GIORGIO CASIMIRO SE DESILUDIU - PARTE I
Parte I
Giorgio Casimiro era um cara muito na dele, não saia muito, gostava de assistir filmes em casa, pois não gostava muito de cinemas de shopping centers, eram muito cheios, além do que, o preço da pipoca com refrigerante era praticamente proibitivo, ainda mais na sua cidade, Gravataí, um tanto distante da capital, com o agravante de não ter metrô até Porto Alegre, e ele não ter carro, nem saber mais dirigir. Ele também não tinha muitos amigos, somente alguns, com quem saía de vez em quando para assistir aos jogos de seu time num bar próximo. Perto de sua casa haviam muitos bailões e clubes, e por conta disso ele não dormia muito no fim de semana, não que ele fosse um freqüentador contumaz de bailões, muito pelo contrário: Giorgio Casimiro simplesmente odiava bailões e clubes! Por ele, todos aqueles bailões próximos às paradas de ônibus já teriam explodido. Por conta desses bailões tão próximos de sua casa, Giorgio Casimiro passava uma boa parte das noites de sextas e sábados na internet. Pela rede, ele tinha muitos amigos, em várias paragens não só do Rio Grande, como do país. Fora do seu Estado e da sua cidade, ele tinha ainda mais amigos, talvez não tão confiáveis, nem tão presentes quanto aqueles poucos que ele tinha desde os tempos de escola, graças ao Orkut, MSN e chats de internet.
Numa bela noite chuvosa e fria de inverno, os bailões e clubes não estavam muito animados, muitos estavam fechando cedo, Giorgio Casimiro enfim teria uma boa noite de sono de sexta para sábado, como não tinha há muitos anos, mas por um daqueles felizes acasos, para quem acredita neles, o rapaz emendou, por volta de 11 horas da noite, uma conversa com duas garotas de dois Estados, uma que não morava tão longe, era de Maracajá, uma pequena cidade próxima de Criciúma, no interior de Santa Catarina, a outra, aquela que com uma pergunta tão prosaica acabou lhe chamando mais a atenção, talvez por ele jamais ter imaginado que alguém daquelas paragens fosse um dia fazer aquele tipo de pergunta: “Alguém aí ‘curte’ Jimmy Page?”, perguntou ela, de forma aleatória. Seu apelido na sala de bate-papo era Mulher Gato, uma personagem de histórias em quadrinhos, inimiga e affair do Batman. Ele estava usando como apelido o nome de um craque de seu time: “Guiña”. Nossa, Jimmy Page era o maior guitarrista do mundo de todos os tempos para Giorgio Casimiro, pra ele sem Page o Led Zeppelin não teria sido sequer metade da banda que foi. Ele resolveu responder: ele adorava Jimmy Page! Perguntou de onde ela falava, descobriu que a moça era de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia, tinha uns dois anos menos que ele, uns 15 centímetros menos que ele, quadris razoavelmente largos e boca pequena, isso segund0 a descrição dela.
Lá pelas 3 horas da madrugada os dois decidiram que o papo estava muito bom, mas era hora de parar. Combinaram, então, de voltar àquela mesma sala de bate-papo na outra noite. O papo iria render, sem dúvida.