GIORGIO CASIMIRO SE DESILUDIU - Parte VI

Ele ficou um bom tempo olhando para Karen Jessica, sem dizer palavra, apenas procurando impor alguma ordem em seus pensamentos e sentimentos, ele estava preparado para praticamente tudo, mas não pra uma pergunta igual àquela. Sentia uma pequena e intermitente dor no peito, que não conseguia entender muito bem, sentia nas têmporas e atrás dos olhos uma estranha pulsação, a respiração parecia ficar mais rápida a cada segundo, pois o ar também parecia escapar mais rapidamente de seus pulmões, sentia descer pela coluna uma estranha sensação de frio, como se uma lâmina muito afiada estivesse lhe abrindo as costas. O desconforto era muito grande, não lhe ajudava nem um pouco a se concentrar para ordenar os pensamentos em sua mente, agora extremamente conturbada. Sentiu como se transpirasse esse desconforto, pois Karen Jessica já desviava os olhos dos seus, sentindo-se também desconfortável com a intensidade que Giorgio Casimiro lhe fitava.

Ela fez menção de reclamar do seu silêncio, mas ele foi mais rápido, bombardeou-a com uma enxurrada de palavras, qual o sentido daquela pergunta, ela não gostava dele? Não tinha gostado de Giorgio ter vindo encontrá-la? Havia outro homem, quem sabe no trabalho? O que ele tinha feito de errado, como ele poderia remediar, fosse o que fosse? Karen Jessica fez muxoxo, como se fosse chorar, disse que gostava, sim, dele, que não sabia por que tinha perguntado aquilo, não, não havia ninguém, no trabalho, ou onde quer que fosse, ele não tinha feito nada de errado, talvez o medo da distância, caso ele voltasse pra Gravataí, ela não sabia o que tinha feito com que aquela pergunta surgisse, jurava por tudo que era mais sagrado, jurava pelo seu amor! Giorgio Casimiro sentiu a respiração normalizar lentamente, mas o latejar das têmporas persistiu estranhamente. Ele contou que tinha deixado alguns currículos em empresas da cidade, uns com o seu próprio telefone, em Gravataí, como contato, outros com o telefone da casa dela, tinha esperança de que, naquela semana alguém lhe chamasse para uma entrevista, de repente ele nem precisaria viajar, se conseguisse um emprego em Porto Velho em uma semana. Ela sorriu e nada disse, seu sorriso não foi animador como Giorgio esperava que fosse.

Se deu então que no período de uma semana, ninguém chamou Giorgio Casimiro para qualquer entrevista de emprego, ele então teve de se preparar para a viagem de volta a Porto Alegre, naquele mesmo fim de semana. Comprou vários suvenires e algumas frutas amazônicas, para levar pros parentes e amigos, na viagem, tratou de combinar com Karen Jessica uma visita dela a Gravataí, dali a exatamente um ano, prometeu que ligaria assim que voltasse, e todos os fins de semana, até que se reencontrassem de novo, reafirmou seu amor, insinuou até a possibilidade de no ano seguinte voltar a Porto Velho, dessa vez para ficar.

A despedida foi bastante triste, Giorgio sentia um peso muito grande no peito, antecipando a infelicidade de ter de ficar novamente distante dela, sem poder vê-la, a não ser que por uma webcam. Ela chorou longamente em seu ombro, ele afagava seus cabelos castanhos escuros, de vez em quando beijando-lhe o shakra coronário e dizendo sempre, em voz baixa e meiga, que muito em breve estariam juntos novamente. Quando chamaram para seu vôo, a muito custo, afastou-se dela e encaminhou-se para o portão de embarque.

Às dez horas da noite embarcou no avião que iria para São Paulo, onde faria a conexão para Porto Alegre, onde então teria que pegar um ônibus que o levaria até sua cidade, Gravataí. Sentia-se estranho, como se não estivesse voltando para casa, mas sim para um país muito distante. O tempo em que ficou no aeroporto de São Paulo, no entanto, ficou extremamente ansioso por chegar logo a Gravataí, quando então poderia pegar no telefone e ligar para Karen, ouvir novamente sua voz. Seu vôo de conexão fora cancelado e ele teve que ser lotado num vôo de São Paulo para Porto Alegre com escala em Florianópolis. Começou a ficar preocupado, com um medo quase infantil de que nesse meio tempo ele acabasse não encontrando sua amada em casa, quando ligasse. Quando enfim embarcou no vôo para Porto Alegre, sentado junto à janela, Giorgio começou a sorrir. Um plano começou a formar-se, e com ele uma certeza, ele iria voltar a Porto Velho, ficaria perto de Karen Jessica. Por causa dela, lá já era a sua cidade, a sua casa.

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 13/08/2008
Código do texto: T1126671
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.