sentando-se na cama redonda do quarto de motel onde estavam.

-Por que difícil?-perguntou ele sentando-se ao seu lado.-O que iremos fazer aqui não é lá muito diferente do que já fizemos na sua casa,ou na minha.

-Eu sei,amor.Eu sei!Mas lá pelo menos,não sinto que estou mentindo para minha mãe.Aqui estamos escondidos.Sabe que não gosto de mentir para ela.

Felipe respirou fundo.

-Tá,tudo bem.Mas você tem certeza que isso é uma mentira considerável?Você tem certeza?Eu consigo esquecer ela em alguns dias.-insistiu o rapaz se aproximando da namorada que,assim como ele,se encontrava apenas com suas roupas íntimas.

Ficaram em silêncio.Ela se abraçou a um travesseiro de fronha azulada e já desbotada após várias lavagens.

-Sem contar...-começou a falar mas desistiu.

-Sem contar o que?Fala,Ingrid!

-Sem contar que esse hotelzinho aqui é muito vagabundo,amor.Você viu o porteiro lá na porta?Estava todo suado,de blusa aberta,barba por fazer...Aposto que eles devem ter câmeras escondidas nesses quartos.Esses hotéis pés-de-chinelo são muito perigosos.

-Ah,Ingrid,você está exagerando!-Disse o rapaz sorrindo e puxando o travesseiro das mãos da namorada.-Não tem câmeras escondidas aqui não.E o cara estava suado por que faz muito calor nesse bairro.

-Não sei,não,Felipe.Acho melhor irmos embora.

-Mas,amor,eu já paguei!

-Você vai fazer drama por causa de vinte Reais?Pensa que não vi você pagando?Ainda me disse que custava cinqüenta!Eu te dou vinte Reais se for o caso,seu pão duro!

-E custou.Eu paguei cinqüenta Reais por este quarto,e pelo período de quatro horas!Entendeu bem?Quatro horas!Não estamos aqui nem há dez minutos.

-Você deu uma nota de cinqüenta Reais e recebeu trinta de troco!Deixa de ser estelionatário,Lipe!

Ele ficou sem graça.Jogou-lhe o travesseiro de volta.

-E aí,vamos?-perguntou a menina quebrando o silêncio.

-Vinte Reais é dinheiro,Didi!Poxa!Custa “umazinha” pelo menos?

-Eu não vou fazer amor nesse quarto imundo!Prefiro fazer na rua!

-Tá falando sério?Porque enquanto a gente estava vindo para cá eu vi um monte de becos escuros!

-Você é ridículo!-falou a menina jogando o travesseiro contra o rosto do namorado. -Veste logo sua roupa,vamos embora.

-Poxa,Ingrid!São oito da noite ainda.Para onde vamos?

-Sei lá,que tal praia?Antigamente íamos tanto.

*************

MAIO.

Sentados à orla da praia de Copacabana,Felipe e Ingrid observavam o mar durante a noite.Ficavam calados,apenas sentindo a brisa e pensando na vida.Foi numa dessas observações ao mar,que Felipe decidiu pedi-la em namoro.Foi durante uma dessas visitas à praia,que Ingrid descobriu que estava apaixonada.

-É tão romântico,né?-disse se abraçando ao rapaz tentando aliviar o frio.

-O que?Eu ou o mar?

-Tudo isso,amor.Ai,você é tão insensível!-reclamou se afastando,porém sendo puxada de volta.-Tudo isso!O mar,esse vento,nós dois aqui sentados.Parece cena de filme.

-Cena de final de filme,você quer dizer.Não,porque nunca assisti um filme romântico que não terminasse com o casal sentado em algum lugar olhando para o mar,para o pôr do sol ou para o infinito.

-Você não tem veia romântica.No início você era romântico.Cadê o Felipe romântico que eu me apaixonei,hein?Alô!Felipe romântico!?Você está aí dentro?-brincou Ingrid gritando próximo ao ouvido do namorado.

-Ele está de férias com o Felipe boêmio.Desde que comecei a namorar o Felipe boêmio tá de férias.

-Você está reclamando?Se quiser sair de noite com seus amigos aprendizes de alcoólatras,você pode ir!

-Eu disse isso?Eu disse com essas palavras?Mas que mania!

-Você podia tocar violão para mim aqui na praia.Ia ser lindo!

-Tá sugerindo o que?Que eu arrume um violão agora?

-Não,animal!Um dia,outro dia,você podia trazer seu violão e ficar tocando aqui para eu ouvir.Você sempre toca lá na escola,toca com seus amigos.Nunca tocou pra eu ouvir.Você podia fazer uma música linda com meu nome!Seria lindo!

Felipe sorriu.

-Do que você está rindo,retardado?-perguntou Ingrid beliscando seus braços.

-De nada,amor!Só estou imaginando eu tocando violão na praia e os pedestres jogando moedas dentro de algum chapéu no chão.É bom que aqui tem muito turista.Posso receber em Euro!-respondeu continuando a sorrir.

-Poxa,você era tão sério quando te conheci.Tão tímido!Pura propaganda enganosa!Você é um produto com defeito!

-Está reclamando?Se você quer sair com suas amigas safadas e mal humoradas por aí,não estou te segurando!

Desta vez Ingrid sorriu.

