Louco por um Rabo
Louco por um rabo
A cidade no interior do Rio Grande do Sul era tão pequena que só tinha um açougue, o inverso do estabelecimento era seu nome...o pomposo: “Casa de Carnes N.Sra. do Perpetuo Socorro”, um cômodo pequeno de uma só porta, um pequeno balcão e uma geladeira de duas portas.
Era pequeno mas limpinho, dizia orgulhoso o açougueiro Otto, o dono, de origem alemã, como quase todos naquele lugar.
Otto era tipo grande, de todas as maneiras possíveis, alto, gordo sempre sorrindo e falando alto como seu corpanzil.
Nessas cidades pequenas normalmente tem uma só agencia de banco e lá não era diferente, tinha uma, do Banco do Brasil.
Como os funcionários vem de concursos, tinha gente de varias partes do Brasil naquela pequena agência.
O ultimo funcionário transferido para lá foi o Gilson, um carioca moreninho de estatura pequena e recém casado com a Fernanda, também carioca.
Ali estavam vivendo longe dos familiares de ambos e já se passavam uns meses, curtindo a lua de mel na tranqüilidade dos pampas.
Um belo dia a Fernanda, viajou em socorro a sua irmã que daria a luz em Porto Alegre.
Com a viagem da Fernanda que passaria pelo menos uma semana fora, o Gilson que já estava apelidado de carioca, foi até o açougue do Otto.
-Diga lá “carioca” em que posso servir o amigo?
-Sabe seu Otto, eu gosto muito de rabada, mas minha mulher odeia...não gosta do cheiro, da carne e jamais faz rabada pra mim. Então como ela vai ficar uns dias fora, pensei em fazer uma rabada com polenta, afinal também dou uns pulinhos na cozinha...
-Bah Tchê, aqui chamamos só de “rabo” mesmo, e eu também gosto com aipim...rabo com aipim.
Vou ver se consigo um rabo pra você amanhã, porque hoje não tem não, tudo bem?
Meio decepcionado o Carioca acenou positivamente, e voltaria no outro dia para pegar o seu tão sonhado “rabo”.
Dia seguinte, esta lá o carioca atrás do rabo...afinal a quanto tempo estava sem comer um rabo.
-E então seu Otto, já chegou a carne do dia?
-Bah, chegou, mas carnearam uma novilha que tinha o rabo cortado, então fiquei sem o rabo...só depois de amanhã., pode ser?
Meio desanimado o carioca deu meia volta e foi embora.
Dois dias depois, sonhando em comer o tal rabo, voltou ao açougue.
-E ai Otto, é hoje que vou comer o rabo?
-Bah guri, pois não é que eu dei uma saída e minha mulher vendeu o teu rabo...
-Tudo bem, acenou o carioca, venho outro dia.
Passados mais alguns dias e nada do carioca aparecer...
Eis que no sábado, o açougue cheio de gente e no balcão seu Otto percebe que do outro lado da rua esta passando nada mais nada menos que o carioca...e havia um rabo guardado pra ele.
Lá do balcão do açougue no meio daquela gente toda, o Otto gritou para o carioca...
-Hei carioca...ainda quer comer o rabo? Hoje tem um bem gostoso, do jeito que você gosta.
Meio sem graça, gritando de volta, bem constrangido respondeu o carioca.
- Obrigado seu Otto, mas agora não precisa mais...minha mulher já voltou!