GIORGIO CASIMIRO SE DESILUDIU Parte IV

Uma semana antes da viagem, que seria na sexta-feira de carnaval, Giorgio Casimiro reuniu-se com dois de seus melhores amigos para uma espécie de despedida. Ele já havia comprado as passagens de ida e volta, uns cinco dias antes. Entre uma cerveja e uma porção de coração de galinha com farofa, Herberth, o amigo que morava no mesmo bairro dele, uma ou duas quadras da sua casa, lhe perguntou: “E aí? Se tu casar com a pinta, como é que vai ser? Tu vai ficar por lá, ou vai trazer ela pra cá?”

Giorgio Casimiro não tinha ainda uma resposta formulada, mas é claro que já pensara bastante sobre o assunto. Só não tinha uma resolução, nem mesmo pra ele mesmo. O lugar mais distante de sua cidade que ele conhecera era Torres, nunca saíra das divisas do seu estado, ou melhor, saíra, mas quando era muito pequeno, quando seu pai levou a família para a Oktoberfest em Blumenau, ele nem se lembrava direito... ele já ouvira dizer que Rondônia tinha uma cultura semelhante a do sul do país, pois fora colonizado principalmente por gaúchos, paranaenses e paulistas, mas não sabia nada ainda. Além disso, em Porto Velho não fazia o mesmo frio que em Gravataí, no inverno, não sabia se Karen Jessica se adaptaria ao instável clima gaúcho, em que, numa semana faz calor de quase 35 graus e no fim de semana, após uma chuvinha de molhar bobo, a temperatura caía a quase zero. Ele mesmo não gostava muito dessas mudanças tão bruscas de tempo, mas nascera ali, já estava acostumado. Resolveu brincar com o amigo: “Não sei, quem sabe eu fique por lá!” Herberth já conhecia melhor o país, já trabalhara como ajudante de um caminhoneiro, e já viajara até o Pará, mas pra ele se tu nasceste num determinado lugar, tu deves continuar ali, era contra esse negócio de migração. Ficara profundamente chateado com Giorgio, mas este não levou sua mágoa a sério.

Na sexta de carnaval a ansiedade de Giorgio não o deixara dormir, arrumando as malas, teve todo cuidado pra não esquecer absolutamente nada, e às 6 horas da manhã já estava pronto... para embarcar no vôo, que partiria de Porto Alegre às 9:45h! Nunca voara de avião antes, mas isso não lhe deixava nem um pouco nervoso, apesar daquele acidente do Boeing com o jatinho americano, o nervosismo que sentia era todo sobre o momento em que fosse desembarcar no aeroporto de Porto Velho, quando enfim veria ao vivo a sua maior paixão. O vôo saiu uma meia hora atrasado de Porto Alegre, e Giorgio, ao desembarcar, teve que correr em desabalada carreira para pegar o outro avião, na conexão, no aeroporto de Guarulhos. Mas ainda conseguiu, e aproximadamente às 6 horas da tarde, enfim, desceu no pequeno e acanhado aeroporto de Porto Velho. Em quase 10 minutos Giorgio já tinha percorrido o aeroporto inteiro de uma ponta a outra, e sentou-se na mesinha de uma cafeteria com um copinho de capuccino, enquanto esperava por sua amada. Um momento ficava de olho nas pessoas que entravam e saíam do aeroporto para a cidade, outro momento folhava um Estadão que ganhara de brinde no avião, isso demorou uns 20 minutos, até que ela chegou.

Abraçaram-se fortemente, Giorgio Casimiro sentiu os corações batendo quase que conjuntamente, sentiu que ficara sem voz. O perfume adocicado dos cabelos de Karen Jessica penetraram pela primeira vez as fossas nasais de Giorgio, a pele do seu rosto tocou o dele, e sentiu que era suave, quase como de um pêssego. Os dois falaram praticamente ao mesmo tempo “Estou muito feliz por estar aqui!”

Ayrton Mortimer
Enviado por Ayrton Mortimer em 08/08/2008
Código do texto: T1118916
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