Venha, maninha
Venha, maninha,
pro fundo desse poço.
ai, que eu não quero, não,
o poço é fundo, escuro,
não acho graça nele, não.
Então vamos, maninha,
pro meio dessa floresta.
Não posso, vamos voltar, maninha,
que eu tenho que levar o almoço
pro pai que está pra lá da estrada,
passando a encruzilhada,
no meio do cafezal.
Mas antes, maninha,
passemos no bananal,
lá não tem bicho,
assombração que assuste
menina pequena, medrosa;
lá tem é fruta gostosa
que faz dormir esse susto.
Não vê que é tarde, maninha?
Nossa mãe nos espera
debaixo da goiabeira;
quer fazer um doce
pra gente levar
pra engomadeira do vestido da noiva
que casa domingo
na capela da ribanceira,
e eu não quero perder essa festa
tão bem preparada;
vamos embora, maninha,
parece que vai chover.
Não tem nuvem nem nada, maninha,
quando o céu fica assim azulado
só chove mesmo se for lá do outro lado;
o mato está seco
e seco ainda fica até o pai dizer
da esperança dele de plantar outro café.
Mas então vamos, maninha,
vejo que você hoje
não me serve de companhia
pra nenhum medinho pequeno,
ou friozinho que dá na barriga
que nem quando a saia da gente
enrosca na cerca
e o boi magrelo
nem manso nem sosso...
maninha, aquele não é o nosso pai
esperando o almoço?
Esta ciranda é uma homenagem à minha querida irmã e companheira constante de minha infância. Um beijo, Ná.