-Eu estou dizendo que você era mais sério.Quando te vi pela primeira vez,achei você super sério,charmoso.Mas com o tempo,descobri que estava apaixonada pelo primo do Bozo!

-Eu vou começar a ser sério,sabe!Aí vocês vão ver quem é o Felipe sem graça.Vão implorar para que o engraçadão volte!

-Eu sei,bobo!Foi exatamente quando descobri que você era um palhaço,que fiquei ainda mais apaixonada.-declarou Ingrid beijando o namorado e o abraçando com força.

Continuaram ali sentados.Seus pensamentos voavam.Felipe pensou que no dia seguinte seria domingo.Teria que pensar em algo para fazer sem Ingrid,já que ela teria que visitar uma tia junto com sua mãe e sua irmã.

Já Ingrid,estava pensando em alguma desculpa que poderia dar à sua mãe para que não precisasse visitar sua tia,podendo assim,passar o domingo ao lado de seu namorado.

Continuaram pensativos ali,sentados,e às vezes se beijavam.Os dois meses juntos estavam sendo maravilhosos.E a cada dia se conheciam ainda mais.Cada dia havia uma surpresa nova,uma descoberta nova sobre o outro.E eram essas descobertas que estavam aumentando o amor entre os dois recém apaixonados.

-Desculpa,tá?-disse ela quebrando o silêncio.

-Desculpo...Mas pelo que,menina?Tá louca?

-Por eu ter te chamado de retardado.Às vezes sou grossa com você.Desculpa?

-Amor,se eu for ligar toda vez que alguém me chama de retardado,eu já deveria estar fazendo tratamento contra depressão.

Beijaram-se.

******************

FEVEREIRO.

-O que está acontecendo aqui?-perguntou a diretora da escola com a mão na cintura e com uma cara de poucos amigos.

Nesse exato momento,Felipe e Ingrid pararam de se beijar,assustados.Porém continuaram com as mãos exatamente onde estavam:Ela na barriga dele,ele um pouco dentro da saia dela.

Eram quatro da tarde e todas as turmas da escola haviam sido liberadas mais cedo por conta da reunião de professores que ocorreria após o intervalo.Alguns alunos continuaram na escola.Uns jogavam bola,outros conversavam.Já Felipe e Ingrid,que haviam acabado de se conhecer algumas horas antes,passariam o tempo na escola também,só que na sala da diretora Sandra.

Os dois estavam cabisbaixos.Completamente sem graça por estarem ali,e ainda mais por terem sido pegos se beijando.Estavam na sala da diretora,de pé,enquanto ela,sentada em sua cadeira,os encarava segurando sua caneta prateada e mantendo um silêncio torturante no ambiente.

-Não têm nada para me dizer?-perguntou a diretora,que fazia Felipe tremer.

O casal continuou mudo.

-Vamos,os dois?Não têm nada para me dizer?Vocês acham que aquilo é comportamento para ter na escola?

-Mas a gente estava se beijando...

-Cala a boca,que eu estou falando!-disse ela interrompendo e constrangendo ainda mais Felipe.-Se beijando não!Vocês estavam quase dentro um do outro!Para se ter uma idéia,uma funcionária da escola que veio me chamar aqui na minha sala,para falar que dois alunos estavam se agarrando no meio do pátio!

-Mas a gente estava perto da qua...

-Eu ainda não terminei!-disse a diretora,desta vez interrompendo a Ingrid.-Não fica bem uma moça se beijar de tal maneira.Ainda mais numa escola como a nossa,onde a maioria das alunas são mulheres!Vai que alguém de fora entra aqui para tirar xérox,e vê a cena bonita que vocês estavam encenando.O que iam dizer,hein?

O casal continuou calado.

-Olha,vocês só vão sair daqui quando me disserem algo.E rápido,pois eu tenho que voltar para a reunião.

-Ué,dona Sandra,o que a senhora quer que falamos?Acho que o máximo que posso dizer é...Desculpa?

Ingrid seguiu o exemplo de Felipe e se desculpou também.

Sandra levantou-se de sua cadeira e se aproximou dos dois.

-Olha,sei que namorar é muito bom.Sei que na idade de vocês não temos filtros para nossas atitudes.Mas devemos saber que há hora e principalmente lugares para que as coisas aconteçam.E,escola,definitivamente não é este tipo de lugar.Entendido?

Timidamente os dois concordaram.E,por fim,foram permitidos saíram daquela sala sufocante.

Ao sair,Felipe sentiu um peso ser retirado de cima de suas costas.Ingrid o abraçou,mas achando que ainda estava sendo observada,se afastou.

-Aquela sala me dá tremores!-comentou Felipe.-Putz!Na primeira vez que ficamos,já viemos parar na diretoria.Posso imaginar o que vem por aí.

***************

JUNHO - DIA DOS NAMORADOS

Felipe já a esperava por quase trinta minutos sentado no sofá cor de abóbora da sala da casa de sua namorada.Já havia lido uma matéria em uma revista feminina que Ingrid comprava todo mês e que ele odiava.Já tinha acariciado a cabeça do cachorro.Já havia ido ao banheiro ver se seu penteado ainda se mantinha intransmutável.E,por fim,sentou-se no sofá outra vez sem ter o que fazer.

