VENÂNCIO E SUAS PRESEPADAS

Venâncio é um sujeito matreiro. Seu costume de mentir deslavadamente já não pega  de surpresa um só habitante de sua cidade. Certo dia eu estava no banco e como era novo na cidade e não  o conhecia, ele aproveitou a ausência do gerente e começou a contar vantagens. Disse que era sócio de dois irmãos numa empresa de transportes que contava com mais de uma dezena de carretas que puxavam soja e arroz de Goiás para São Paulo.

O gerente do banco retornou, entregou um papel para Venâncio que saiu de fininho. Falei para o gerente que admirava pessoas empreendedoras  como aquela que acabara de sair. O gerente  levou às mãos à cabeça e desabafou: __ Não vai me dizer que o Venâncio falou uma das mentiras dele para você? Eu mencionei que o gajo afirmou ser sócio de uma empresa de transportes com mais de uma dezena de carretas.

O gerente me disse: Esse cara é malandro, é 171 e o banco já nem libera mais talões de cheques para ele. Ele tem um caminhãozinho usado e que está com mandado de busca e apreensão, mas ninguém localiza nem o caminhão e nem o próprio Venâncio.

Uma das presepadas de Venâncio passou-se em Ribeirão Preto. Ele encostou o caminhão num posto de gasolina e depois de encher o tanque de óleo diesel, foi até o caixa para preencher o cheque. Repentinamente,  bradou enfurecido com a exposição de um cheque que estava preso por fita adesiva nas quatro pontas, sobre uma folha de sulfite. Outros cheques também estavam na mesma situação e em cima o título em letras grandes: MAUS PAGADORES.

Venâncio disse que conhecia o emitente do cheque e que este era uma ótima pessoa e por isso, se dispunha a englobar o valor daquele título no cheque que iria preencher para pagar a despesa de combustível e que procuraria pelo amigo para ser ressarcido.

O responsável pelo posto agradeceu e entregou o cheque já amarelecido e prescrito, diga-se de passagem. Poucos dias depois, o cheque de Venâncio voltou sem fundos enquanto que o cheque que ele resgatou , de emissão do seu amigo, foi pago, pois o emitente era gente boa mesmo. Ele havia dado o cheque para um caminhoneiro que repassou para o posto de gasolina. A conta bancária foi encerrada sem  que o correntista atentasse para o fato de haver um cheque pendente.

O dono do cheque acabou pagando o valor do cheque e até agradeceu Venâncio, pois estava encontrando problemas com a inscrição de seu nome na SERASA. Como Geraldo, o emitente do cheque teve que procurar o Posto em Ribeirão Preto para obter uma declaração, ao saber do golpe de Venâncio, denunciou o endereço deste  ao  dono do posto e dias depois a polícia estava atrás do estelionatário.

Em outra ocasião, Venâncio vinha com seu caminhão aventureiro pela Rodovia Waschinton Luiz, no sentido de São Carlos – Cordeirópolis e quando passava pelo trecho de Rio Claro, deu de cara com um congestionamento de uns dois quilômetros, mas como não estava a fim de atrasar sua viagem, foi rodando pelo acostamento, mas de repente, viu um carro da Polícia Rodoviária parado e uma certa multidão curiosa  que se postava sobre o asfalto, bem onde começava a fila de veículos.

Um dos policiais vendo a imprudência de Venâncio, chegou até onde estava o caminhão e foi logo pedindo os documentos e alertando que ele seria autuado por rodar pelo acostamento. Venâncio começou a dizer para o policial que só veio pelo acostamento por extrema necessidade, pois fora informado pelo rádio do caminhão  que um primo seu tinha se envolvido num acidente e que estava morto sobre a via. O policial fez uma cara de espanto e convidou Venâncio para ir até o local onde estava a vítima. Quando Venâncio venceu a multidão de curiosos, viu sem vida sobre o asfalto, um cavalo que fora atropelado. Venâncio não perdeu a pose e disse para o guarda: ___ Como pode ? Me passaram um trote!