GIORGIO CASIMIRO SE DESILUDIU Parte III
Pois sucedeu-se que a relação virtual de Giorgio Casimiro com Karen Jessica estava evoluindo bem e, de certa forma, mais rápida do que todas as relações, virtuais ou reais que ele tivesse tido ao longo dos seus vinte e poucos anos. Na verdade, Giorgio tivera poucos namoricos na escola, nenhum passando de dois meses entre os dois ou três que tivera. Relacionamentos platônicos eram mais a especialidade de Giorgio Casimiro, se contasse esses, ele com certeza teria muita experiência em relacionamentos. Só que não tinha, de forma que estava completamente concentrado num namoro com uma mulher que vivia há milhares de quilômetros da sua casa. Mas Giorgio Casimiro não se importava com a distância, sentia que pela primeira vez estava realmente apaixonado por Karen Jessica e tinha absoluta certeza que a emoção era recíproca. Era totalmente fiel a ela, não mais assistia filmes adultos na madrugada no seu aparelho de DVD, não entrava mais na internet a não ser para acompanhar as notícias (ele preferia o jornal da internet do que o da Globo), ouvir rádio, afinal aquela rádio universitária lá de São Leopoldo não chegava tão bem em Gravataí. Baixava músicas e vídeos musicais, mas só aqueles que achava que eram do gosto de Karen Jessica. Giorgio, por exemplo, nunca fora muito ligado em rock australiano, e nos últimos meses se convertera em grande fã de Gang Gajang, banda oitentista australiana que Karen Jessica dizia amar e que lhe recomendara.
Ele estava feliz como jamais estivera em toda vida, sentia-se também mais seguro de si, mais confiante, tinha absoluta certeza de que encontrara enfim a mulher de sua vida, de que ele também era o homem certo para Karen, cada dia convencia-se mais que custasse o quanto custasse, seus planos dariam certo e no próximo carnaval iria encontrar-se com sua amada lá em Rondônia. Já estava economizando dinheiro, tivera que fazer uns sacrifício, Giorgio já não comprava mais tantos gibis da Marvel quanto antes, nem foi a Porto Alegre na época da Feira do Livro de lá, quando ele passava uma tarde passeando por cada banca e sempre levava pra casa alguma preciosidade literária perdida em algum balaio de saldos, muito bem garimpada e pechinchada. Não alugava mais tantos filmes quanto antes, sempre que estava em casa, ou estava na internet, esperando para falar com ela pelo MSN, ou grudado no telefone. Sentia-se culpado se, num sábado à noite chegasse depois das 10 horas, tinha medo que ela tentasse ligar-lhe e ele não estivesse em casa para atender, o volume do seu celular estava sempre no máximo, mesmo no cinema, ou na reunião da Federação Espírita, que freqüentava uma vez por semana, pois temia que ela ligasse e pensasse o pior, caso ele não atendesse. Se por acaso passasse uma bela garota, e ele olhasse, e pior, ela olhasse de volta e sorrisse, pronto, ele sentia-se como se tivesse traído Karen, e recriminava-se sempre que isso acontecia. Então se concentrava ainda mais na sua relação à distância, e pensava ainda mais, e mais apaixonadamente, em Karen.
No fim do ano, já tinha uma boa quantia para Giorgio Casimiro visitar Karen Jessica em Porto Velho, já teria como ficar na cidade sem maiores problemas, de repente teria como conhecer bem a cidade, desde que usasse mais o ônibus que o taxi, essas coisas... mas para a passagem aérea é que ainda não tinha o suficiente. Mas estava bastante seguro de que era o melhor momento para ir, então conseguiria a grana com amigos, parentes, etc. E Giorgio pesquisou na internet, agências de viagens e empresas aéreas, até de ônibus, de repente, mesmo demorando mais, fosse mais barato, pelo preço das passagens. No mês aprazado, Giorgio Casimiro ligou para Karen Jessica e avisou: na sexta-feira anterior ao carnaval, ele estaria chegando em Porto Velho, já tinha as passagens! O coração estava quase saindo pela boca, e a voz dela demonstrava quase não acreditar, a emoção era muito grande, ele pensou que ela estava prestes a chorar. Giorgio Casimiro estava mais do que feliz, estava ansioso, ficou assim a semana toda, até o dia de embarcar.