Levantou-se de novo e foi até o armário que ficava em um dos cantos da sala.Sobre ele haviam fotos que Ingrid havia feito quando tinha apenas oito anos de idade.Ficou observando as fotos com um sorriso no rosto.Era engraçado imaginar que uma criança daquelas,magrinha,bochechuda,iria se transformar em uma mulher.Pegou uma das fotos e observou mais de perto.

-Podemos ir?-disse Ingrid chegando de surpresa e surpreendendo o namorado,que,no susto,deixou o retrato cair.

Imediatamente ele se ajoelhou para pegá-lo certo de que se não o fizesse,iria escutar muitas reclamações.

-Não precisa,amor.É uma foto ve....-disse Ingrid tentando impedir o namorado,porém fracassando,pois,quando Lipe foi se levantar,acertou-lhe uma cabeçada bem eu seu queixo,fazendo-a cair para trás.

Assustado,Felipe jogou o retrato longe,fazendo o porta-retrato quebrar contra a parede.Ingrid estava no chão,com as mãos no queixo.

Minutos depois os dois entravam em um rodízio de massas.Ele completamente constrangido,e ela com uma enorme mancha vermelha no queixo devido a batida.

Sentaram-se em uma mesa bem no fundo do restaurante.Ingrid sentou-se de costas para a entrada.Felipe segurou suas mãos.

-Me desculpe,amor!Me desculpe!Eu não queria...

-Nós não combinamos de não falar sobre isso?Passou,Lipe.Passou!

-Mas eu em sinto mal por ter te machucado!Isso ta muito vermelho.Sua mãe pode achar que soquei sua cara!

-Ela sabe que você não bateria nem em uma mosca.

-Como é?

-Minha mãe te acha frouxo,Felipe!Na verdade eu também,e minha irmã!

-Frouxo por quê?Eu fazia boxe tailandês antes de te conhecer,sabia?

-Fazia nada!Você só sabe ficar sentado na frente do computador e da televisão.A única coisa que você malha é essa sua vista!

-Já vou te dizer já,já a outra parte do meu corpo que eu malho com freqüência!-disse ele sorrindo e arrumando os seus talheres sobre o prato.

Ingrid fez o mesmo.Retirou os talheres de dentro do saquinho plástico que os envolvia e os colocou dentro do prato.

-E aí,vamos apostar que come mais?-propôs ela pegando o paliteiro.-Ah,esqueci que você é frouxo!

-Esse sarcasmo que enfraquece.Setenta por cento dos divórcios são ocasionados por sarcasmo nas relações,sabia?-Respondeu retirando o paliteiro das mãos da namorada.-E outra,você sabe que não consigo comer muita massa.Isso afeta meu desenvolvimento sexual durante a noite!

-Ah,querido,então você come massa todo dia,né?Ou então todas às vezes que vem dormir aqui em casa.

Felipe respirou fundo e disse:

-É isso,né?Você vai mesmo tirar a noite para debochar da minha cara!É isso mesmo?Vai optar por esse caminho?

Ingrid segurava o sorriso.Sabia ser uma grande atriz quando queria irritar o namorado.

-Eu tô brincando,amor!Não há nada de errado com o seu desenvolvimento sexual!Ele é ótimo!-parou por uns instantes e disse em um tom de voz mais baixo,quase inaudível.- Só pela manhã que você tem aquele probleminha...

Felipe bateu com os talheres sobre o prato chamando a atenção de algumas pessoas que estavam sentadas perto deles.Ficou olhando ao redor tentando notar se alguém havia escutado o que a namorada havia acabado de dizer.

-Que que é?Qual o problema?Que probleminha de manhã?

-Ah,querido,não vamos falar disso.Sei que você sente-se mal toda vez que tocamos neste assunto.Deixa pra lá.Hoje é dia dos namorados.Nosso primeiro dia dos namorados juntos!Olha que legal!Hei!Hei!

-Nada disso!Você está falando do que?Agora me conta!-insistiu o rapaz perdendo a paciência.-Que probleminha sexual que eu tenho?

-É impressionante!É só colocar desenvoltura sexual no meio da conversa que vocês homens viram bichos!Deixa isso pra lá,Lipe!Viemos aqui para comer pizza e não para discutir seu probleminha em fazer sexo assim que acorda!-comentou Ingrid,outra vez diminuindo o tom de voz nas últimas palavras.

Felipe levantou-se da cadeira,mas voltou atrás e sentou-se de novo.

-Ah,é isso!Olha aqui,eu não brochei naquelas vezes,ok?Não brochei!

-Olha,ficou nervoso!Fala mais alto!Acho que a moça da recepção lá na frente não escutou.-falou Ingrid apontando com o garfo para uma mulher que recebia os clientes na porta do restaurante.

Um garçom se aproximou da mesa com uma bandeja onde havia uma pizza ainda inteira e quente.

-Queijo com banana?-perguntou o rapaz.

-Quero porra nenhuma,não!-respondeu Felipe automaticamente,fazendo sua namorada engolir a seco.- Quero dizer...Não,muito obrigado!

O garçom serviu Ingrid colocando a fatia bem no centro de seu prato.Feito isso,a menina cortou um pedaço da pizza e comeu.

-Hum,essa banana desta pizza está tão molinha!Tá parecendo alguém que conheço...

