GIRGIO CASIMIRO SE DESILUDIU - Parte V
Giorgio Casimiro realmente não conseguia exprimir toda felicidade que sentia ao encontrar enfim Karen Jessica; depois de horas dentro de aviões e aeroportos, sabia que não sentia-se cansado, e que jamais sentira felicidade igual àquela em seus vinte e poucos anos. Toda dúvida que antecedera àquele encontro já tinha se desfeito a partir do momento em que seus olhos se cruzaram com os dela, e toda certeza que tinha e que lhe impelira a ir até Porto Velho, praticamente atravessando o país somente se fortaleceu naquele abraço.
Giorgio Casimiro havia se planejado razoavelmente bem para o período de 40 dias em que ficaria lá; ele comprou passagem de ida para Porto Velho e de volta para Porto Alegre, levou dinheiro para poder passear com Karen Jessica, e também para se locomover pela cidade, queria conhecê-la bem, para não depender de um guia o tempo todo; Karen Jessica disse que ele ficaria no apartamento em que morava com seu pai e os irmãos, mas ele tinha algum dinheiro, suficiente para passar pelo menos uma semana, além disso, na sua bagagem Giorgio trazia pilhas de cópias do seu currículo com uma foto 3x4 tirada na webcam do seu notebook, para deixar em algumas empresas e agências da capital rondoniense. De certa forma ele sabia que, a cada dia que passasse ali, o amor que sentia por Karen se estenderia a sua cidade.
O que saiu bastante do planejado foi uma ausência mais prolongada do que esperada de Karen Jessica, ele a via, bem dizer, apenas à noite, pois ao contrário do que combinaram, ela não tirara férias do seu trabalho, na recepção de um pequeno hotel no centro da cidade, pra desfrutarem da companhia um do outro e guiá-lo pela região, desta forma, Giorgio tinha mais contato com o pai e os irmãos dela, tornando-se amigo deles, principalmente de seu João Evangelista e do irmão mais novo dela, por quem já sentia um carinho, quase de um tio para com um sobrinho. Isso também não era planejado, mas foi bem-vindo da sua parte.
E Giorgio Casimiro procurava aproveitar ao máximo o tempo que tinha com Karen Jessica, aparentemente não se ressentia da ausência dela, pelo contrário, entendia bem a situação dela. Percebia certas atitudes dela como estranhas, mas pensava consigo mesmo que ainda estavam se conhecendo, que mesmo que via internet e telefone se conhecessem há bastante tempo, mais de um ano, na verdade, que no real ainda eram um pouco desconhecidos, além de serem de regiões muito diferentes do país—mesmo que a cultura rondoniense não lhe parecesse tão diferente da cultura campeira do seu próprio estado—talvez por isso alguns costumes sendo mutuamente estranhos. Giorgio Casimiro tinha alguma dificuldade para entender as gírias usadas por Karen Jessica e vice-versa. Além disso, tinha dias em que, mesmo com o distanciamento forçado pelo trabalho dela, ela aparentemente se ressentia dele procurar ficar o máximo de tempo possível próximo dela.
Quando começou a aproximar-se o dia marcado para o retorno de Giorgio Casimiro para sua terra, ela começou a parecer mais interessada nele, mais aberta a seus carinhos, buscando mais proximidade. Numa noite, após irem ao cinema, assistir a um filme brasileiro, dum diretor gaúcho, estavam os dois tomando sorvete na praça de alimentação de um shopping, quando ela fez uma pergunta que lhe pareceu estranha: “Giorgio... se acabassem um namoro contigo, como preferia que fosse... pessoalmente, por telefone, ou por e-mail?”