Ilusão e desilusão
Se te disserem que há um tesouro escondido num país longínquo, e se te dispuseres a perder anos à procura dessa suposta riqueza, não te sentirás triste no momento de assumires a derrota, no momento em que descobrires que não há nada, rigorosamente nada, para além dos teus olhos e de um buraco na terra? Se passares vinte anos com uma só mulher, e vires a descobrir que, apesar de toda a tua dedicação, ela sempre te foi infiel, como reagirás?
«Tapo a cara com as mãos e começo a chorar.»
É importante dizer-se que o choro costuma ser apanágio de quem se sente vencido. Perder as ilusões é uma pessoa – tu, marido traído – olhar para o presente com a certeza de que nada no passado valeu a pena. É não ter esperança nos dias que estão por vir. Repara: vives vinte anos com uma mulher, deixas de existir para ser ela, perdes amigos, conhecidos, família. No final (há sempre um), apanha-la a trair-te. Não poderás deixar de sofrer muito.
«Quero chorar.»
A parte mais idiota da desilusão é a ilusão. É escreveres textos com sentimentos bonitos.
«Olhar para uma mulher e querer que ela me pertença. Querer abraçar uma mulher como se não houvesse outra igual. Olhar para uma mulher com a certeza de que é ela, ELA, a tal. Tentar tratar uma mulher de modo especial.»
Não se pode dizer que um homem não tenha direito a cometer erros, por vezes, erros crassos, mas erros, sempre erros. O homem é feito de erros, de imperfeições. O que não se pode dizer é que a vida tenha sido feita para que pessoa X gaste o seu tempo a perdoar pessoa Y ou vice-versa. Não podes perdoar as traições da mulher que te trai, assim como não te podes perdoar pelo facto de escreveres coisas apaixonadas.
«A paixão é humana.»
E o sexo.
«A única solução para mim é a morte.»
A melhor forma de ultrapassar a ilusão é passar pela desilusão e, mais do que isso, pôr a desilusão no papel, escrever um texto.
«Ódio, raiva, cólera, ver uma mulher e querer chorar, chorar, como se fosse um bebé com dor de dentes, como se fosse uma pequena criança toda borrada, com fezes até às orelhas. Olhar para uma mulher com vontade de apedrejá-la, de matá-la, de lhe estoirar os miolos com os punhos.»
Importante mesmo é saber o seguinte: quanto mais a tentares esquecer, mais presente ela estará.