Adeus Tilim
A Meirinha era legal demais! Alegre, comunicativa, conhecida de quase todo mundo do bairro e mais outro tanto na cidade inteira. Trabalhou no comércio durante muito tempo e ficou amiga de muita gente. Festas populares, não perdia uma. Era chamada para todas as festas de amigos, dava notícia de todas as roupas, chapéus e toda a sorte de situações engraçadas, gafes dos outros, enfim, sabia tudo e fazia muito barulho. Nascia uma criança, lá vai a Meirinha; adoeceu alguém, lá vai a Meirinha; casamento nem se fala e enterro então, não perdia mesmo! Entrava muito séria, se acomodava perto de uma amiga, as outras iam chegando e o furdunço estava formado com toda a força da língua de todas e no meio disso tudo, um terço pelo defunto.
Um belo dia, desses que a gente nada faz, chegou uma triste notícia: morreu o Tilim, um vizinho mais distante, gente boa, tinha família, endereço certo, mas não dispensava o famoso gole e com isso, revelou-se o maior pinguço da paróquia e só Deus sabe o motivo do piripaque. Caiu de maduro ou de maturado, ninguém sabe. A Meirinha se ajeitou toda, e:”Pernas pra que te quero”. Foi tão rápida que chegou primeiro e com os parentes lá pra dentro chorando, ela ficou na sala simples, que fora esvaziada para maior comodidade de quem viesse; sozinha um tempo com o defunto, meio sem graça e até aí, ficou calada, pois não dava para falar com ele. E depois também, ele poderia responder e aí seria um “Deus nos acuda”. Então chegou a turma das noitadas do Tilim, todos muito consternados e no meio deles o Zé do Bode, que ninguém sabe se era assim chamado pelo cheiro característico, ou se era porque ele brigava à toa e as conversas com ele sempre davam o maior “bode”. Ele chegou já bem encharcado, cumprimentou as pessoas e veio se alojar ao lado de Meirinha.
- Coitado né? Foi-se embora o meu amigo!
E ela: - É... Coitado mesmo! Mas agora a gente só pode rezar por ele e pronto.
E a conversa que é sempre a mesma em quase todo velório, foi se estendendo pela noite adentro com lembranças das façanhas do morto, no bairro e no tempo de criança e foram se exaltando e falando cada vez mais alto. Aconteceu que o Zé não se agüentava de pé; cambaleava para trás e escorava na parede, cambaleava para o lado e segurava no ombro do coitado mais próximo, ou ia à frente, parecendo que ia dar uma cabeçada no defunto. Na Meirinha ele não tocava, pois ela era uma moça de respeito e eles eram amigos de infância. Mas aconteceu também que o papo esquentou e o falatório foi tanto, que num dos arroubos do discurso do Zé, ele dançou um pouquinho e caiu pra cima da Meirinha, que perdeu o equilíbrio e lá se foram os dois em cima do defunto que, obviamente indefeso, só teve o trabalho de cair de lado com o caixão e os dois amigos. Aí chegou a turma do: “conta comigo” e corre daqui e corre de lá, os homens presentes, quem sabe sóbrios, foram rápidos, pegaram a Meirinha e puseram em pé, pegaram o Zé do Bode e puseram deitado num canto da sala e cataram rapidamente as duas colunas e o caixão, que compunham o esquife do pobre Tilim que por pouco não sai do lugar do seu último repouso.
Depois desse “meu Deus o que é isso”, a Meirinha que estava roxa de vergonha, teve um ataque de riso fora de hora e lugar e foi levada para dentro até se recompor, enquanto visitas e parentes olhavam atônitos e sem entender nada.
Uma das amigas se ofereceu para ir com ela até em casa e ela foi se lamentando pela noite enluarada.
- Por que será que acontecem coisas assim comigo? Acho que o Zé falou demais e eu fiquei tonta. E a amiga completou.
- Não, eu acho que você falou demais e o Zé ficou mais tonto ainda.