Lipe se aproximou da na namorada sobre a mesa.

-Olha aqui,você diz isso por que para vocês mulheres é muito fácil fazer sexo,tá!Vocês só recebem!É muito mais tranqüilo.Agora imagine você depender de um órgão que parece que tem vida e vontade própria!Fica difícil transar logo que se acorda.Todos os músculos estão relaxados.Demoram um pouco para esquentar!

Os dois ficaram em silêncio.Felipe se levantou e foi até o banheiro deixando seu celular sobre a mesa.

Ao voltar,Ingrid não estava mais sentada no mesmo local.Para falar a verdade,ela nem no restaurante estava mais.O garçom informou a Felipe que ela havia pago a conta e saído furiosa e chorando do restaurante.Ele saiu correndo pela porta tentando alcançar a namorada.

Correu o mais rápido que pôde.Foi seguindo seu instinto,pois para chegar à casa de Ingrid,podia-se seguir por vários caminhos diferentes.Escolheu o mais provável e aumentou a velocidade de suas pernas.Pensava enquanto corria,enquanto a namorada era louca.Qual teria sido o motivo de ter ido embora sem mais nem menos,afinal,se alguém deveria estar chateado com alguma coisa,era ele próprio com os comentários sobre sua potência sexual matinal.

Parou para respirar um pouco mais.Levou suas mãos aos cabelos.Respirou fundo e continuou correndo.Quase foi atropelado pro uma bicicleta.Continuou correndo,e,quando parou,estava na porta da casa de Ingrid.

Teve vergonha de entrar.E se ela não tivesse ido para casa?O que diria a sua sogra?O que contaria a ela?Parou na porta e ficou pensativo.Sentou-se em uma pedra grande que servia de banco algumas vezes.

Foi quando no final da rua,surgiu Ingrid andando cabisbaixa.

Ao vê-lo,ela deu meia volta.Lipe,voltou a correr atrás dela.

Correu o mais rápido que pôde e finalmente alcançou-a,segurando seus braços.

-Me larga!-pedia ela irritada.-Me larga se não eu vou gritar!

-O que aconteceu,Ingrid?Porque você saiu que nem louca do restaurante?

-Não interessa!Me larga,seu brocha!

-Olha,não ofende!Agora eu estou falando sério!O que aconteceu enquanto eu fui no banheiro?

-Não sei.Me larga,eu vou pra casa!Me solta,Lipe!

Felipe soltou-a.

-Ingrid,respira fundo!Se eu fiz alguma coisa eu devo saber,não é?Me conta!

-Nada,Felipe!Você nunca faz nada!Eu vou dormir!

-Mas eu não ia dormir na sua casa hoje?Minhas coisas estão lá no seu quarto.

-Outro dia você pega!Boa noite!

-Mas,amor...-insistiu ele abraçando-a.-Me diz,vai!O que aconteceu?

Ficou observando enquanto a namorada colocava a mão no bolso de sua calça jeans.Retirou o seu celular e entregou-lhe.

-Vá passar o dia dos namorados com a Daniella!-disse virando-se indo em direção a sua casa.

Ele a seguiu.

-O que tem a Daniella?E o que meu celular tem haver com isso?-perguntava enquanto seguia-a

-O que é que tem?O que é que tem?Tem é um monte de torpedos dela nessa merda desse celular!Isso é que tem!Torpedos e mais torpedos dela dizendo que não te esqueceu!Que o dia dos namorados não é o mesmo sem você!É isso que tem,Lipe!-contou Ingrid enquanto caminhava e sem olhara para trás.

-Ué!E eu lá tenho culpa,amor?Eu tenho culpa se ela me manda mensagens para o meu celular?

-Claro que tem!Se ela fez isso ainda,depois de cinco meses que vocês terminaram,é por que você ainda dá confiança!Sempre ela!Sempre ela!

-Mas meu Deus!Que confiança que eu dou,minha linda?Eu à excluí do orkut!Eu excluí, meu orkut!Eu não a tenho adicionada no meu Msn!Me explica como eu iria dar confiança para a Dani...ella!

Felipe parou de seguir a namorada.Ela continuou andando.

-Não sei por que você ainda cisma com a Daniella,meu amor!Não vale a pena estragar nosso dia dos namorados,nosso primeiro dia dos namorados,por uma pessoa que não significa nada para mim hoje em dia!

-Mas já significou,e muito!

-Significou sim,Ingrid!Mas hoje só me importo com você.Mesmo você às vezes deixando claro que eu sou uma decepção para você!Que eu parecia uma coisa e me tornei outra!Eu sei que não sou o cara perfeito para você.E me sinto mal por ter mudado tanto.Mas não mudei por mal!Eu te amo muito,e queria que você entendesse,uma vez pelo menos,que só tenho olhos para você.A Daniella deve estar querendo nos fazer brigar.

Ingrid parou de andar.Levou a mão até seu queixo que latejava devido à batida que de pouco antes.Felipe se aproximou da namorada em passos largos.

-Então por que você não apagou os torpedos antigos?-perguntou ela virando-se e olhando nos olhos do namorado.

Ele ficou em silêncio.Era uma pergunta que deveria ser respondida com calma.Pois,qualquer resposta errada poderia estragar aquele primeiro dia dos namorados.

