GIORGIO CASIMIRO SE DESILUDIU Parte 8
Quando Giorgio Casimiro falou em terminar a relação naquele momento, um silêncio se fez do outro lado da linha. Ele deu uma pigarreada, perguntou se ela ainda estava ali, e a voz que lhe respondeu parecia embargada, como se estivesse segurando o choro. Ele titubeou um instante, antes de insistir, tentando demonstrar firmeza na voz. Ela lhe disse que não era bem isso, que não era pra tanto, que não queria que eles acabassem, além do que, ela ainda não havia ido até a cidade dele. Giorgio então calou-se quanto a esse assunto, disse estar feliz por ela não querer terminar, pois ele também não queria. Despediram-se, ela prometeu que no próximo fim de semana ligava, ele sorriu, desejou boa noite e reforçou nas palavras de amor. Mas algo estava diferente, ele poderia sentir isso. Procurou não pensar mais nisso, tentou convencer a si mesmo que a distância forçada era mesmo bastante estressante, que ele estaria sentindo o mesmo que ela, quase na mesma intensidade. Continuou seus planos de voltar a Porto Velho, no próximo ano, com a ajuda dos bons espíritos! Além disso, dali há alguns meses ela viria passar suas férias com ele, mais trinta ou quarenta dias juntos, poderiam matar a saudade.
A medida que o tempo passava, no entanto, as contas de telefone dele iam aumentando, já que ela ia diminuindo cada vez mais o número de ligações e de e-mails, já não mais teclavam no MSN, uma vez que outra, sempre rapidamente, assim como as cada dia mais raras ligações telefônicas. Giorgio sentia um estranho desespero crescendo dentro de si, pois ainda amava muito Karen Jessica, mas a cada vez que se falavam, ela parecia mais fria, mais distante, no entanto, se ele tentasse, de alguma forma, passar por aquele assunto que o assombrou, meses atrás, ela negava qualquer mudança de idéia, tanto a viagem quanto a relação. Mesmo assim, Giorgio não se tranqüilizava. Botava a culpa na saudade, dizia pra si mesmo e para amigos próximos, como Herberth, que tinha certeza, a saudade dela por ele era tão grande, ou maior, que a dele por ela. Mas, no fundo, não tinha certeza disso.
Enfim faltava bem pouco para ela vir ao Rio Grande, conhecer a cidade de Giorgio. Ela aparentemente voltara a sua afabilidade costumeira, estava também mais atraente, pelo menos aparentemente, chegou a falar em, “quem sabe” ter algumas carícias mais quentes... porém, o tempo combinado de visita não se deu, ela ainda disse que só poderia ficar no máximo quinze dias no Rio Grande do Sul. Giorgio perguntou-lhe se não teria trinta dias de férias, e ela disse que não, que conseguiu apenas quinze, desconversou, quando ele tentou tirar mais dela. Giorgio, mesmo assim, resolveu que iriam aproveitar ao máximo a estada dela em Gravataí, tratou de combinar com seu chefe, que por acaso era também um tio seu, umas pequenas férias de quinze dias em maio, informou-se sobre a programação das casas noturnas da região, sobre passeios no vale do Sinos, na Serra, etc., mesmo que o tempo não desse para tudo. O pouco tempo foi bem aproveitado, em termos turísticos, Giorgio Casimiro chegou a levar Karen Jessica para conhecer seus pais e alguns parentes, sempre apresentando-a como sua namorada, o que ela não desmentia, mas quando estavam juntos, sozinhos, ela não correspondia da mesma forma a seus beijos, seus carinhos, desviava o olhar quando ele falava com ela, fitando-a tão intensamente quanto da primeira vez.
Quando ela foi pegar o avião de volta para Porto Velho, a despedida não foi tão emocionante, Karen inclusive parecia um tanto ansiosa para voltar a sua cidade e ficar novamente longe dele. Giorgio inquiriu-a, querendo saber se sentiria falta dele, se iria ligar-lhe, se aquela visita era, na verdade, uma despedida definitiva, ao que ela respondeu que não, que ele não precisaria se preocupar com isso, mas não falou em uma nova visita, nem esperou que ele tentasse combinar um reencontro. Giorgio Casimiro acreditava que se planejasse o retorno a Porto Velho sem que ela soubesse, que isso seria muito romântico, mas viu que aparentemente ela não demonstrava nenhuma curiosidade quanto a seus futuros planos. Beijaram-se antes de ela embarcar, mas o beijo foi gelado e sem-graça como picolé de chuchu. De volta em casa, Giorgio sentiu uma dor terrível no peito e desatou a chorar, como um menino, não sabendo se sua tristeza era por ela estar novamente distante dele, ou pelo modo frio como ela o tratou, sem dizer se ainda estava namorando com ele ou não. Sentiu, de repente, sérias dúvidas sobre seu retorno para Porto Velho.