A Meirinha era legal demais! Alegre, comunicativa, conhecida de quase todo mundo do bairro e mais outro tanto na cidade inteira. Trabalhou no comércio durante muito tempo e ficou amiga de muita gente. Festas populares, não perdia uma. Era chamada para todas as festas de amigos, dava notícia de todas as roupas, chapéus e toda a sorte de situações engraçadas, gafes dos outros, enfim, sabia tudo e fazia muito barulho. Nascia uma criança, lá vai a Meirinha; adoeceu alguém, lá vai a Meirinha; casamento nem se fala e enterro então, não perdia mesmo! Entrava muito séria, se acomodava perto de uma amiga, as outras iam chegando e o furdunço estava formado com toda a força da língua de todas e no meio disso tudo, um terço pelo defunto.
Um belo dia, desses que a gente nada faz, chegou uma triste notícia: morreu o Tilim, um vizinho mais distante, gente boa, tinha família, endereço certo, mas não dispensava o famoso gole e com isso, revelou-se o maior pinguço da paróquia e só Deus sabe o motivo do piripaque. Caiu de maduro ou de maturado, ninguém sabe. A Meirinha se ajeitou toda, e:”Pernas pra que te quero”. Foi tão rápida que chegou primeiro e com os parentes lá pra dentro chorando, ela ficou na sala simples, que fora esvaziada para maior comodidade de quem viesse; sozinha um tempo com o defunto, meio sem graça e até aí, ficou calada, pois não dava para falar com ele. E depois também, ele poderia responder e aí seria um “Deus nos acuda”. Então chegou a turma das noitadas do Tilim, todos muito consternados e no meio deles o Zé do Bode, que ninguém sabe se era assim chamado pelo cheiro característico, ou se era porque ele brigava à toa e as conversas com ele sempre davam o maior “bode”. Ele chegou já bem encharcado, cumprimentou as pessoas e veio se alojar ao lado de Meirinha.
- Coitado né? Foi-se embora o meu amigo!
E ela: - É... Coitado mesmo! Mas agora a gente só pode rezar por ele e pronto.
E a conversa que é sempre a mesma em quase todo velório, foi se estendendo pela noite adentro com lembranças das façanhas do morto, no bairro e no tempo de criança e foram se exaltando e falando cada vez mais alto. Aconteceu que o Zé não se agüentava de pé; cambaleava para trás e escorava na parede, cambaleava para o lado e segurava no ombro do coitado mais próximo, ou ia à frente, parecendo que ia dar uma cabeçada no defunto. Na Meirinha ele não tocava, pois ela era uma moça de respeito e eles eram amigos de infância. Mas aconteceu também que o papo esquentou e o falatório foi tanto, que num dos arroubos do discurso do Zé, ele dançou um pouquinho e caiu pra cima da Meirinha, que perdeu o equilíbrio e lá se foram os dois em cima do defunto que, obviamente indefeso, só teve o trabalho de cair de lado com o caixão e os dois amigos. Aí chegou a turma do: “conta comigo” e corre daqui e corre de lá, os homens presentes, quem sabe sóbrios, foram rápidos, pegaram a Meirinha e puseram em pé, pegaram o Zé do Bode e puseram deitado num canto da sala e cataram rapidamente as duas colunas e o caixão, que compunham o esquife do pobre Tilim que por pouco não sai do lugar do seu último repouso.
Depois desse “meu Deus o que é isso”, a Meirinha que estava roxa de vergonha, teve um ataque de riso fora de hora e lugar e foi levada para dentro até se recompor, enquanto visitas e parentes olhavam atônitos e sem entender nada.
Uma das amigas se ofereceu para ir com ela até em casa e ela foi se lamentando pela noite enluarada.
- Por que será que acontecem coisas assim comigo? Acho que o Zé falou demais e eu fiquei tonta. E a amiga completou.
- Não, eu acho que você falou demais e o Zé ficou mais tonto ainda.