-Anda,responde!-insistiu a moça.

Lipe continuou calado.

Ingrid o encarou com um olhar triste,como se dissesse: Deixa pra lá!Virou-se e por fim,abriu a porta de sua casa,fechando contra o rosto de seu namorado.

Felipe olhou para o céu e encarou as estrelas.Segurou seu celular com força e ameaçou joga-lo contra a parede.Parou no exato momento que ia fazer isso.

-Tá doido!Ainda nem terminei de pagar!-pensou consigo mesmo.

Foi até o ponto de ônibus e ficou sentado esperando que seu ônibus viesse.Estava muito triste,mas decidido a não procurar por Ingrid,deixando-a assim,pensando mais um pouco.

****

DOIS DIAS DEPOIS.

Como de costume,sempre que não ia para a casa de sua namorada,Lipe se reunia com seus dois melhores amigos Ary e Gustavo para conversar.

Estavam em uma praça localizada perto do prédio onde moravam.Sentados sobre a barra paralela onde às vezes faziam exercícios,conversavam sobre tudo.

-Já fazem dois dias,cara!Ela não ligou,não procurou.Tô começando a ficar agoniado.-desabafava Lipe.-Eu já liguei para o celular dela mas ninguém atende.Isso tá me sufocando.Já sentiram isso?Nós ficamos loucos quando ligamos para alguém que gostamos e essa pessoa não atende.Dá maior agonia!

Ary era gordinho,porém muito namorador.Desceu da barra e ficou de pé em frente aos amigos.

-Sei como é,Lipe.Mas você precisa entender o lado dela,cara!Imagine você ler uma mensagem do ex-namorado dela dizendo que a ama!Isso é chato.Quando é com os outros não vemos mal algum,mas quando é conosco.

-É verdade...-concordou Lipe.-Mas cara,ela já chorou por que uma vez,ela leu no blog do ex,(que nem sei o que foi fazer nesse maldito blog),ele dizendo que a nova namorada dele era tudo em sua vida.Que as anteriores não significavam mais nada para ele.

-Tá,e daí?-perguntou Gustavo,este moreno,e com o corpo um pouco mais atlético que dos outros dois.

-E daí? É que ela me contou isso chorando!Imagina eu ouvir que ela está triste por que o ex-namorado dela arrumou outra e esqueceu-a?É demais!

-E o que você disse na hora?

-Ah,cara,eu na verdade disse que entendia o lado dela.Não vou me iludir.Quando é ex o negócio é delicado.Todo mundo tem uma queda por ex.Não adiante negar!Namorado não é pra sempre,mas ex-namorado com certeza é!-comentou Felipe visivelmente triste.

Ary colocou a mão sobre o ombro de Lipe.

-É verdade.Mas cara,você não pode deixar para lá.Você gosta da Ingrid,não é?

-Olha,eu amo aquela garota.Mas estou começando a achar que ela não me ama tanto quanto antes,brother!Não sei por que,mas ela tem me criticado muito.Tem deixado de me ver para fazer cabelo.Poxa,tudo bem que mulher super valoriza o cabelo,mas deixar de me ver nas únicas oportunidades que temos,para fazer cabelo,é sacanagem!

-É complicado!Acho que você deveria surpreendê-la!-sugeriu Gustavo descendo da barra paralela.

-Como assim?

-Sei lá,cara,surpreendê-la.Fazer alguma coisa assim que ela não espere que você faça por ela!

-Raspar a cabeça?-perguntou Ary recebendo olhares reprovadores dos amigos.

-Não,mongol!Algo sei lá...O que a Ingrid vive te cobrando,Lipe?

Pensou por uns instantes.

-Ah cara,várias coisas.Mas ultimamente ela tem reclamado de meu apetite sexual pela manhã.

-Como assim?

-Não vou contar porque vocês não vão entender e ainda vão se sentir no direito de rir!-explicou Lipe.

-Cara,pode contar,nós sabemos separar o que é sério do que é brincadeira.Pode contar.-insistiu Gustavo.

-Ela diz que eu de manhã não consigo transar direito.Me chama de brocha direto!

Houve silêncio.Gustavo tentou segurar o riso deixando escapar um barulho esquisito de sua boca.Depois do barulho seguiu-se uma gargalhada histérica.

-Coitado,tem dezoito anos e já brocha!Sabe o que é isso?Televisão o dia inteiro!-concluiu Ary sorrindo também.

-Mas ela também reclama que não sou romântico.Às vezes eu noto que ela diz as coisas esperando que eu responda algo compatível.Mas nunca consigo adivinhar o que é.

-É verdade.As mulheres deviam lançar um roteiro de frases que elas querem ouvir e os momentos onde essas frases se encaixariam.-concordou Gustavo.

-O fato é que não sei como ser romântico,rapazeada.E não sei se vou correr atrás dela desta vez.

-Você gosta dela,Lipe!Não desiste assim não,brother!Eu até hoje sou preso à Sabrina exatamente por isso.Terminamos do nada,sem motivo justo,e até hoje estamos presos um ao outro.Ela gosta de mim,eu gosto dela,mas não conseguimos tirar um dia pra dizer isto um ao outro.- confessou Ary.

-Mas ela não me ligou!Brigamos e ela nem me liga,nem nada!

