Coisas de menino - giselle sato
Menino da roça quando vem correndo assustado do pomar é porque mexeu em casa de marimbondo, abelhas ou vespa. Se aparece todo molhado, com certeza estava nadando no riacho ou na cachoeira.
Eu tenho um menino levado que mal termina uma "arte", corre para aprontar a seguinte. Os avós dizem que é saúde, eu acho que é falta de castigo, mas a nossa velha cozinheira Dona Ana é quem finaliza:- "São coisas de menino"
E o menino nunca cansa de brincar com os cachorros, correr atrás das galinhas, ser atacado pelo galo, ver os porquinhos no chiqueiro disputando a comida ou andar á cavalo. Sempre pede mais um pedaço do bolo de fubá morno, não espera esfriar o café com leite e assopra com força respingando a toalha de mesa. Derrama "afobado" o copo de suco de goiaba e faz "cara de coitado"
Meu pai arma o tabuleiro de damas e ficam horas jogando e discutindo as regras.
Ensina o jogo de xadrez e João explica as regras do futebol de botão. Organizam campeonatos e convidam os filhos dos empregados da fazenda. No final há medalhas para todos e ninguém sai triste.
Há torneio de bola de gude, competição de pipa e pião. Até pescaria virou brincadeira. A criançada ficou mais alegre e meu pai remoçou anos no papel de juiz de todas as disputas. Minha mãe deu um apito de presente e eu o boné preto com as iniciais da fazenda Santa Rita. Uma figura e tanto nos dias festivos, papai cercado pela molecada tentando organizar a bagunça.
Ouço as risadas , soam como música e sinto uma grande paz.
Deixamos a cidade grande e voltamos para o interior, os primeiros meses na fazenda foram difíceis. Somos professores e eu comecei a dar aulas de reforço em casa para os meninos das redondezas.
Meu marido abriu uma lojinha na cidade mais próxima e vende produtos da fazenda: doces, compotas, biscoitos, café, queijo e outras delícias. Por enquanto quer distância das salas de aula.
Acordamos cedo e João pega carona com o pai até a escola , antes mal se viam, hoje são grandes amigos. Comecei a aprender a cozinhar e já arrisco um docinho mais simples.
Jantamos juntos e passamos os finais de semana redescobrindo a vida, caminhando, pedalando ou simplesmente lendo um bom livro na varanda.
João ganhou um cabritinho e está todo bobo, quer começar a criação e planeja a compra de uma fêmea, meu pai acha que estamos transformando o lugar em um grande zoológico. Mas seu tanque de tilápias vai "muito bem obrigado".
Não saberia viver mais na capital, adoro olhar as montanhas e meu filho crescendo cercado de carinho, brincando sua infância sem medo da violência e maldade. Gosto de abraçar minha família e alimentar meus bichos. Acompanho minhas verduras crescendo, planto flores nos canteiros e colho capim limão para um chá.
Talvez eu precisasse apenas deste silêncio para encontrar a paz que tanto ansiava, sinto que aqui na roça estou mais pertinho de Deus.
É só uma sensação boa, coisa de gente simples, que anda descalça e sente a terra, come fruta do pé, fica feliz quando chove e agradece todos os dias o milagre da vida.
Menino da roça quando vem correndo assustado do pomar é porque mexeu em casa de marimbondo, abelhas ou vespa. Se aparece todo molhado, com certeza estava nadando no riacho ou na cachoeira.
Eu tenho um menino levado que mal termina uma "arte", corre para aprontar a seguinte. Os avós dizem que é saúde, eu acho que é falta de castigo, mas a nossa velha cozinheira Dona Ana é quem finaliza:- "São coisas de menino"
E o menino nunca cansa de brincar com os cachorros, correr atrás das galinhas, ser atacado pelo galo, ver os porquinhos no chiqueiro disputando a comida ou andar á cavalo. Sempre pede mais um pedaço do bolo de fubá morno, não espera esfriar o café com leite e assopra com força respingando a toalha de mesa. Derrama "afobado" o copo de suco de goiaba e faz "cara de coitado"
Meu pai arma o tabuleiro de damas e ficam horas jogando e discutindo as regras.
Ensina o jogo de xadrez e João explica as regras do futebol de botão. Organizam campeonatos e convidam os filhos dos empregados da fazenda. No final há medalhas para todos e ninguém sai triste.
Há torneio de bola de gude, competição de pipa e pião. Até pescaria virou brincadeira. A criançada ficou mais alegre e meu pai remoçou anos no papel de juiz de todas as disputas. Minha mãe deu um apito de presente e eu o boné preto com as iniciais da fazenda Santa Rita. Uma figura e tanto nos dias festivos, papai cercado pela molecada tentando organizar a bagunça.
Ouço as risadas , soam como música e sinto uma grande paz.
Deixamos a cidade grande e voltamos para o interior, os primeiros meses na fazenda foram difíceis. Somos professores e eu comecei a dar aulas de reforço em casa para os meninos das redondezas.
Meu marido abriu uma lojinha na cidade mais próxima e vende produtos da fazenda: doces, compotas, biscoitos, café, queijo e outras delícias. Por enquanto quer distância das salas de aula.
Acordamos cedo e João pega carona com o pai até a escola , antes mal se viam, hoje são grandes amigos. Comecei a aprender a cozinhar e já arrisco um docinho mais simples.
Jantamos juntos e passamos os finais de semana redescobrindo a vida, caminhando, pedalando ou simplesmente lendo um bom livro na varanda.
João ganhou um cabritinho e está todo bobo, quer começar a criação e planeja a compra de uma fêmea, meu pai acha que estamos transformando o lugar em um grande zoológico. Mas seu tanque de tilápias vai "muito bem obrigado".
Não saberia viver mais na capital, adoro olhar as montanhas e meu filho crescendo cercado de carinho, brincando sua infância sem medo da violência e maldade. Gosto de abraçar minha família e alimentar meus bichos. Acompanho minhas verduras crescendo, planto flores nos canteiros e colho capim limão para um chá.
Talvez eu precisasse apenas deste silêncio para encontrar a paz que tanto ansiava, sinto que aqui na roça estou mais pertinho de Deus.
É só uma sensação boa, coisa de gente simples, que anda descalça e sente a terra, come fruta do pé, fica feliz quando chove e agradece todos os dias o milagre da vida.