QUEM D’ERRANÇA EM ERRANÇA

QUEM D’ERRANÇA EM ERRANÇA

Quem vai d’errança em errança

Põe a perder seu amor,

Há-de andar em desfavor

D’aquela cuja lembrança

Lhe animara em meio a dor…

Quem vai d’amor em amor

Há-de perder-se na andança…

Vivendo tão-só de esp’rança

Feito o ávido beija-flor

Que abandona quanto alcança.

D’errança em errança avança

Sem que chegue aonde for…

Pousando de flor em flor,

Se faz de eterna criança

Pelo afã de mais sabor.

D’errança em errança o ardor

O leva em ligeira dança

Em meio à desconfiança

Dos que houveram dissabor

Face à sua insegurança.

Quem, infiel da balança,

Muda de tudo o valor,

Tampouco alcança louvor.

Aliás, já vai com tardança,

Deixando só desamor.

Betim - 24 12 2020