-Ué,talvez você é quem deva procurá-la!Talvez seja isso que ela queira.Talvez seja este tipo de romantismo que ela esteja procurando em você,Lipe!Você tem que pôr na sua cabeça que as mulheres devem ser entendidas nas entrelinhas.Quando elas dizem “não”,quer dizer sim.Quando dizem “você quem sabe”,quer dizer faça ou fica sem sexo por duas semanas.E quando dizem “sim”,sabe-se lá Deus o que realmente querem dizer.Mulheres são estranhas.São uma mistura de sentimentos que nem elas próprias sabem definir.E,sobra a nós homens,decifrar cada um deles no momento certo.

-Eu sei,Ary,mas o que será que a Ingrid quer que eu faça nesse momento?

Enquanto isso,Ingrid conversava com suas amigas em seu quarto.Também era de costume conversar com suas duas melhores amigas,Viviane e Ludmila.

Enquanto Ludmila mexia no computador de Ingrid.A dona da casa e Vivi faziam as unhas.

-Dois dias e nada,gente!Não agüento mais!Mas não vou procurá-lo!-disse Ingrid enquanto pintava seu dedão do pé esquerdo.

-Você é muito orgulhosa,Ingrid.Ele te explicou o que aconteceu.Tem te ligado e você não atende.O que você quer mais?-perguntou Viviane colocando a lixa de unhas dentro da bolsinha onde Ingrid guardava seus esmaltes.

-Eu quero que ele venha me procurar.Não vou atender telefone nenhum.Quero que ele tenha medo de me perder.

-Deste jeito,você é quem vai perdê-lo.-disse Ludmila deixando o computador de lado para dedicar-se a conversa.-O Lipe pode não ser um cara exemplar,mas a gente vê que ele é louco por você.

-É verdade,Didi,ele sempre deixa claro que te ama.E a gente vê que você às vezes o trata super mal.

-Eu não o trato mal.É que gosto de irritá-lo assim como ele me irrita.Vocês não fazem idéia do que é namorar uma pessoa que brinca vinte e quatro horas por dia.E não tem romantismo nenhum!

-Melhor ter um namorado bem humorado que um chato.Sei que ele não vai com nossa cara,mas eu o acho muito fofo.Ele sempre está rindo e fazendo os outros rirem.É isso que o faz interessante.Se ele sair de sua vida,você vai sentir falta das brincadeiras dele.-avisou Viviane se aproximando da amiga,mas tomando cuidado com suas unhas.

-Eu quero mostrar pra ele que ele pode me perder.Quero tirar essa ex da vida dele.Ela parece um fantasma!Quando está tudo indo bem,ela aparece e estraga tudo!

-Não passa pela sua cabeça que ela pode estar querendo exatamente isso?Querendo que vocês briguem?Vai ver,Ingrid,ela sente falta do palhaço que você está deixando de lado e,só agora se deu conta disso.Tarde demais.Deve invejar o relacionamento de vocês.Deve invejar você pro ser a nova dona do coração dele!-comentou Ludmila se juntando as amigas sobre a cama.-Amanhã,pode ser você no lugar dela.

Ingrid começou a chorar.

-Eu adoro esse maluco!Gosto das piadas dele,do jeito dele,de tudo.Eu fico com raiva mas logo em seguida já me sinto ainda mais apaixonada por aquele crianção.

-Ele ainda ta com aquela mania de se fingir de morto?-perguntou Viviane segurando o sorriso.

-Claro que está.Outro dia a gente estava transando e,no meio do sexo,ele me cai pro lado imobilizado...

As três amigas sorriram.Ingrid sentiu saudades.

-Acho que vou ligar para ele.

-Liga sim.O convide para a festa lá da escola.Ele dever ir com os amigos,mas você estando lá seria uma boa para conversarem.-sugeriu Vivi.

-Às vezes eu me arrependo de algumas coisas que eu digo a ele.Mas me dá nos nervos essa distância.Ele morar lá do outro lado,totalmente contramão a minha casa.

-Mais um ponto para ele!Só te amando muito para sair de lá de onde ele mora para vir até aqui às vezes para te ver por dez minutos.

-É verdade,Vivi.Mas sei lá.Eu fico imaginando um monte de coisas que ele pode estar fazendo com os amigos.Eles saem muito,bebem muito.E eu fico aqui em casa pensando no que ele pode estar fazendo.Quem ele pode estar seduzindo com aquelas piadas idiotas que a gente só ri quando vamos dormir.

-Ele te ama.E demonstra isso o tempo todo.Não creio que ele seja capaz de trair você,Didi.-comentou Ludmila.

Ingrid levantou-se da cama e foi até o telefone.

-Liga para ela agora,cara!-disse Ary.-Liga para ela e diz que vai surpreendê-la.

-Mas como?Não faço idéia de como surpreendê-la.-confessou Lipe.

-Isso é o de menos,cara!Apenas ligue!Depois pensamos em algo.

Lipe pegou seu celular.Olhou com saudade para o fundo de tela onde havia uma foto de Ingrid sentada olhando para o mar.

Ingrid retirou o telefone do gancho.Digitou o número do celular de Lipe.

Lipe digitou o número do telefone do quarto de Ingrid.

Ambos ouviram o sinal de ocupado.

Tentaram de novo,na mesma sincronia.

Outra vez ocupado.

No dia seguinte,eles passaram um ao lado do outro na escola.Trocaram olhares,mas algo os travou.Não conseguiram parar e dizer ao menos um oi.Por que seria tão difícil demonstrar todo o sofrimento que a falta um do outro estava causando.Por quais motivos não acabavam logo com aquela agonia e se beijavam mais uma vez como antes,sem se importar se esse beijo os levasse outra vez para a sala da diretoria.

Passaram um ao lado do outro e desviaram os olhares para o chão.

Neste dia,nenhum dos dois dormiu direito.

***********************

VÉSPERA DA FESTA DE DANÇA DAS TURMAS.

-Vamos lá,cara!Você precisa pensar em uma maneira de provar pra ela que você consegue surpreendê-la.-disse Ary que já morria de sono mas estava disposto a ajudar o amigo que já tanto o ajudara.

-Cara,são duas da manhã,pode ir pra casa!Eu me viro!

-Lipe,se eu for pra casa vou ficar na internet vendo putaria.Aqui,pelo menos,tô fazendo algo de útil.Vamos,pense!O que a Ingrid gostaria que você fizesse?

-Num sei cara!-disse Lipe levando as mãos a cabeça.-Talvez se eu transasse direito de manhã,não?

Ary bateu-lhe no rosto.

-Seriedade,animal,pense em algo.Alguma coisa que realmente a faria feliz,nem que por alguns instantes.

-Acho que se a Daniella morresse...

Ary levantou-se da cadeira onde se encontrava sentado.Foi até a janela e pegou o violão de seu amigo que se encontrava jogado ao lado do guarda-roupa que vivia com suas portas abertas.

-Você ainda toca violão,Lipe?

-Às vezes...porque?

-Por que você não toca uma música para ela?

-Por que seria muito brega.Ela já me pediu isso,mas recusei-me educadamente.

-Como se recusa um pedido desses educadamente?

-Ah eu disse que ela só podia estar maluca.

-Muito educado mesmo!-disse Ary sorrindo.-Poxa,acho que se você tocasse uma música para ela,ela ia se derreter toda.

-Que música?

-Sei lá,uma que tenha marcado vocês.

-Entendi.A gente costumava escutar Raimundos juntos.

-Não,Lipe,Raimundos não é romântico.Pense em alguma música romântica.-insistia Ary enquanto mexia nas cordas do instrumento musical.

-Não sei...Bem,ela gosta muito daquela música “Pensando em Você” do grupo Pimentas do Reino.

-Aquela música que a Claudia leite estragou colocando rápida?

-Essa mesma.O bonito da música era ser melancólica.A mulher vai e transforma toda a tristeza bonita da canção em axé.Tá de sacanagem!

-Odeio quando fazem isso!Pegam uma música e transforma-na toda.Há músicas que só são bonitas por que são tristes!Veja as do Los hermanos.-comentou Ary deixando o violão no colo do amigo.-As músicas deles são em sua maioria melancólicas,tristes,de corno,mas mesmo assim são lindas.Graças a Deus nenhuma regravação estragou nada deles ainda.

-Ué,o Frank Aguiar regravou Anna Júlia em versão forró!- lembrou Lipe.

Ary deu uma tapa em sua própria testa.

-É Verdade...Havia me esquecido desta heresia!Enfim,desgraças à parte,vamos nos dedicar a sua desgraça!Por que você não escreve uma música para ela?

-Tá maluco!Não consigo!

-Cara,se o Dado Dolabella consegue ser compositor,você tira essa de letra!É só pensar na Ingrid e você conseguirá compor uma nova sinfonia de Mozart.

Lipe encarou o violão.Ficou pensando em Ingrid.Em tudo que viveram.E como poderia ser sua vida sem ela.Tentou algumas notas.Arriscou alguns acordes.

Em sua cabeça os momentos vieram surgindo,até parar no fatídico dia dos namorados.Nesse momento,lembrou-se da sensação horrível que sentira naquela noite.Fora o único dia em que realmente sentiu que poderia estar perdendo a mulher de sua vida.As palavras foram surgindo.As notas se encaixando e logo se fez uma melodia.

Ary adormeceu deitado no chão do quarto.Felipe ficou por mais algumas horas tentando encaixar palavras umas nas outras,e por fim,chegou a sua primeira composição.

Tocou-a para si mesmo várias vezes.Gostava do que tinha criado.Talvez pudesse criar mil outras antes desta.Talvez pudesse estar compondo ao lado de Ingrid.Não queria esperar até mais tarde para tocar aquela música.A idéia de Ary era que ele tocasse a canção no palco da escola,na frente de todos.Apesar de palhaço,Lipe era muito tímido,e resolveu não adiar a apresentação de sua canção para sua dona.Na verdade,resolveu antecipar as coisas,e,às três da manhã,o telefone do quarto de Ingrid tocou.

Do outro lado da linha,Lipe torcia para que ela atendesse,e,de preferência,de bom humor.Ingrid demorou alguns instantes para acordar.Com certeza seria alguma amiga sua que tivera alguma briga com um “ficante” pela internet.Nunca entendeu como elas conseguiam perder uma noite de sono para ficarem conversando online.

Atendeu o telefone,ainda sonolenta.Porém,ao escutar aquela voz masculina tão conhecida e doce para seus ouvidos,logo despertou.

-Quem é?-perguntou fingindo não saber.

Houve silêncio.

-Sou...Sou eu,Didi.Desculpa estar ligando a es...

-O que você quer?Você não me ligou por dias,e resolve me ligar de madrugada!?Seu louco!

Felipe ajeitou o seu violão sobre sua coxa.

-É que eu preciso te mostrar uma coisa.Não posso esperar até mais tarde para te mostrar.

-Mostrar o que?-perguntou Didi com um sorriso de satisfação no rosto.

-Antes,quero pedir desculpas.E dizer que eu só não apaguei as mensagens da Daniella,por que assim,eu me sentia mais seguro.

-Como assim seguro?

-Ingrid,meu maior medo é te perder para outro.Eu sei que não tenho muito para te oferecer.E,a única coisa que tenho é meu bom humor.É assim que conquisto as pessoas.Porém,eu sei que terão caras por aí que poderão te dar o mundo.Poderão te fazer feliz.Mas aposto que não te farão sorrir como eu.Com a Dani no meu encalço,eu poderia dizer que se te perdesse,pelo menos alguém ainda ia me querer.Espero que me entenda.

Houve silêncio.Desta vez durou mais.

-Você está aí?-perguntou Lipe mexendo em algumas cordas do violão.

-Senti saudades.-confessou ela.-Por que não me ligou antes?

-Por que queria que você sentisse minha falta e talvez tivesse certeza de que sou indispensável em sua vida.

-Palhaço convencido!

-Mas é,querida.Não adianta.Você nunca vai resistir ao meu charme.Eu te dou dor de cabeça!

-Ah,isso com certeza,meu queixo tá latejando até agora!

-Ingrid,você talvez seja a mulher da minha vida e eu não saiba!Você talvez seja a peça essencial para que minha vida tenha sentido...

-Eita!O que você bebeu hein,Lipe?Você nunca falou deste jeito!Cachaceiro!

-Será que a senhorita pode deixar eu tentar ser romântico uma vez na vida?Depois reclama!

-Ok, Shakespeare,me perdoe.Continue seu romantismo.

Mexeu em mais algumas cordas do violão e ajeitou a letra da canção sobre a cama.

-Que barulho é este,Lipe?Você ta mexendo no violão?

-Na verdade,eu quero que você escute algo,ok?Coloque essa sua orelha no telefone e só tire quando eu acabar.

-Não estou entendendo,Lipe.

-Não é pra entender.Agora só quero que você escute!Esta,é para você.

Felipe colocou o telefone próximo ao violão.Empilhou alguns livros para que ficasse na altura correta do instrumento.

-Problemas técnicos!Já resolvo.-informou ele retirando um sorriso da boca de Didi.

A moça aconchegou-se na cadeira e colou o telefone em seu ouvido esquerdo.

Ary acordou,porém fingiu que continuava dormindo para que o amigo não desistisse do que ele estava prestes a fazer.

Uma melodia foi surgindo suavemente,uma balada começou a invadir seus ouvidos,e da voz doce de Lipe,que antes só tiravam dela lágrimas e risadas,saíam palavras lindas em uma canção feita para ela:

*************

VOCÊ,TALVEZ

Talvez não te beije mais,

Talvez não te tire da minha cabeça.

Eu sei que não sou capaz

De te esquecer,por isso não me esqueça.

Talvez um dia eu volte atrás.

Tentar reconquistá-la,é o que me interessa.

Porém se me esqueceres até lá,

Peço ao anjo cupido para outra flecha te acertar!

Eu sei que você não me esqueceu

O brilho de seus olhos interage com o meu.

A saudade bateu,esse amor não morreu

Estou tão certo quanto que seu coração ainda é meu.

Lembre que foi você quem quis assim

Foi você quem quis seguir tudo sem mim

O que custa tentar?Reviver um grande amor?

O que importa é que doidinho por você ainda sou

Talvez não desista mais

Talvez meu orgulho seja quem não mereça

Eu sei que como você não há mais

Mulheres tão comuns,tu és a diferença

E se um dia eu correr atrás

Terei mais uma chance?É o que me interessa.

Mas se você enfim,deixar de me amar

Recorrerei ao cupido pra outra flecha te acertar....

**************

Ao tocar a última corda,Felipe pegou o telefone de novo.

-E aí,o que achou?-perguntou enquanto deixava o violão cair no chão fazendo um enorme estrondo.

Ingrid apenas disse que o amava e que depois o ligaria.

Desligou o telefone foi chorar no banheiro,ainda mais apaixonada.

No dia seguinte,durante a festa.Os dois não se desgrudaram.E dali pra frente,uma passou a saber que,apesar de tudo,eles eram essenciais.Lipe continuou brincando.Ingrid reclamando.Mas o amor deles só aumentava,pois brigar faz parte,ofender também,mas deixar que o orgulho os impedisse de falar o que sentiam um pelo outro nunca mais fora permitido.

Depois daquela canção,Felipe ainda fez outras muitas mais.E as noites na praia cada dia foram ficando ainda mais musicais.E a história de Lipe e Didi,a história deles dois,estava começando a ter a sua própria trilha sonora.